Ontem fui engolido por uma pequena multidão.
Não foi a primeira vez, ainda que procure evitar tais
situações que, em regra, acontecem depois de grandes eventos: espectáculos musicais
ou desportivos.
Essas pequenas multidões, por vezes grandes, têm uma característica
comum: em saindo ou terminando o evento, vêem-se sorrisos estampados das
pessoas. Após um “Rock em Rio”, ou um mega concerto no Coliseu ou na grande sala
do Parque das Nações, ou um jogo de bola num estádio ou uma corrida na cidade,
a esmagadora maioria das pessoas estão a sorrir. De satisfação pelo momento que
viveram, de satisfação pela vitória do seu clube, de satisfação pelo que
assistiram…
Claro está que em situações de desporto haverá sempre os que
estão tristes ou que protestam pela derrota dos seus favoritos. Mas os sorrisos
de satisfação estão espalhados pelos restantes. Muitos.
Ontem, a multidão – pequena – que me engoliu vinha da semi
final do eurofestival.
Estavam em pequenos grupos, como acontece em eventos
musicais, neste casos unidos pelas nacionalidades. E até unidos pela
diversidade de nacionalidades, que vi gente com bandeiras distintas em amenas
cavaqueiras, unidos apenas pela língua inglesa que usavam.
Mas tinham algo em comum, a esmagadora maioria: não vinham a
sorrir. Não vi, naquelas muitas centenas de rostos de quase todas as idade, a
satisfação habitual de quem viveu algo que quer guardar na memória. Os seus semblantes,
na maioria, estavam quase tão neutros como os de quem acabou de cumprir uma
jornada de trabalho ou uma viagem rotineira.
Tal como não os ouvi a trautear as músicas que tenham
ouvido. Nem as dos países com os quais se identificam nem quaisquer outras que
por lá tenham ouvido.
Não fora as bandeiras e a multiplicidade de origens e seria
difícil saber porque estariam todos ali.
A relevância desta minha constatação prende-se com o que
venho dizendo, contra ventos e marés: Estes festivais-competição são pouco mais
que inúteis! Fúteis, arriscaria a dizer.
A sua mediatização, o negócio que lhes está subjacente, a
necessidade que muitos têm de comparecer onde todos os outros estão para se
sentirem alguém, cria como que uma “histeria colectiva” breve e inconsequente.
O público comparece porque sim, mas o que vivem em tal evento é “sol de pouca
dura”. Que a maioria nem recorda, passado pouco tempo, o que ouviu.
Claro que há muitos milhões, por cá e pelo resto do mundo,
que contestam o que digo. Que organizam as suas vidas para a tal acompanharem. Que
marcam viagens e vã. Que alteram as suas horas e rotinas de jantar para assistirem
à sua transmissão.
Mas a verdade é que, se abrirmos os ouvidos nas ruas e
cafés, não ouvimos comentários sobre o espectáculo da véspera. Ao invés do que
acontecia há uns anos. E se perguntarmos aleatoriamente sobre os vencedores dos
anos anteriores, e para além de Salvador Sobral, recordam um intérprete de
aparência “sui géneris” e polémica e pouco mais.
Façam-se festivais, que o público gosta. Mas não se “embandeire
em arco” na sua importância. Duram tanto na memória quanto a novela que se
segue diariamente.
By me
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