quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Na esquina




Desço a rua Augusta, em Lisboa, em “reperage”. Há que saber onde e quais as iluminações natalícias convidativas a fotografar.
No primeiro cruzamento, a florista de sempre. Ali encaixada, com vista para o Rossio, para o arco, para o elevador, para a Polux. Lugar privilegiado, para turistas e nativos, não atrapalhando nem uns nem outros como as esplanadas p’ra turista gastar que invadiram a rua.
No mesmo cruzamento, um carro de castanhas assadas. Já não apetecem tanto as castanhas assadas. O assador agora é inocuamente em aço, as castanhas manipuladas com luvas, entregues em neutros cartuchos de papel pardo ou quejando. Onde estão as folhas das “páginas amarelas”, as mãos tisnadas, o toque do barro do assador?
Mais ainda: onde estão as diferenças de um vendedor de castanhas para outro? O carrinhos são todos iguais, com matrícula e tudo, espalhados estrategicamente em todas os cruzamentos (e não é figura de estilo) desta rua, bem como do Rossio e afins.
Neste mesmo cruzamento, encostados àquilo que já foi uma loja de fotografia de referência na cidade e que agora é um pronto-a-vestir, dois rapazes tocavam viola, com amplificador, e cantavam. Talvez não cantassem muito bem, mas alegravam o ambiente.
Na sua frente um boné continha as poucas moedas que alguns passantes lhes deixaram, eu incluído.
A dado passo vejo um garboso polícia municipal, do alto do seu Segway, a correr com eles. Não tinham licença, já se vê. O que me foi confirmado por eles, numa estranha mistura de castelhano e português.
O parceiro do ilustre e zeloso cívico estava apeado do seu veículo, a uns metros de distância, usando do telemóvel e fumando uma cigarrilha. Talvez que trabalhem à vez, ora um enxotando, ora outro pedindo licenças de utilização da via pública.
Uns quarteirões mais abaixo, já na rua da Conceição e em virando à esquerda, a paragem do famoso eléctrico 28. E lá estavam: três tipos, com aspecto de carteiristas de se lhe tirar o chapéu. Só mesmo o mais incauto se deixaria roubar. Mas nem um só agente, da polícia municipal ou outra, à vista, nem que fosse só para fazer vista.
Talvez que seja bem mais importante manter a aparência civilizada nesta rua nobre, com esplanadas e apelativa aos turistas que tratar daqueles que tratam de aligeirar as carteiras dos desatentos.
Quanto às fotografias, lá fui fazendo algumas com recurso à minha corrente de autoclismo, para espanto de turistas e vendedores.

By me 

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