A propósito da retirada ou fuga do Afeganistão e dos
refugiados que recebemos, recordo uma declaração de um nosso político há dias.
Dizia ele que estávamos na disposição de receber como
refugiados os que, lá, tivessem colaborado com as forças e diplomatas portugueses,
bem como filhos e esposa. Uma esposa.
E foi dado algum ênfase ao facto de ser apenas uma.
Não irei discutir sobre as contradições culturais da
monogamia versus poligamia. Cada uma é o que é, baseada em conceitos que a
própria sociedade define.
O que nesta questão me atrapalha é saber que esses cidadãos
masculinos terão tido o estranho dilema de salvar uma esposa, deixando as
demais entregues a si mesmas naquele país e no actual cadinho complicado e
perigoso.
E se pensarmos que a poligamia em países islâmicos se baseia
no conceito que a mulher não deve existir sozinha e que deverá ter um homem
para a proteger, o que lhes vai suceder, agora que deixaram de o ter?
Obviamente que a questão não se colocaria por cá. A protecção
masculina não é uma necessidade ou obrigação e a mulher vive como entende,
acompanhada ou não. É o nosso conceito e estou particularmente satisfeito por
ele existir e nele viver.
Mas, pensando do ponto de vista afegão…
Eu não gostaria de ter que deixar para trás uma esposa
nestas circunstâncias, tal como não gostaria de ter que escolher sobre a
sobrevivência de um filho em desfavor de outro.
Entendo que as nossas autoridades tenham feito esta opção
para tranquilidade da nossa sociedade, onde a poligamia não é aceite e é
punida. Formalmente seria complicado.
Espero no entanto que, e para além das formalidades públicas,
se tenham considerado “jogos de cintura” não publicitados, tendo por objectivo
as questões humanitárias que nos levaram a querer receber refugiados afegãos.
By me
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