Dizem os
especialistas que a fronteira entre a pré-história e a história é a invenção da
escrita.
A utilização de
caracteres, ideográficos ou fonéticos, que são igualmente entendidos por uma
comunidade ou povo.
Conhecemos de cor
os nomes de algumas: “Cuneiforme”, “Hieróglifos”, "Romana”, “Árabe”,
“Chinesa”, “Cirilico”, e tantas outras.
A forma como esses
caracteres se espalham pelo espaço ou superfície é particularmente
interessante. A forma como se unem, como são mais angulosos ou curvilíneos,
como se alinham por uma linha superior ou inferior, o sentido como são escritos
e lidos, se correspondem a sons ou ideias…
A tudo isto
acrescente-se a “arte” da caligrafia, do desenhar manualmente esses símbolos,
reflectindo em parte o apuro do seu autor, a fluidez e organização das ideias,
o instrumento usado…
A invenção da
imprensa, se veio democratizar o acesso à leitura e à cultura, veio também
diminuir um pouco o desenvolvimento dessa “arte” da escrita e da caligrafia.
A máquina de
escrever acelerou o processo e o uso de computadores pessoais está a dar o
golpe de misericórdia na caligrafia.
O acto de escrever
manualmente está a morrer e ver alguém com papel e caneta que não seja um
estudante já começa a ser um episódio raro.
E se no PC existem
diversos tipos de caracteres disponíveis (dezenas ou centenas), raros são os
que escolhem uma, deixando-se levar por aquelas que, por defeito, são
seleccionadas pelos processadores de texto. Indo ainda mais longe, o uso da
Internet é bem mais redutor no que a caracteres diz respeito já que o leque dos
disponíveis é ainda mais reduzido.
De uma forma ou de
outra, vamos ficando balizados com a aldeia global, diminuindo cada vez mais a
possibilidade de nos afirmarmos como indivíduos.
E se a escrita com
caracteres está assim a evoluir, o mesmo sucede com a escrita com a luz – a
fotografia.
Tratando-se de
escrita, a sua feitura e leitura estão condicionadas pela cultura onde se
insere. Temas, sentidos de leitura, gestão de espaço, etc. Mas também aqui, e
mais uma vez, a globalização vem estreitando a forma como é feita e lida. A
imposição de grelhas nas páginas web, formatos, resoluções, “peso” dos
ficheiros, panóplias de cores, etc., estão, lentamente, a diminuir, cercear a
liberdade criativa dos autores, que vão usando este já não novo meio de
comunicação para exibirem e divulgarem os seus trabalhos.
Para já não falar
de como pode ser igualmente redutor a padronização de sistemas e tecnologias na
fotografia animada – Cinema e TV.
A título de
exemplo de como é possível, apesar de tudo, fugir a estes standards da
globalização, sugiro que se veja o filme Yi-Yi, palma de ouro de Cannes, 2000.
Observe-se como o
seu autor, usando todo o enquadramento rectangular e horizontal típico do
cinema, conseguiu fazer enquadramentos verticais, no que à acção diz respeito,
típico da sua cultura original.
Do meu ponto de
vista, é um daqueles filmes que deverá fazer parte da filmoteca pessoal e de
referência de qualquer um que se interesse seriamente sobre a escrita da luz!
Recomenda-se!
By me
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