Relacionamo-nos com o mundo que nos rodeia conhecendo o
espaço em que existimos. A tridimensionalidade, que conhecemos através da visão,
da audição e do tacto, é vital para a sobrevivência do individuo.
Apercebemo-nos do espaço através das posições comparadas dos
globos oculares quando olhamos para algo. E da comparação no cérebro das diferenças
das duas imagens retinianas correspondentes.
Mas apercebemo-nos do espaço usando de outros “truques”. Melhor
dizendo, a mente usa, que o fazemos sem que disso nos apercebamos.
O tamanho aparente dos objectos, a que chamamos de
perspectiva, é um auxiliar preciso. O mais pequeno está mais longe, muito
naturalmente.
Tal como a sobreposição de dois objectos. Se um tapa o outro,
então está mais perto. Isto é óbvio e nem pensamos no assunto.
De igual forma as sombras e suas orientações nos situam no
espaço, definindo o posicionamento da fonte de luz, sol ou candeeiro, e
respectivas sombras e zonas com luz. Os volumes e formas de um objecto ou ser
vivo são assim percebidos.
Nós, os fotógrafos, temos que mostrar a quem vê o nosso
trabalho o espaço e volumes em frente da nossa objectiva. E como só temos um
olho – a nossa objectiva – temos que bem trabalhar todas as outras técnicas
para suprir essa falta ou característica.
Uma das duas principais ferramentas será a perspectiva. Os
tamanhos aparentes, as linhas condutoras de olhar – ditas de fuga – são vitais
na produção de imagem.
A outra é a luz, a nossa matéria-prima, o que é reflectido
por aquilo para onde apontamos a câmara. E, consequentemente, as sombras que a
luz provoca (ou não provoca). São as sombras que dão volumes às rugas que
tantas vezes queremos disfarçar. São as sombras que nos situam num determinado
ponto do espaço/tempo, ajudando a entender a perspectiva. São as sombras
projectadas sobre um fundo – parede, cortina, calçada, arbusto – que ajudam a
definir as distâncias entre ambos.
Uma outra forma de usarmos a luz para nos ajudar a definir
distâncias – ou volumes, ou espaço – será o criarmos como que uma “cortina de
luz” entre o primeiro plano e o que estiver lá atrás. Chamamos-lhe “luz de
recorte”. Ou “Hair Light”. Ou “Back Light”. Uma luz que, vindo de um ponto bem
definido ou nem tanto, crie como que um contorno mais intenso ou discreto no
primeiro plano. Com isso, mostramos que haverá diferença ou distância entre o
que está próximo e o que está mais afastado. Ou, dito de outra forma, com o uso
dessa “luz de recorte” o assunto – humano ou não – salta do fundo, muitas vezes
aumentando a interacção entre ele e quem vê a imagem.
Quem der uma olhada nos trabalhos de estúdio (ou não) de fotógrafos
irá constatar que, as mais das vezes, os que mais gostamos, aqueles que mais
falam connosco, são os que tiram partido do uso dessa técnica de criar
profundidade ou volume com uma luz que não aquela que ilumina o assunto de
frente. Um bom exemplo será alguns trabalhos de Sebastião Salgado, na sua
abordagem à natureza, humana ou não.
Claro que, ao dizer tudo isto, sou suspeito. Gosto - e muito
- de usar a luz “vinda de lá”, quantas vezes considerando que ela é a principal
e que todas as demais existem apenas para que o assunto seja tecnicamente perceptível.
Por vezes só um pequeno apontamento, outras com intensidade e força. Mesmo em
reportagem na rua, procuro colocar-me de tal forma que essa seja a luz
dominante.
Não é coisa fácil de dominar e demasiadas são as vezes em
que o resultado é um fiasco. Porque não aquilatei bem a qualidade de luz,
porque não medi bem a quantidade de luz ou porque, de tanto querer usá-la no
limite, o pára-sol não foi eficaz o suficiente.
Mas vou tentando e se a luz vier da minha frente, perpendicular
à minha objectiva ou nem tanto, quase de certeza que gosto e tentarei fazer um
registo. Melhor ou pior, isso já é outra conversa.
By me
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