domingo, 17 de setembro de 2017

Cores



Para muitos, a palavra “Kelvin” pouco dirá.
Para os curiosos ou profissionais da luz, tanto quem a cria como quem a capta, o termo define a unidade com a qual se mede a temperatura de cor da luz.
De uma forma mais simples, é a unidade que define se a luz é mais azul ou mais amarelada, mais “fria” ou mais “quente”.
Lidamos com isso no quotidiano ao escolhermos uma lâmpada de tom quente ou frio para as nossas casas. Ou quando ajustamos a nossa câmara fotográfica com aquele símbolo “sol”, “sombra”, “lâmpada” ou “auto” para ajustar a cor das nossas fotografias.
As mais das vezes não nos apercebemos muito destas mudanças ou nuances a olho nu: o nosso cérebro ajusta-se e “calibra-se” em função da luz existente e quase só por comparação directa nos apercebemos.
Um exercício divertido para vermos essas diferenças subtis, ou não tanto, na iluminação artificial é observarmos os prédios de habitação à noite, de preferência pela hora de jantar, e vermos como as janelas têm cores diferentes em função das luzes usadas. Salas, cozinhas, quartos, sanitários…
Do ponto de vista fotográfico, temos que ajustar os nossos modos de registo pelo tipo de luz existente. Os menus ajudam. Ou, para dar menos trabalho, colocar em automático e esperar que o japonês inteligente que vive no interior das câmaras faça o seu trabalho.
Ficamos com cores “naturais”, vivas muitas vezes, e os assuntos captados correspondem à imagem mental que temos deles. E gostamos do que vemos.
No entanto…
No entanto se essas imagens correctamente calibradas correspondem ao que o nosso sistema olho/cérebro viu, isso pode não corresponder ao que se sentiu no momento.
Um bom exemplo será ter a calibração ajustada em automático aquando do registar um bonito por do sol, com todos aqueles tons quentes que conhecemos e com a emoção de lá ter estado. Dificilmente obteremos isso na imagem resultante.
De igual modo as imagens nocturnas. Ter a câmara calibrada com rigor para a iluminação existente dá-nos a reprodução fiel e tecnicamente correcta. Mas as emoções, o calor da festa ou o frio da tempestade ficarão excluídos quase de certeza. Por muito simbólicos que sejam os conteúdos e as composições dentro do enquadramento.
Nos tempos em que se apenas se usava película por falta de alternativas, transportava eu um montão de filtros coloridos das séries 80, 81, 82 e 85 exactamente para, na tomada de vista, aquecer ou arrefecer a imagem, na busca da emoção pela cor. Quer em busca dos standards de interpretação, que procurando os seus opostos.
Hoje ando mais leve, bastando escolher no respectivo menu a calibração que quero para a emoção que tenho. Ou, posteriormente, ajustar no todo ou em parte essa mesma dominante cromática.
Dirão os puristas que isso será subverter o registo, transformando uma realidade numa outra adulterada, photoshopando o original.
Digo eu que, quer seja por um método (tomada de vista) ou por outro (edição), o que me interessa é transmitir emoções.
Que a minha câmara não é uma fotocopiadora nem os meus neurónios funcionam em modo automático.

Deixo o rigor da reprodução cromática para publicitários e profissionais de informação, pese embora vezes demais não o sejam e não por descuido.

By me 

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