terça-feira, 7 de setembro de 2021

Outros olhares




Repare-se como nas artes convencionais (pintura, escultura, arquitectura) as coisas feias não são objecto de abordagem.

Procura-se o belo, o transcendente, o divino, o sonho… mas o mau, o feio, o lixo, o incómodo… ficam de parte no trabalho dos artistas. Mesmo noutras artes tradicionais (escrita, dança música…) raramente as abordam.

Talvez que a escrita (prosa ou poesia) nos relatem o menos bom, como a tristeza ou a infelicidade. Por vezes mesmo o horror. Num misto entre a arte e o desabafo.

Mas o certo é que os artistas (e quem lhes consome o que produzem) não dão ao mal, ao feio, ao lixo, relevo ou atenção.

Creio que é o advento da fotografia, mais a contemporânea que a inicial, que faz daquilo de que não gostamos um “objecto de arte”, mostrando com maior ou menor crueza os males do mundo e do Homem. O mal que faz aos seus iguais e o mal que deixa no mundo.

A fotografia veio, creio, transformar aquilo de que não gostamos em algo que observamos amiúde. Por vezes com deleite misturado com horror.

Veio a fotografia fazer-nos gostar daquilo de que não gostamos, apreciar o que nos incomoda, transfigurando o errado em banal.

Visto de outro modo, mais que qualquer outra forma de arte, a fotografia está a mudar os nossos conceitos, pessoais ou colectivos, sobre o que é certo ou errado, o que é o bem e o que é o mal.


By me

Sem comentários: