O que é uma boa fotografia?
Esta é uma questão que assola muitos dos que à fotografia se
dedicam. Para melhorarem o que fazem, para melhor apreciarem o que vêem, para
sobre o tema discorrerem…
Sou abordado na rua por este nosso conterrâneo. Vendo-me com
uma câmara na mão, pergunta-me se me interesso sobre fotografias antigas. Ainda
pensei que mas quisesse vender, mas nada disso.
O seu objectivo era mostrar fotografias, umas em cores,
outras em preto e branco, umas amadoras, outras postais ilustrados, mostrando a
zona central e oriental da cidade nos anos cinquenta a setenta do séc. XX.
Sabia de cor o que existe e já não existe e desfiava-me a
identificar o local de cada uma.
Nascido em ’51, aquela era parte da sua infância e
juventude, urbana, desportiva, rodoviária. E ria-se ficava maravilhado quando
eu conseguia identificar algum largo ou rua já demolidos, sobre os quais ainda
contava uma ou outra estorieta breve de poucas palavras.
Tinha consigo bem de uma centena de imagens, todas mais ou menos
do mesmo tamanho, numa bolsa. E ora tirava um molho delas, ora outro, sem que
eu conseguisse descortinar alguma ordem ou lógica em cada um deles. Haveria,
com toda a certeza, mas não dei com isso.
Para o registo, escolhi eu a fotografia que haveria de
exibir. Ratada em baixo e de um largo que já não é assim, com um autocarro que
já não circula nas nossas ruas.
Fez ele questão, depois de surpreendido com o facto de ele
mesmo ser objecto de fotografia, de virar o boné ao contrário, com a pala para
trás. Não sei se numa atitude de moda, se em memória de ciclistas, se por via
da sombra que haveria de provocar.
Disse-me o nome, que não fixei. Mas a sua alegria em mostrar
o passado através de fotografias, isso não esquecerei. E partilho-o, que também
é para isso que servem as fotografias.
Nota pessoal: O carregar a mochila com a “tralha” ainda me é
interdito. Por isso decidi, neste passeio higiénico, breve e tranquilo, abordar
o mundo com um 28mm f/2.8, montada na Pentax. Para quem esteja habituado a full
frame ou película, corresponde a uma 42mm.
É uma nem-nem, nem a grande angular para estes locais
apinhados, nem a tele de que gosto para isolar pormenores. Mas é um exercício
divertido abordar o mundo com uma focal fixa, ao invés das zooms tão
disseminadas. Com a determinação de que a imagem final não seria objecto de
cortes posteriores: o que visse na ocular da câmara seria o resultado final.
A diversão é a gestão dos centros de interesse, a exposição
(neste caso parcialmente manual, já que a objectiva tem quase 40 anos na minha
mão), a decisão do que conseguimos fotografar e do que não é possível fazer. E
das situações intermédias, em que temos que recorrer a subterfúgios de
composição para evidenciar o que queremos.
Todos os meus alunos e formandos passaram por este
exercício. E todos os que venha a ter passarão por ele certamente. Que a melhor
ferramenta de composição funciona a dois tempos: pé direito e pé esquerdo!
By me
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