Numa estação de
caminho-de-ferro de Lisboa, um diagrama da rede.
Para além das
linhas e cruzamentos, os nomes das estações acompanhados de símbolos relevantes
nesses locais.
Em baixo, uma
legenda identificava o significado de cada um desses ícones.
Esta é uma imagem
de parte dessa legenda.
Repare-se como os “locais
de interesse” estão identificados com uma câmara fotográfica.
Pouco importa o
que possamos ouvir, cheirar, palpar ou degustar nesse local: se é de interesse é
para fotografar. E mais tarde recordar.
Talvez que nem se
recorde do que se sentiu no local: o aroma de um restaurante próximo ou
maresia, o ruído do tráfego ou pássaros, a aragem a incidir na pela ou aspereza
do muro em que nos encostámos. Desde que a câmara possa registar é quanto
importa.
A este respeito,
recordo dois textos lidos ainda não há muito tempo:
Num deles contavam-nos
como algures nos anos cinquenta, aquando do boom do turismo nos EUA, se
assinalavam nas estradas os locais de interesse com um sinal de trânsito
contendo uma câmara fotográfica. Se bem recordo do que li, esta campanha terá
sido promovida por uma conhecida marca de películas, papeis e câmaras fotográficas.
Já então se entendia que o que era “bonito” era para ser fotografado e alguém
se encarregava de informar o público do que merecia ou não uma fotografia “para
mais tarde recordar”.
No outro texto
falavam-nos de uma experiência ocorrida na Grã Bretanha: dois grupos
equivalentes de estudantes universitários foram convidados a fazerem um
trabalho escrito sobre um tema dado. A diferença estava em que a um dos grupos
era pedido que consultassem apenas o constante na respectiva biblioteca e ao outro
para consultarem em exclusivo o conteúdo da internete.
Depois do trabalho
feito, foram os grupos testados sobre o que a sua memória havia retido do
estudado. O grupo da biblioteca tinha uma memória razoável do lido e onde e o
grupo da web havia fixado os locais onde havia pesquisado mas pouco dos
respectivos conteúdos.
A nossa memória,
aos poucos, vai-se transferindo dos neurónios para os digitais, fazendo mesmo
colocar de parte os sentidos e os sentimentos.
Confiamos nas memórias
artificiais, na imagem que é a imperatriz autocrática desta geração e que até são
particularmente frágeis e passíveis de serem perdidas. E, para as alimentar,
deixamos de parte o que elas têm de mais importante: os prazeres dos sentidos.
Diz-vos isto alguém
que faz da fotografia o “alimento da alma”. Mas que se recusa a fazer
fotografias de férias ou de as usar para mais tarde recordar.
Por muito que
goste de fotografia, viver é muito mais importante!
By me
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