sábado, 7 de agosto de 2021

Regras ou culturas




A regra dos terços tem origem na proporção dourada e esta, por sua vez, no Φ. A que os antigos chamaram divina proporção.
Os antigos misturavam ciência com filosofia e religião e procuravam explicações para o que encontravam no mundo que conheciam. O Φ é, sem dúvida, uma proporção ou razão comum na natureza, ao relacionarmos um sem número de valores. Nos reinos animal, vegetal ou mesmo mineral.
Assim sendo, consideraram os antigos que a perfeição divina se baseava nessa proporção e, querendo aproximarem-se dos deuses, passaram a incluir essa relação numérica naquilo que faziam: pintura, escultura, arquitectura…
Este conceito foi sendo mantido, como maior ou menor importância até aos dias de hoje.
No entanto, se procurarmos em civilizações que não oriundas na Grécia e Roma, vamos encontrar inúmeras ou uma esmagadora maioria de actos criativos onde o Φ não se encontra. África, Ásia, América, Oceânia. Olhamos para o que fizeram antes da influência europeia e chamamos de “belo”, apesar de a proporção divina ou dourada lá não se encontrar. 
Donde, o número de ouro não é uma regra universal. Não sei se terá alguma coisa de divino, que não o saberia reconhecer, mas não será certamente algo que todas as culturas, em todos os tempos, entenderam como base importante para o conceito de belo.
Acontece que a influência cultural europeia se expandiu de tal forma que muitos dos seus conceitos foram incorporados noutras. E aceites como naturais. 
E os seres humanos, que aprendem desde o berço as noções do certo e do errado, também aprendem a distinguir o belo do restante. Aquilo que os pais e os académicos dizem ser belo é belo e ponto final.
Na comunicação de massas, cada vez mais dominante nos tempos que correm, haverá que satisfazer os destinatários ou público, agradando-lhes nas mensagens que recebem. Comunicação visual incluída. Leitura e interpretação fácil e pouco elaborada. Respeitando códigos simples e por todos reconhecidos como válidos. E isso inclui o vetusto Φ, proporção áurea ou, simplificando, regra dos terços.
Não usar tal implica menor aceitação por parte do público. E menores vendas, menores agrados nas redes sociais, exclusão das galerias de arte comerciais, menos publicidade associada na web, cinema e televisão. 
E, no entanto, como são belas as paisagens pintadas no extremo oriente há séculos! Como são belas as esculturas pré colombianas! Como são belas as ilustrações animistas ou as decorações de tecidos tradicionais!
A todos aqueles que procuram exprimir-se usando o belo: por favor não se atenham às regras ancestrais! Se vos apetecer, alterem-nas, subvertam-nas, ignorem-nas. Procurem o belo dentro de vós, deixando de parte quase tudo o que aprenderam na escola, na academia, na web.
E, principalmente, quando vos disserem sobre um trabalho vosso “Isto não é bonito”, saibam entender que o que vos estão é dizer é antes “Isto não respeita as nossa regras culturais”.

By me

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