quinta-feira, 31 de maio de 2018
trafulhice?
Parece que está na moda: chamar-lhe "museum" mas não o será. Apenas engodo para os mais incautos e em língua inglesa para atrair os turistas.
Desta feita tem o nome completo de "Sweet Art Museum" e está localizado em Marvila, Lisboa.
Um antigo armazem adaptado, com paredes e instalações alusivas a doces, gelados, chupas e afins. "Instagramavel", dizem os promotores da iniciativa a prazo (até agosto), tendo por objectivo explícito que o público ali fotografe e se faça fotografar para depois publicar no Instagram.
Dizem os seus autores que: "A principal missão deste museu é pôr as pessoas bem dispostas". E diz a responsável. "Só quero que saiam daqui felizes."
Mas aliar a felicidade em exclusivo a doces e fotografias instagramaveis parece-me demasiado redutor e consumista.
A felicidade é muito mais que isso e, até, nem passará por isso para muitos.
Desejo toda a felicidade do mundo aos promotores e, já agora, não engordem muito à custa dos incautos, atraídos pela sugestão do nome.
Já agora: as fotografias não se tiram, fazem-se!
Imagem palmada de um jornal.
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Custa-me ver aqueles que “não têm onde cair mortos”, que
vivem “com uma mão à frente e outra atrás”, a defender uma organização social
onde esse estatuto se mantém como forma de sustentação de elites endinheiradas.
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Porquê?
Nem sempre o tempo ou a
inspiração do momento é suficiente para explanarmos tudo o que queremos ou como
queremos.
Mas porque mo
perguntaram, aqui fica o resumo de um sumário minimalista de tópicos das razões
de fotografarmos.
Entenda-se que cada um
dos temas abordados daria para muitos livros de grossa lombada: alguns que já
li, outros que ainda não li e outros que eu mesmo ainda não acabei de escrever.
O fazer de fotografia
pode ter vários motivos, uns mais bonitos que outros.
Em primeiro lugar, e para
alguns, é um modo de vida, de garantir o pão de cada dia.
Mas pode querer apenas
criar algo que não existe: um jogo de luz, cor e formas que, de algum modo,
satisfaça a necessidade criativa de quem fotografa.
Pode ser apenas uma moda.
Há anos, quando comecei, a fotografia era particularmente cara, o suficiente
para ser chamada de “hobby”: algo que se faz por gosto mas que esgota os
recursos materiais e intelectuais. Agora, qualquer um a pode fazer, que o
equipamento de captura e processamento está ao alcance de qualquer um (ou
quase). “E se um fotógrafo de renome pode fazer, porque não eu, que basta
apontar e disparar?”, será o que muitos pensam ou sentem.
Pode ainda ser uma
necessidade de comunicar, que outras formas não satisfaçam. Mostrar o que de
belo ou de horrendo vemos é comunicar sentimentos.
Pode ainda ser um acto de
exibicionismo, que ao mostrar o que fizemos podemos estar a dizer “vejam como
penso e sinto isto!” E, com isto, afirmar a nossa forma de pensar.
Por outro lado ainda, a
febre das tecnologias de comunicação fazem com que a imagem faça parte do nosso
quotidiano. E comunicar sem se usar imagens é ser-se “out” nas modas modernas.
Boas ou más, há que fazer fotografia, de preferência com câmaras ou caras ou vistosas.
Será, no entanto, fácil de ver que os bons fotógrafos raramente se exibem
falando do que têm mas tão só do que fazem.
Há também um outro motivo
possível: cobiça! Não podemos possuir tudo o que gostamos: o pôr-do-sol, o
carro, a pessoa. Vai daí, fotografa-se e fica-se com o seu ícone. Não será bem
o mesmo, mas é o mais próximo possível.
Ainda se pode acrescentar
outra razão: a vida actual é vivida em frenesim, rapidamente e esquecendo com
facilidade os momentos que vamos vivendo. A fotografia permite, mesmo que
inconscientemente, abrandar o tempo e “guardar para mais tarde recordar”. Claro
que, com os Gb dos cartões, câmaras e sistemas de arquivo, não se recorda coisa
nenhuma, que tantas se fazem que cada uma deixa de ter importância.
