quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Uma tarde de raiva




Estava chateado, aborrecido ou neura, como lhe quiserem chamar. Certo é que necessitava de algo que me colocasse o ânimo onde o quero, para cima. E decidi vir onde sei que isso costuma acontecer: bairro de Alvalade.
Os motivos são vários: conheço-o bem, desde sempre para falar verdade, tem variedade de gente e arquitectura, a orientação das suas ruas permite uns efeitos bonitos em termos de luz, tenho aqui feito umas fotografias menos más. Tudo a ajudar.
Mas hoje não!
A luz está bera. Se quando me meti a caminho o sol ainda espreitava por entre umas nuvens, com uma cor bonita, em aqui chegando escondeu-se, restando um cinzento feio e uniforme, capaz de desencorajar o fotógrafo mais afoito.
As ruas estão pouco animadas, apesar de não estar nem frio nem vento demasiado.
As luzes de natal, ainda apagadas, restringem-se a três arcos, um em cada extremo e outro a meio, dando um ar de pobreza franciscana disfarçada.
As lojas, e fui olhando à medida que a descia, continham, em média, 0,5 clientes, se tanto. Vazias de meter dó, só se vendo os caixeiros mudando os artigos de posição ou na conversa entre si.
Mas, pior que isso, desde que aqui passeei da última vez, mais quatro lojas fecharam. Com os vidros assim tapados ou despudoradamente nus, mostrando as paredes esventradas do retirar das prateleiras.
Recordo as reportagens televisivas ou impressas. Recordo os discursos dos políticos, economistas e comentadores. Recordo as estatísticas que nos vão apresentando.
E constato, bem na prática, que tudo isso está pintado de cores demasiado alegres, quando confrontadas com a realidade.
E fico com uma raiva tremenda, com vontade de fazer como se fazem aos cachorrinhos quando começam a ser habituados a não fazer as necessidades em qualquer ponto da casa:
Pegar no focinho desse políticos, economistas e comentadores, responsáveis por tudo isto, e vir esfrega-lo nestas montras fechadas, nos expositores ao pó e nos passeios cinzentos e vazios.
E, de seguida, cortar-lhes as iguarias da consoada e o brilho das prendas da época. Bem como o brilho do olhar das suas próprias crianças sem prendas ou guloseimas.

Espero, a bem da tranquilidade pública, não me cruzar com um deles no triste regresso a casa!

By me

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