Em
parte a culpa foi minha: tinha o bolso lateral do colete aberto e a caixa preta
das pastilhas estava bem à vista, parecendo uma carteira ou porta-moedas.
Seja
como for, ao entrar no eléctrico, no meio daquela confusão desordenada em que
todos querem embarcar com encontrões e ultrapassagens selvagens, senti um puxão
no colete.
O
instinto avisou-me do que se passava e levei a mão ao bolso: faltava a caixa.
O
tipo que me tinha passado pela direita era o único suspeito: cinquetão, talvez
mais, seco de carnes, brilhantina, rosto enrugado e marcado pelo sol, óculos meio
escuros clássicos de massa, pequena bolsa a tiracolo com um casaco nela pendurado…
“Passa
para cá isso!”
“Mas
o que se passa?”, disse com ar de ingénuo.
“Passa
para cá isso, então?! Passa para cá ou é pior!”
Esticou-me
a mão esquerda, a que tinha usado, e desculpou-se:
“Você
tinha deixado cair…”
“Deixei
cair, é? E você apanhou-a com quê? Com os pés na confusão?”
Ficou
em silêncio uns segundos, comigo a fitá-lo firmemente.
“Não
querem lá ver que temos carteiristas a bordo?”, acrescentei em tom médio.
Manteve-se
mais uns segundos, poucos, a olhar para mim, empurrou quem lhe estava no
caminho e saiu, seguindo lesto para longe da lombriga de várias portas que é a
carreira 15.
“Mas
isso não é a caixa das pastilhas?”, perguntou-me quem estava comigo.
“É,
e ele ia ter uma surpresa quando visse a falta de valor do palmanço.”
Que
eu saiba, foi a segunda vez que fui vítima. Desta feita com final feliz, ao
contrário da primeira no metro de Barcelona há mais de um quartel. E, ao contrário
dessa cujo relato na esquadra deixou surpreendidos os polícias pela novidade do
método, desta vez parte da culpa foi minha, que facilitei a coisa.
Se
a frequência for esta, não me deve voltar a acontecer.
By me
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