Por fim (ou talvez não)
faz-se fotografia porque sim. Pelo mesmo motivo pelo qual se trauteia uma
musiquinha, ou se fica parado a olhar uma borboleta no verão, ou porque se dá
um beijo: porque nos apetece, nos dá prazer, nos satisfaz naquele pedaço de nós
que não tem razão ou, como diria o poeta, “tem razões que a razão desconhece.”
Criar, para alguns, é uma
necessidade afectiva; para outros, uma necessidade cultural; para outros ainda,
uma necessidade social; e para outros, uma necessidade intelectual. O que
diferencia uns de outros é que alguns fazem-no para serem mais que outros.
Outros para serem mais que si mesmos.
Em qualquer dos casos, o
mais importante será, creio eu, que encontremos satisfação no que fazemos.
Porque o fazemos e não porque outros o fazem.
quarta-feira, 30 de maio de 2018
A mocinha e o cartaz
Ver esta mocinha, que talvez nem saiba ainda o que é gerar
vida, com este cartaz faz-me recordar aquela freira já idosa, no mesmo local e
momento, que talvez não saiba o que é gerar vida mas que talvez fale das
alegrias da maternidade às suas pupilas.
Mas a mocinha, tal como a freira, não tem culpa. São
ignorantes e isso não é pecado.
Pecado mesmo é o que foi cometido por aqueles que lhes
fizeram uma lavagem ao cérebro, incutindo-lhes ideias e formas de pensar que
nem mesmo elas entendem. Mas que abraçam e defendem com o fervor natural da fé
e da juventude.
Nada contra o defender aquilo em que se acredita. E façam o
favor de serem felizes ao fazê-lo. Mas, pelo menos, pensem e entendam o que
argumentam, conhecendo outros pontos de vista e fazendo opções conscientes.
Coisa que, por acaso, estão a negar aos demais ao defenderem
a manutenção do impedimento da eutanásia.
A freira, idosa que é, talvez recolha à sua cela e acabe os
seus já poucos dias de vida em paz.
Esta jovem tem uma vida inteira pela frente. Espero que, ao
menos, aprenda a pensar antes de exibir cartazes.
Imagem palmadíssima da net.
By me
Um olhar - copy/past
Processo de representação
gráfica efémero, pelo menos efémero enquanto popular, foi o da miniatura.
Em medalhões, broches,
tampas de relógios e mesmo em anéis, os abastados ou não tanto traziam consigo
a imagem de quem gostavam ou diziam gostar.
Em desenho de traço ou
silhueta, pintada ou gravada em laca, esmalte ou prata, foi o antecessor da
fotografia no que toca ao retrato portátil.
A sua divulgação surge
nos finais do séc. XVIII e foi rapidamente ofuscada pelo novo processo - a
fotografia – supostamente fiel e muito iconográfico. E mais barato.
Depois das primeiras
experiências e invenções, bastava ser rigoroso quanto à aplicação das técnicas
e fórmulas para que se satisfizesse e surpreendesse o cliente. E orgulhoso
possuidor. E exibidor! E admirador!
Nos tempos que correm as
miniaturas voltaram a ser populares.
Mas, ao invés de estarem
gravadas num medalhão ou escondidas na tampa traseira de um relógio de bolso,
estão gravadas electricamente nos bites e bytes das câmaras fotográficas, nos
discos rígidos ou nas memórias dos telemóveis.
O ritual antigo de puxar
por um fio de ouro e extrair pudicamente de dentro do colo feminino a imagem,
ou o abrir a carteira de dentro da bolsa ou bolso e desdobrar o
porta-fotografias de plástico ou, mais remotamente, de mica, morreu!
Hoje, saca-se do telele,
liga-se o ecran e aí estão elas, as fotografias da namorada/o, rebentos ou
netos. E, se se aceitar tecnologias mais pesadas, nada como recorrer a uma
dessas “canetas-memória”, ligá-las a um computador e, por magia fosfórica, ver
as imagens dos entes queridos. Ou ainda, pô-las a correr pelas auto-estradas
E-mailicas ou sociais.
Claro está que os
telemóveis são roubáveis e os sticks de memória perdíveis entre o prato de
carne e a sobremesa. Mas são cópias, as imagens – pelo menos espero que o
sejam. Não é grave! Haverá sempre a possibilidade de as copiar de novo, de
criar novos ícones em tudo idênticos aos primeiros pelo simples processo de
copy/past ou send.
Mas, no meio de toda esta
tecnologia, nestas transferências energéticas de um integrado para outro, onde
ficam os afectos?
