Reproduzo aqui de
cor, com a fidelidade possível de mais de doze horas de distância, uma conversa
com um colega, ontem:
“Então? Fizeste
boas fotografias do granizo?”
“Não. Nem usei a câmara.”
“Mas não estavas
na rua quando caiu?”
“Estava no comboio
quando foi a chuvada, mas nem me preocupei com isso.”
“Mas seriam
fotografias originais. Granizo daquele em Lisboa é coisa rara.”
“Verdade! Mas não
fotografo para fazer imagens originais nem estou em modo de reportagem
permanente, ainda que sempre com a câmara no bolso.
Se a fotografia
faz parte da minha vida, ela não é a minha vida. Bem mais importante, para mim,
que fazer o registo do que acontece, é viver o que acontece. A fotografia surge
em segundo plano. Eventualmente, mas só eventualmente, fazendo o registo.
Um pouco como o
que sucede com o fogo de artifício. Adoro ver fogo de artifício. A efemeridade daquilo
que se vê coloca-me bem consciente na minha própria efemeridade. E a luz e cor
enchem-me a alma. Se naqueles breves instantes me preocupar em registar, certo
é que não usufruo por completo do espectáculo.
Aconteceu uma
grande granizada? Vivi-a!”
Pensei depois
nesta conversa, equivalente em muito a outras que tenho tido ao longo da vida.
Concluo que talvez
não seja eu um fotógrafo.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário