terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Guarda-Chuva





Havia em Lisboa uns Snack-Bar ou restaurantes cujo arranjo interior gosto bastante: com o balcão em zig-zag, formando corredores com bancos de pé alto e fixos. Creio que já só resta um.
Mas foi num dos que fechou que se passou este episódio.
Entrámos nele, eu e um compincha, para tomar qualquer coisa enquanto falávamos de coisas sérias. Fotografia, muito provavelmente.
Acontece que a hora foi mal escolhida: a mudança de turno.
Implicava isto que os empregados do turno que terminava entendiam que seríamos atendidos pelos que entravam e vice-versa. E, não havendo mais clientes sentados ao balcão, estávamos os dois com aquele complexo de invisibilidade bem desagradável.
Bem que usávamos a fórmula clássica “Oh faxavor!” ou acenávamos para quem passava lá no fundo do corredor interior, mas nada. Nada de se aperceberem que davam por nós.
Recorri então a métodos pouco convencionais:
Abri o guarda-chuva e fiquei sob ele, sentado e todo encolhido. Resultou.
Um dos chefes de turno (não sei se o de saída se o que entrava) veio ter connosco, perguntando sobre o que se passava.
Com o ar mais inocente possível, respondi:
“Bem: estão a demorar tanto a atender-nos que tenho medo que o prédio desabe de velho. Estou a proteger-me.”
Fomos atendidos de imediato, num misto de cara-feia e sorriso dissimulado. E nunca mais a situação se repetiu, apesar das muitas horas que passei sentado naqueles bancos, antes que fechasse de vez.

 By me

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