A um óleo, pastel,
miniatura esmaltada ou papel fotográfico, é possível atribuir valores afectivos
simbólicos. Esta folha de papel representa aquela pessoa.
São únicos: a pessoa e o
seu significante!
A matéria de suporte da
imagem assume e fica impregnada de carinhos e dedadas. As tonalidades, os
tamanhos e as texturas tornam-se tão íntimas quanto o corpo da pessoa amada.
E quando o suporte não
existe de facto?
Quando a sua existência
depende de um click e a energia se transforma noutra coisa qualquer?
Quando é repetível até ao
infinito, sem que se perca um só detalhe ou electrão?
Serão os afectos também
repetíveis?
Ou deletáveis?
É possível fazer
copy/past de um sentimento? De um amor ou de um ódio? De um carinho ou afago?
Nesta sociedade de
informação onde a imagem é rainha, não será que a sua super-abundância e
facilidade de processamento e repetição um extinguir da sua importância?
terça-feira, 29 de maio de 2018
Calhou!
Calhou dar uma olhada numa página de net com centenas de
fotografias e nomes relativos à televisão portuguesa. No caso, relativas à RTP.
E juro que me doeu!
Fotografias de bastidores e pessoas, feitas já este ano, no
início das transmissões e entre uma coisa e outra.
Foi divertido ver gente que conheço, gente que conheci,
equipamentos com que trabalhei e que recordo, situações divertidas ou neutras.
Mas o que doeu mesmo foi o que não encontrei. Nem uma que
fosse sobre a produção de programas infantis e de quem a eles se dedicou. Como
se a faixa infanto-juvenil do público fosse menor e não merecesse destaque. Ou
quem para ela trabalha.
Sei, por experiencia própria, que essas fotografias existem.
Participantes, profissionais da RTP, cenários e programas.
Mas se a fotografia é (também) documento do passado, parece
que “os infantis” foram varridos da história.
E, no entanto…
Os adultos de hoje cresceram a ver o que foi produzido e
emitido, aprendendo as letras e os números, mostrando-se-lhes horizontes e
novidades numa linguagem própria às suas idades e longe das complexidades da
informação, desporto, talk-shows e ficção.
Foi (é!) todo um grupo de profissionais que dedicou (dedica!)
o seu tempo e esforço ao futuro, procurando dar-lhe bases para crescer e ser
alguém.
Mas a verdade é que a programação infantil e juvenil, tal
como a literatura, o teatro e as actividades lúdicas, são produtos menores, não
meritórios de parangonas ou de pompa e circunstância.
Este meu “amargo” é tanto mais profundo quanto eu estive
envolvido, qual formiga no formigueiro, na produção e divulgação de centenas de
horas de programas infantis. Uns perdidos no tempo, outros sempre recordados
com sorriso, como a “Rua Sésamo”.
Nada de protagonismos neste desabafo ou tristeza. Era eu
mais um entre tantos, de todas as funções e responsabilidades, da forma ao
conteúdo, passando pela responsabilidade acrescida de ter sempre (sublinhe-se o
sempre) cuidados nas abordagens pedagógicas.
Resta-me a consolação de caminhar na rua e saber que todos
ou quase todos os que vou encontrando se divertiram, aprenderam e cresceram a
ver o nosso trabalho.
Mesmo que ele esteja neutralizado pelo brilho da efemeridade
das actualidades e vaidades.
Tenham um bom dia e não descurem, como nós não descuramos,
os produtos que disponibilizam aos vossos filhos e netos.
By me
segunda-feira, 28 de maio de 2018
Heranças
Já lá vão uns anos valentes.
Uma ocasião uma colega perguntou-me se eu poderia positivar
uns negativos antigos que possuía. Coisas de família. E eu disse que sim.
Só não esperava aquilo que me esperava: uma caixa de
sapatos, dos grandes, cheia de negativos. Todo o tipo de negativos, em todos os
formatos. Incluindo em vidro.
Levei tempo a tratar da “encomenda”. Ampliadas ou por
contacto. Não apenas pela quantidade mas, e principalmente, pela preciosidade
de ter a história de uma família assim reunida nas minhas mãos.
E foi uma ternura fazê-lo. A dado passo já reconhecia os
fotografados. Pelas feições, pelos locais, por aqueles com quem estavam. E
vê-los crescer, de infantes a adultos, no casório, nos baptismos, nos
envelhecimentos… Creio que só estavam excluídos os funerais, mas também creio
que ninguém fotografa funerais.
