Dei por ele quando contornou o coreto. E o meu olhar parou
nele porque tinha uma mochila técnica com um tripé preso de lado. “Um cão
reconhece outro cão”, como diz o povo.
Mas eu estava sentado num banco, a tentar encontrar em mim
ou em redor um espírito anímico que não encontrava. Conheço muito bem aquele
jardim, mas já lá não ia há uns anos, bem desde antes do início da pandemia. E havia
por ali algo que eu não reconhecia, pese embora continuarem a existirem
crianças e jovens nas suas brincadeiras, gente a passear bebés nas suas
cadeirinhas, idosos nos bancos de conversa, namorados de passeio… Aquilo que
conhecia e saber que ali iria encontrar. Mas havia algo intangível que deveria
sentir e não conseguia. Problema meu, pela certa. E estava ali sentado,
tentando encontrar isso mesmo para conseguir fotografar o que quer que fosse.
Passado pouco tempo os meus olhos dão com ele, de novo. Estava
junto a uma árvore icónica do local, de conversa com um pequeno grupo que me
pareceu ser uma família, e montava o tripé no qual colocou um flash.
“Boa!”, pensei. ”Com aquele eixo e sob a copa daquela árvore
vai ter uma excelente luz de recorte com o sol, que compensará com o flash. E como
os arbustos estão lá longe, ficarão fora de foco. Deve ficar bonito.”
Fez os testes óbvios e começou o trabalho. Para tristeza
minha.
O casal, com o pequenote ao colo ou nas cavalitas, ficaram
na sombra, encostados ao enorme tronco, sem que um raiozito de sol directo lhes
iluminasse a cabeça, os cabelos, os ombros…
Mais de perto ou mais de longe, com a zoom mais aberta ou
mais fechada, lá foi fazendo o seu trabalho, com o flash cru a mais de 45º com
a objectiva e mais baixo que as suas cabeças. E, pelas posições relativas de
modelos, árvore e flash, com a sombra deles projectada no tronco, rugoso e
vetusto.
Caramba! Conheço o local, os eixos, as luzes, as horas… e
aquilo parecia-me um desperdício, o não aproveitar o astro-rei para dar realce
àquela família. E, juro, estive vai-não-vai para lá ir meter o nariz. Claro que
não fui!
Não era eu o encarregue do trabalho e, nem sequer os
conhecendo, não seria bem recebido pela certa.
O resultado que eu sugeriria seria algo como isto, com a
vantagem de a “luz de enchimento”, no lugar de ser a reflectida do chão e pouco
controlada como aqui, seria a do flash, sendo o próprio a definir eixo, dureza
e intensidade.
Esta imagem foi feita mais ou menos nesse mesmo local, mais
ou menos à mesma hora e mês e com uma câmara que ali tenho guardada e que,
apesar de nova na altura, tem hoje quase quinze anos de idade com o que isso
implica de resolução e etc.
Não pretendo dar lições a ninguém, menos ainda se não mas
pedirem. Entre outros motivos, porque aparentaria uma arrogância que acho que
não tenho.
Mas aquele trintão bem medido bem que poderia prestar um
pouco mais de atenção à qualidade da luz, em vez de se preocupar tanto com a
quantidade.
Digo eu isto, que tenho a mania que percebo alguma coisa do assunto,
que adoro o sol do outro lado da objectiva e que me farto de fazer asneiras com
a minha câmara.
Nota adicional – Não vi o resultado do seu trabalho, pelo
que tudo isto será mera especulação, com um bom bocado de maledicência com
origem na minha própria frustração de me ter vindo embora do jardim sem uma
imagem digna de se mostrar.
By me
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