Quem produz imagem tem dois motivos principais para o fazer:
porque lhe apetece ou porque tem que ser. Por outras palavras: porque necessita
disso para alimentar a alma ou porque o faz para alimentar o corpo. Idealmente
será a conjugação das duas.
Por mim, desde há muito que tento conjugar ambos os motivos.
Usando como suporte o foto-químico ou o electrónico, mono ou policromático,
preocupado com a tomada de vista ou com o seu tratamento depois da objectiva,
estática ou animada. A imagem tem feito parte da minha vida quase desde que me
conheço.
E se há coisa que aprendi nestas andanças foi que o público
mais difícil é o infantil e aquele para quem dá mais “gozo” trabalhar é o
juvenil.
O primeiro porque, e ao contrário dos adultos, as crianças
não são muito dadas a concessões: ou gostam ou não gostam! Enquanto os adultos
consomem por hábito, por relaxe, porque não têm mais nada que fazer, as
crianças ou bem que gostam e consomem, ou bem que não gostam e vão procurar
qualquer outra coisa para fazer.
Isto implica um cuidado acrescido no que é feito, se
queremos ter sucesso no que fazemos. Forma e conteúdo. Na forma para lhes
captarmos a atenção, no conteúdo para que não lhes transmitamos ideias e
conceitos que, absorvidos por essa mesma atenção, possam influenciar
negativamente a forma como vêem o mundo e a sua noção de bem e de mal.
Sobre isto há todo um mundo de argumentos que podem ser
esgrimidos, desde pedagogia a conceitos morais, passando pela relação entre
pais e filhos. Não me alongo no tema, até porque não sou especialista na
matéria.
Já com os jovens a coisa é diferente. O jovem adolescente ou
o jovem adulto procura o seu lugar na sociedade, tentando afirmar-se enquanto
individuo e enquanto membro de um grupo. E isto passa, entre outros aspectos,
pela contestação, em particular à geração anterior, pais incluídos. Nada de
novo até aqui!
No consumo de imagem, estática ou animada, formas e
conteúdos, se aquilo que se lhe é apresentado for de algum modo contestatário
ele aderirá. Se romper com os princípios da geração anterior, por pouco que
seja, ele irá gostar.
E é aqui que nós, produtores de imagem, podemos dar azo á
criatividade, ainda que controladamente. Fazer diferente do habitual,
experimentar novas formas de contar estórias e histórias, nas formas e nos
conteúdos. Quebrar regras, inventar “absurdos”, apresentar “non sense”, mostrar
o mundo (real ou ficcionado) sem estar preso aos standards da composição, das
cores, dos conteúdos,…
Implica este tipo de trabalho muito cuidado. Ponderar bem
até que ponto se pode ser diferente, até que ponto essa diferença é aceite, até
que ponto o uso de novos códigos de comunicação são entendidos. Que, se não
forem aceites ou entendidos pelos destinatários, todo o conceito de “comunicação”
se perde por ausência de ponte de contacto.
Quem trabalha com ou para jovens na produção de imagens tem
neste público o terreno fértil dar azo à sua própria imaginação, com muito
menos limites que para qualquer outro público, de menor ou maior idade. Mas,
também, asseguro que é particularmente difícil largarmos as nossas próprias
convenções e regras para lhes conseguirmos chegar.
E se isto não é a conjugação perfeita entre o alimentar a
alma e o alimentar o corpo de quem produz imagem, não sei muito bem o que o
possa ser!
By me
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