Para aqueles que têm, hoje, o mau hábito de apagar
fotografias, fica a recomendação: não privem os vossos descendentes do prazer
de vos conhecerem. Tanto pelas imagens do que são como pelas imagens que
acharam interessante fazer.
Fotografar também é registar o presente para os vindoiros.
E não! Estas fotografias não são dessa família. Encontrei-as
num alfarrabista e fiquei com elas por tuta-e-meia.
Talvez um dia (quem sabe?) venha a saber quem foram.
Efeméride
Leio por aí que na data de hoje, em 1871, terminou a Comuna
de Paris.
Deixo aos mais curiosos o irem saber o que foi.
Mas acrescento que essa revolta foi fotografada pelos
fotógrafos de então, com os seus equipamentos pesados, deixando-se os
revoltosos fotografar. Pela satisfação de serem objecto de uma fotografia
(coisa rara e reservada à burguesia de então) e pela satisfação de estarem nas
barricadas por aquilo em que acreditavam.
Terminada a revolta, as autoridades policiais rebuscaram os
estúdios fotográficos e, com base nas fotografias feitas, identificaram,
prenderam e fuzilaram os revoltosos.
Esta é uma das imagens dos executados, feita por Disderi.
Fica o aviso para os que gostam de fotografar momentos mais
conturbados nos dias de hoje, que as práticas continuam iguais. Talvez que sem
fuzilamentos.
By me
domingo, 27 de maio de 2018
Ter cabeça para
Certo! Por vezes são as
velharias que nos trazem satisfação. Ou a manutenção de velhos hábitos.
Nesta imagem vêem-se as
cabeças de dois tripés, um Benbo e um Gitzo. Uma delas suporta uma Pentax K7,
com uma vetusta SMC 50mm f/1,7.
E o que é que a esquerda
tem a ver com a direita? O facto de estarem aqui duas cabeças de tripé
idênticas. Manfroto #115.
Tenho a cabeça da direita
há já não sei quantos anos. Muitos. É a cabeça que uso por sistema aqui em
casa, no que vou fazendo, aplicada no Benbo. No Gitzo, mais portátil e passível
de levar para o exterior, tenho usado uma rótula , igualmente Manfroto.
Mas não é o mesmo
trabalhar com uma rótula esférica e com uma cabeça destas.
Esta tem uma geometria
muito própria, um trabalhar único e quem não estiver habituado a ela, terá
algumas dificuldades. Mas eu estou e as minhas mãos usam-na como uso a minha
caneta de tinta permanente: naturalmente, sem esforço e com satisfação.
Mas trata-se de uma peça
já difícil de encontrar, porque descontinuada no seu fabrico. O fabricante
oferece outros modelos, equivalentes e que não experimentei. Mas que não
parecem tão ergonómicos.
Há uns anos tive a satisfação de encontrar uma à venda em
Lisboa. Numa loja de artigos fotográficos usados, fazia parte de um conjunto
tripé/cabeça, mas consegui convencê-los a separa-los e vender-me em peças: só a
cabeça.
A grande vantagem desta
compra, ligeiramente mais cara que se comprada num leilão on-line, mas com a
garantia do seu estado perfeito, é que pude assim dedicar umas boas horas à
manutenção da mais antiga (desmontar, limpar, lubrificar, remontar, afinar) sem
ter que ficar com um tripé “descabeçado”.
Para quem nunca tal peça
usou, recomenda-se, com as devidas cautelas pela estranheza inicial.
E para quem realmente
gostar, como eu, e quiser comprar uma, não me contacte: não tenciono vender
nenhuma, que aquilo de que gostamos não nos desfazemos.
Acrescento que também não
está à venda nem a rótula nem as outras duas Gitzo, uma “Repórter baby” e uma
clássica, nº3, para grande formato.
Um bom tripé é
fundamental. Todos o sabemos. Mas o que muitos ignoram é que a sua cabeça é
ainda mais importante.
Tal como a do fotógrafo.
Jornalismo de pacotilha
É sempre divertido ver as opções editoriais dos jornais
on-line.
