segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Luz e perspectiva




“A luz é a minha matéria-prima, a perspectiva a minha ferramenta”.

Esta é a expressão que define a minha relação com a fotografia. Tanto uma quanto a outra são as bases para o que faço.

E se quanto à luz não tenho dúvidas de que prefiro a luz que vem de lá, de frente para o fotógrafo, já quanto à perspectiva é-me bem mais difícil de definir qual a minha perspectiva preferida.

Fiz várias vezes um exercício com amigos e compinchas, antes do advento do digital: um local (praça, rua, “vila”), um tempo (uma hora, duas horas), um número de exposições (24 ou 36). Tudo isto para ser cumprido, cada um por si, sem intervenções reciprocas nem outros limites que os acima descritos e a visão de cada um.

Sendo certo que cada um de nós possuía várias objectivas (as zooms ainda não eram tão populares quanto hoje) acabávamos por constatar que as opções eram bem distintas. Havia quem preferisse fotografar com quase extremo grande-angular 24mm; havia quem optasse pela omnipresente  50mm; havia quem se baseasse em pequena teleobjectiva. A minha preferida era uma 90mm. Por vezes uma 135mm.

Estas opções individuais implicam, como se sabe, menores ou maiores distâncias aos assuntos e não apenas o quanto dele se vê. E esta distância de trabalho, se excluirmos as limitações que nos possam ser impostas pelo local, são esclarecedoras sobre a forma como quem fotografa se relaciona com o mundo.

Se não nos esquecermos que “a câmara fotográfica mostra tanto ou mais do que acontece atrás dela que à frente dela”, há todo um montão de tratados de psicologia, sociologia, antropologia e outras coisas acabadas em “ia” que se podem escrever sobre a matéria.

Por mim, e com o passar dos anos, continuo a gostar de trabalhar com meia-tele. Ou mesmo uma telobjectiva potente. Claro que há situações em que estou limitado pela objectiva que tenho disponível ou pelo espaço de trabalho.

Nestas ocasiões, o meu “gozo” é encontrar soluções técnicas e estéticas para, com o ângulo de visão disponível, conseguir contar o que quero.

Noutras, a história só se conta mesmo com uma grande angular, que me coloca e ao espectador dentro da acção, transmitindo para além de qualquer dúvida o que sinto. Este é um exemplo.

 

Posto tudo isto fica aquela pergunta incómoda porque a maioria dos que usam fotografia, creio eu, não pensou nisto: Qual a distância focal que preferem?


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