No dia 11 de Março
de 2008 publicava eu estas linhas, sem fotografia:
“Suficientemente
ébrio para ser o motivo de chacota da garotada; suficientemente sóbrio para
sentir curiosidade.
Suficientemente
grosso para ter a língua entaramelada; suficientemente lúcido para perguntar,
com timidez, se também podia.
Suficientemente
bêbado para mal se aguentar direito; suficientemente arejado para guardar com
mil cautelas a fotografia no seu saco maltrapilho.
Suficientemente
toldado para me confidenciar alguns dos detalhes miseráveis da sua vida
profissional; suficientemente ser humano para querer que se escrevesse por trás
da foto o meu nome, a data e o local para mais tarde recordar.
Suficientemente
gente para, ao afastar-se, agradecer com um aperto de mão e pedir desculpa de
não estar nos seus melhores dias.
Suficientemente
bom para, ao ir para onde quer que fosse naquele fim de dia, ainda olhar para
trás com um sorriso para a garotada que dele chacoteava.
Quem? Não sou
suficientemente despudorado para aqui e assim o exibir!”
Nessa época tentava
eu que o meu projecto de photógrapho à-lá-minuta pudesse funcionar que não
apenas no jardim da Estrela. E ensaiei umas fotografias na estação do meu
bairro.
Recordo (e estão
no arquivo) que para além da acima descrita fotografei o grupo de quatro
adolescentes que do pobre coitado chacotearam um bom bocado para além do
limite. E que, em ele se indo, me ouviram das boas, sobre o menosprezar “quem
está na mó de baixo”.
Há coisa de um mês,
talvez mês e meio, sou abordado no comboio ao regressar a casa. Quem me
abordava conhecia-me, ainda que o contrário não fosse verdade.
Até ao momento em
que ele falou de termos feito uma fotografia na estação.
Lembrei-me dela,
naturalmente, e do que em torno dela tinha sucedido.
O meu espanto foi
que ele, agora homem, também se lembrava do discurso que eu lhes havia dado
face à atitude deles para com o homem.
Ainda que com oito
anos de atraso, fiquei a saber que naquele dia o mundo tinha melhorado um nico.
By me
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