segunda-feira, 21 de maio de 2018

Diatribe sobre reportagens fotográficas




A fotografia conta histórias. Ou estórias.
E o quotidiano está cheio de estórias e histórias. Boas e más, belas e horrendas.
Enquanto os fotógrafos de reportagem continuarem na linha em que só o mau e horrendo merece ser fotografado, enquanto os media continuarem na linha em que só essas merecem ser publicadas, enquanto o público prestar mais atenção a essas… Não creio que possamos melhorar o mundo em que vivemos.
Que os exemplos formam, queiramos ou não, a nossa forma de nos comportarmos.
E, em caso de dúvida, veja-se o que acontece com as crianças: as que têm bons exemplos em casa e circundante e as que não os têm e como se comportam enquanto crianças e enquanto adultos. Não será regra inquebrável, mas é o que acontece na maioria dos casos.
Ou o que sucede com os adultos que privam com quem tem comportamentos negativos e o que sucede com quem comportamentos positivos.
A fotografia de reportagem, que mostra ao público aquilo que ele não tem possibilidade de ver ao vivo, funciona como exemplo. Os bons e os maus.
E, de um modo ou outro, condiciona comportamentos.
O sermos permanentemente “bombardeados” com imagens do horror que vai acontecendo pelo mundo, depois do choque inicial, passa a banal. E, em seguida, passa a evento inconsequente. Exemplo de comportamento que pode ser seguido.
Não sou a favor da divulgação de imagens, fotográficas ou outras, que exclusivamente pintem de “cor-de-rosa” o mundo em que vivemos. Que essa não é a única realidade. Mas o seu oposto também não é a única realidade. O ser humano não vive, em exclusivo, na violência, na destruição do que o cerca.
Mostrar os dois lados do comportamento humano e deixar que cada um escolha o seu caminho é, talvez, o mais certo. Deixando que o belo e o horrendo coexistam na fotografia e permitir que que o primeiro se sobreponha nos comportamentos.
Claro que há imagens, reportagens, que despertam consciências e modificam atitudes. Recordo, assim de repente, do massacre de Dili, dos horrores do Vietnam, da fome em áfrica. Acordaram o mundo.
Claro, também, que o público consome essas imagens ou reportagens como forma de sublimação dos seus próprios males: enquanto vêem acontecer lá longe, dão graças por os seus problemas não serem tão grandes.
Mas não existirem contrapontos, se as reportagens, no seu todo, não mostrarem que há alternativas, tudo isso passará a ser banal. Quiçá exemplos a seguir.

Fotografe-se e divulgue-se o que de mau acontece. Mas não se faça disso o objectivo único da fotografia ou da reportagem fotográfica. Ou das capas dos media, seja qual for o suporte.



By me

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