Ser bonito, ou feio, não é uma característica intrínseca do que quer que seja: gestos, pessoas, objectos.
Depende, antes sim, de quem vê, dos conceitos que tem e da interpretação do que vê ou analisa.
Dirão alguns que este prédio é feio. O revestimento, se bem que prático e, em tempos, na moda dos construtores civis, não será aquilo que os estetas chamarão de belo. A uniformidade com que a parede está rasgada por aquilo a que damos o nome de janela é também algo que só o Homem produz: a natureza não quer nada com simetrias e regularidades. Também, dirão alguns, não é bonito exibir (ou ver) a roupa a secar ao sol, quantas vezes roupa que mais valeria estar escondida. Por seu lado, os simulacros de jardim ou, em o preferindo, o faz de conta de não se viver aereamente, serão bons de ver em estando perto e não a esta distância.
Mas, caramba, eu gosto de ver isto! Cada uma destas janelas, e dos vasos, e da roupa, e das persianas, até das antenas parabólicas e da ferrugem que escorre pelos azulejos e estendais, me fala de quem lá vive, dos pequenos nada que constituem cada uma das vidas de quem atrás das vidraças vive e dorme, de quem aquele vestuário usa, de quem aquelas plantas rega.
E se o Ser Humano, na forma como existe enquanto indivíduo ou grupo, não é belo, então o conceito de beleza não existe, mais não sendo que pretexto para justificar os enquadramentos sociais, regras e consumos impostos.
Este prédio é bonito, pelo que é e pelo que significa.
By me
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