sexta-feira, 27 de junho de 2014

Abordagens



Ao contrário do que muitos pensam, o difícil ao fotografar um objecto ou uma pessoa não é o assunto propriamente dito.
Escolhida uma perspectiva adequada, uma luz eloquente e ultrapassada a questão da profundidade de campo, é muito fácil. Excepto…
Excepto o fundo.
A questão da contextualização do assunto fotografado é, provavelmente, o que mais diferencia o pintor do fotógrafo.
Que o primeiro pode, por decisão sua, nada incluir como fundo, deixando mesmo a superfície da tela por tratar. Inclui dentro dos limites da tela apenas e só o que entende, preocupando-se ou não com o restante.
Já o fotógrafo assim não pode fazer. Mesmo que só queira fotografar um rosto ou um objecto, o que lhe fica em redor faz parte da imagem e tem que ser tratado. Mesmo que seja a escolha de um fundo neutro, ali colocado propositadamente, ou limitado ao que demais existir atrás do assunto principal.
Técnica usual em tempos de antanho era ter em estúdio um conjunto de adereços, incluindo telões pintados, que fariam a contextualização do retratado. E era uma arte escolhê-los e usá-los.
Com o evoluir das técnicas e dos suportes, foi usada uma outra técnica, não particularmente fácil: Atrás do assunto (pessoa ou objecto) era colocada uma tela reflectora ou translúcida, onde eram projectadas imagens.
A dificuldade técnica era encontrar um equilíbrio útil entre a luminosidade e definição da imagem projectada e do assunto principal. Chegaram mesmo a ser criados ecrãs de projecção de alto rendimento e particularmente orientáveis para esse efeito.
Outra abordagem possível para esta questão é o recurso a laboratório. Foto-químico ou digital. Aquando da tomada de vista é colocado um fundo escolhido, branco ou colorido, para ser retirado em laboratório e substituído pelo fundo que se pretende. O Photoshop faz maravilhas nesse sentido.

Na série de imagens que tenho vindo a fazer com umas figuras de estanho que encontrei, resolvi usar “o melhor de dois mundos”.
Para já, uma abordagem ao sabor de velhos tempos: sem recorrer a edições posteriores. O que a câmara vê é o que mostro.
De seguida, e dentro dessa linha, exibir atrás do assunto principal uma imagem que de algum modo contextualize o assunto principal. Mas sem querer fazer supor que o assunto se encontra ali, naquele fundo. A artificialidade é assumida.
Do ponto de vista técnico, o suporte de exibição dos fundos é algo que todos temos em casa: um monitor de computador. Escolher uma imagem (de arquivo ou feita de propósito), ajustar o seu tamanho em função do ângulo de visão e usar de uma profundidade de campo que, tornando-a muito pouco nítida, acaba por lhe dar alguma força.
Resta jogar com a luz, garantir que esta não incide no ecrã, dar-lhe uma orientação e contrastes tais que não se tente enganar o espectador, fazendo-o crer que é real o que vemos…
O desafio, escolhida a abordagem e tornando-a padrão nesta série, é encontrar a imagem certa, em conteúdo, proporções e leitura, para cada uma das figuras a exibir.
Não tenho muito a noção de como quem a vê gosta ou não do que vê. As reacções são mais em função do assunto principal que em função dos fundos.

Por mim, estou a gostar dos resultados, desta mistura de técnicas antigas e modernas. Com a vantagem adicional de o fazer sentadinho da silva, o que não é comum no trabalho fotográfico.

By me 

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