O caso do sporting passou para segundo plano, o referendo
sobre a despenalização do aborto na Irlanda não chegou a primeiro plano, o
prémio atribuído a Souto Moura ficou meio escondido nas primeiras páginas, a
polémica sobre a eutanásia está em banho-maria…
As atenções centram-se, maioritariamente, no jogo de bola de
ontem, nas declarações enigmáticas de Ronaldo, no congresso do Partido
Socialista…
As excepções que encontro são um tablóide que cita Bruno de
Carvalho a “sacudir a água do capote”, só para assinantes, e um semanário que,
com fotografia e tamanho de letra equivalentes aos do congresso, afirma só para
assinantes que Marcelo Rebelo de Sousa não irá promulgar uma lei sobre a
eutanásia que ainda nem está escrita e sobre a qual não tem querido
pronunciar-se.
Ferro Rodrigues terá dito que os políticos não deveriam ser
criminalizados pelas decisões políticas que tomam. Discordo!
E lamento que os jornalistas não possam ser criminalizados
pelos subentendidos que emanam, quantas vezes sem bases sólidas para tal.
By me
sábado, 26 de maio de 2018
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Enquanto a opinião e
decisão de alguns se impuser no modo de vida de todos, a liberdade estará do
outro lado da linha do horizonte.
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Velharias
“...
Durante décadas
pictoralistas y puristas se enzarzaton en violentos debates sobre la
legitimidad del retoque, pero el comercio, que no entiende más que de la
satisfacion del cliente tradicida en benificio económico, no veía reparo alguno
en valerse de um recurso híbrido que procedía del debujo o de la pintura. Lo
paradójico – y tambiém lo más interesante – era la absoluta nesesidade de su
camoflaje, resumido en la máxima de que “un buen retoque es el que no se nota”,
porque un retoque mal ejectuado nomitigaba los defectos de un rosto sino que
atraía la etención hacia ellos y por tanto los acrescentaba. Es comprensible,
en consecuencia, que esta clase de prática fuera tan denostada por los
puristas, porque significaba la incursión contaminante de un recurso estraño al
medio, como también por los picturalistas, porque se trataba de una
intervención pictórica no asimida, bastarda, que se avergonzaba de sí misma.
...”
Texto: in “El beso de
Judas, fotografía y verdad” de Juan Fontcuberta, 1997
sexta-feira, 25 de maio de 2018
Estamos a entrar numa era tecnologicamente assustadora!
Entro numa loja da EDP para fazer um pagamento. E a resposta
que tenho é que só aceitam pagamentos em cartão, não em numerário.
“Desculpe, mas eu quero pagar em notas e moedas”, digo eu.
“É que a máquina está avariada”, e apontam para uma máquina
de pagamentos, “e só o sistema multibanco funciona.”
“Está a dizer-me que não posso pagar em notas e moedas, o
dinheiro que circula legalmente no nosso país?”
“Pode, mas não aqui. Se quiser, dirija-se a uma loja payshop
que aceitam em dinheiro vivo.”
“Então… Mas… Numa empresa grande como a vossa não aceitam
dinheiro? Não estão aqui tantos funcionários para poder receber? Em Portugal?”
“Se fosse EDP Regulada poderia ser assim. Mas como somos a
EDP Liberalizada… Por estes dias, e até a máquina estar reparada, não recebemos
pagamentos em numerário.”
Sou teimoso e as minhas convicções são sólidas: só uso
pagamentos electrónicos quando não tenho alternativa. E fui a uma loja, a uns
cinquenta metros de distância, pagar o que tinha que pagar.
Mas fica-me a pergunta: será legítimo que uma empresa recuse
pagamentos em dinheiro vivo? Muito abaixo do valor imposto por lei, acima do
qual só por transferência bancária? Pode uma entidade recusar a moeda nacional
em circulação?
Acho que vou ter que fazer umas consultas sobre a legalidade
da situação.
By me
Como é que é?
Leio num jornal que
“...O governo quer acabar com os bancos de horas individual e grupal com
origem em acordos individuais, mas na proposta que levou ontem à concertação
social deixa cair a exigência de os bancos de horas apenas poderem ser
instituídos através de negociação coletiva. Em alternativa defende a sua
criação por acordos de grupo, desde que os trabalhadores sejam consultados e
65% concordem.
...”
Espera lá!
Isto não é uma tentativa de destruição dos sindicatos e da contratação
colectiva?
Que mais estará na manga?
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Grocas?
O conceito de “Adeus” tem
aquele saborzinho a eternidade de que não gosto.
Não há coisas eternas,
nem mesmo o universo ao que sabemos, pelo que dizer adeus, que é para sempre,
soa-me a contra-natura.
