quarta-feira, 27 de março de 2013

Fisgada




A notícia diz que o alegado terrorista foi abatido pela polícia belga.
Continua esclarecendo que o homem já estava referenciado pelas autoridades belgas e francesas, que não terá parado numa operação stop, que terá tentado atropelar os agentes e que disparou sobre eles.
E recorda-me esta notícia um episódio a que assisti há uns anos:
Tinha surgido um despacho de uma agência noticiosa informando que o então líder do Hamas tinha morrido na sequência de disparos de mísseis de um helicóptero Israelita. Quem leu o despacho gritou para o resto da redacção “Assassinaram o Fulano!”
A pessoa que ocupava então o segundo lugar na hierarquia levantou-se e corrigiu_ “Assassinaram não! Abateram!”
E foi desta forma que o assunto foi tratado.
O que aqui esta em causa – que eu ponho em causa – não é o acto em si. É o verbo usado par o descrever.
Abater. Assassinar. Matar.
São todos mais ou menos sinónimos entre si. Mais ou menos.
O verbo “matar” descreve o facto “de per si”, sem acrescentar nada, de positivo ou negativo. As conclusões morais sobre o acto ficam para quem ler.
Já o verbo “Assassinar” tem uma conotação negativa. Condenamos o assassínio, temos penas pesadas para tal. O assassinato não se faz.
Por seu lado, “Abater” tem uma abordagem positiva. Ainda que seja “matar”, sugere legitimidade ao acto, sugere que seria um dever de ser feito, sugere que, apesar de ter morrido ainda bem que tal aconteceu.

Os verbos “abater” e “assassinar” são termos que, ao serem usados, influem na opinião de quem ouve, ou demonstram opinião de quem os usa.
Um jornalista – da imprensa, da rádio, da tv ou da net – que os use não está a dar bom cumprimento ao juramento que fez sobre o código deontológico. Nem a prestar um bom serviço ao seu empregador ou ao público.
E o aprender a ler e interpretar aquilo que nos é colocado em frente dos olhos, sabendo distinguir o trigo do joio, deveria ser obrigatório e intensivo, desde o jardim-escola.

By me 

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