Repare-se como nas
artes convencionais (pintura, escultura, arquitectura) as coisas feias não são
objecto de abordagem.
Procura-se o belo,
o transcendente, o divino, o sonho… mas o mau, o feio, o lixo, o incómodo…
ficam de parte no trabalho dos artistas. Mesmo noutras artes tradicionais
(escrita, dança música…) raramente as abordam.
Talvez que a
escrita (prosa ou poesia) nos relatem o menos bom, como a tristeza ou a
infelicidade. Num misto entre a arte e o desabafo.
Mas o certo é que
os artistas (e quem lhes consome o que produzem) não dão ao mal, ao feio, ao
lixo, relevo ou atenção.
Creio que é o
advento da fotografia, mais a contemporânea que a inicial, que faz daquilo de
que não gostamos um “objecto de arte”, mostrando com maior ou menor crueza os
males do mundo e do Homem. O mal que faz aos seus iguais e o mal que deixa no
mundo.
A fotografia veio,
creio, transformar aquilo de que não gostamos em algo que observamos amiúde.
Por vezes com deleite misturado com horror.
Veio a fotografia
fazer-nos gostar daquilo de que não gostamos, apreciar o que nos incomoda,
transfigurando o errado em banal.
Visto de outro
modo, mais que qualquer outra forma de arte, a fotografia está a mudar os
nossos conceitos, pessoais ou colectivos, sobre o que é certo ou errado, o que
é o bem e o que é o mal.
By me
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