Além do mais tem um toque
de divindade, de submissão a um ente supremo, todo-poderoso e invisível, que
também me incomoda. Sou demasiadamente materialista e humano para tal aceitar,
assim, só porque mo dizem. E demasiado insubmisso também.
Prefiro, bem de longe, um
muito agnóstico e cheio de dúvidas “até logo”.
Algures no muito
relativizado espaço/tempo e no imaterial da memória nos encontraremos, nuns
mais cedo, noutros mais tarde.
quinta-feira, 24 de maio de 2018
Conservadores da treta
Assusta-me o conservadorismo ideológico (de esquerda ou de
direita) que recusa ao individuo o direito a decidir da sua vida e/ou morte.
Ao ordinário as medidas ordinárias, ao extraordinário as
medidas extraordinárias.
E acabem-se com as prisões sociais que amarram os cidadãos a
teorias e/ou teologias arcaicas e bacocas!
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É doloroso ver como alguns, poucos, iluminados querem e podem decidir como todos os outros devem viver. E morrer.
E, com isso, escurecerem um dos princípios básicos da democracia que é suposto defenderem e representarem: a liberdade.
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E, com isso, escurecerem um dos princípios básicos da democracia que é suposto defenderem e representarem: a liberdade.
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segunda-feira, 21 de maio de 2018
Diatribe sobre reportagens fotográficas
A fotografia conta histórias. Ou estórias.
E o quotidiano está cheio de estórias e histórias. Boas e
más, belas e horrendas.
Enquanto os fotógrafos de reportagem continuarem na linha em
que só o mau e horrendo merece ser fotografado, enquanto os media continuarem
na linha em que só essas merecem ser publicadas, enquanto o público prestar
mais atenção a essas… Não creio que possamos melhorar o mundo em que vivemos.
Que os exemplos formam, queiramos ou não, a nossa forma de
nos comportarmos.
E, em caso de dúvida, veja-se o que acontece com as crianças:
as que têm bons exemplos em casa e circundante e as que não os têm e como se
comportam enquanto crianças e enquanto adultos. Não será regra inquebrável, mas
é o que acontece na maioria dos casos.
Ou o que sucede com os adultos que privam com quem tem
comportamentos negativos e o que sucede com quem comportamentos positivos.
A fotografia de reportagem, que mostra ao público aquilo que
ele não tem possibilidade de ver ao vivo, funciona como exemplo. Os bons e os
maus.
E, de um modo ou outro, condiciona comportamentos.
O sermos permanentemente “bombardeados” com imagens do
horror que vai acontecendo pelo mundo, depois do choque inicial, passa a banal.
E, em seguida, passa a evento inconsequente. Exemplo de comportamento que pode
ser seguido.
Não sou a favor da divulgação de imagens, fotográficas ou
outras, que exclusivamente pintem de “cor-de-rosa” o mundo em que vivemos. Que
essa não é a única realidade. Mas o seu oposto também não é a única realidade. O
ser humano não vive, em exclusivo, na violência, na destruição do que o cerca.
Mostrar os dois lados do comportamento humano e deixar que
cada um escolha o seu caminho é, talvez, o mais certo. Deixando que o belo e o
horrendo coexistam na fotografia e permitir que que o primeiro se sobreponha
nos comportamentos.
Claro que há imagens, reportagens, que despertam
consciências e modificam atitudes. Recordo, assim de repente, do massacre de
Dili, dos horrores do Vietnam, da fome em áfrica. Acordaram o mundo.
Claro, também, que o público consome essas imagens ou
reportagens como forma de sublimação dos seus próprios males: enquanto vêem
acontecer lá longe, dão graças por os seus problemas não serem tão grandes.
Mas não existirem contrapontos, se as reportagens, no seu
todo, não mostrarem que há alternativas, tudo isso passará a ser banal. Quiçá
exemplos a seguir.
Fotografe-se e divulgue-se o que de mau acontece. Mas não se
faça disso o objectivo único da fotografia ou da reportagem fotográfica. Ou das
capas dos media, seja qual for o suporte.
By me
.
O termo e conceito “inevitável” são consequência inevitável do
conformismo.
Do aceitar que as coisas, a vida, o universo, são incontroláveis,
que nada podemos fazer para as modificar ou melhorar.
Sendo certo que nós mesmos – os humanos – fazemos parte do
universo, seja qual for a percentagem ou o conceito teológico que lhe possamos
dar, tudo o que fazemos é consequência e está na origem de tudo o mais.
O conformismo – o inevitável – é o alijar de
responsabilidades, é o deixar ao “fado” o nosso próprio destino.
Talvez que seja pedantismo da minha parte, mas não aceito inevitáveis,
nem fados nem destinos.
O que fui, sou ou serei depende de mim e do que fizer. De
bom e de mau.
O conformismo (outra forma de dizer comodismo) não faz parte
da minha forma de viver.
.
D'arquivo
O
registo que tenho, texto e imagem, é este. E, se a memória me não falha, a
conversa terá sido quase textualmente assim, há uns quatro ou cinco anos.
- Estou sim, bom dia.
- Bom dia!
Estou a falar com o senhor Duarte?
- É o
próprio.
- O meu
nome é Maria Silva e estou a falar em nome da empresa XPTO…
- Só um
instante, que a minha memória é fraca. Deixe-me tomar nota… Disse-me que o seu
nome é Maria Silva?
-
Exactamente. E queria perguntar-lhe…
- Só mais
um bocadinho. E disse-me que fala da empresa XPTO?
- Disse
sim. E queria saber se…
- Um
momento. O meu telefone deve estar com uma avaria, já que não vejo aqui o seu
número.
- É
natural, já que estou a falar da empresa XPTO e queria…
- Espere!
Então é natural que não saiba o seu número?
- Sim,
mas…
- Bem, não
me parece cordial eu estar a falar com alguém de quem não posso confirmar a
identidade. Quer fazer-me o favor de me dizer de que número está a falar?
- Sabe:
não o posso fazer. Estou a falar de um sistema automático e as regras da
empresa…
- A sua
empresa não autoriza que se saiba o vosso número?
- Não, são
as nossas regras. Mas eu queria saber se…
- Pois
essas serão as vossas regras mas não são as minhas, p’la certa. Vamos fazer
assim: a senhora liga-me de novo, de um número identificado, e a conversa pode
prosseguir a partir deste ponto.
- Não
posso fazer, lamento. Mas o meu objectivo é…
- O seu
objectivo não sei e não creio que o venha a saber. Para que haja uma conversa é
necessário que ambos os interlocutores estejam em pé de igualdade. E não me
parece que seja o caso.
- Bem,
nesse caso terei que desligar.
- Faça o
favor, já que não fui eu que fiz a chamada. Bom dia!
By me
domingo, 20 de maio de 2018
Ser Fotógrafo
É uma daquelas coisas
curiosas: não conheço uma só biografia de fotógrafo que diga que tenha sido má
pessoa. Nem conheço um fotógrafo que seja má pessoa.
Não significa isto que
não tenham existido ou existam. Apenas que eu não conheço.
Passa isto, penso, por a
fotografia implicar uma relação positiva e de partilha com o mundo circundante,
sendo um sério entrave à prática da maldade ou do egoísmo.
Esta é uma opinião.
Passível de ser contestada, naturalmente, mas é a que tenho.
Ciente disto, durante os
anos em que trabalhei com jovens para que aprendessem os rudimentos da
fotografia ou vídeo, e um pouco mais que isso, sempre tentei transmitir-lhes
essa noção da partilha ou intimidade com o mundo e o assunto registado. E ainda
hoje o tento, sabendo que quanto maior for, mais satisfação ou sucesso se tem
no registo da imagem. Para o próprio e para com os clientes.
Nem sempre o consegui.
Naturalmente que nem todos os jovens que tentavam essa via profissional estavam
particularmente vocacionados para isso e, apesar de nunca ter reprovado nenhum,
alguns ficavam-se pelos limites mínimos dos objectivos propostos.
Passados que são alguns
valentes anos, vou encontrando alguns deles. Na vida real, nas redes sociais,
por interpostas pessoas, por mero acaso ou profissionalmente. E vou sabendo o
que fazem e no que se tornaram. O que pensam, as opiniões que emitem, as
atitudes que tomam…
E apenas vou reforçando a
minha opinião, confrontando o rendimento escolar de então com o que são hoje.
Os que hoje, adultos que
são, têm atitudes pedantes, opiniões de desprezo para com os outros, sectários
sociais, alguns a roçar o racismo ou xenofobia, são exactamente aqueles que,
enquanto estudantes, nunca demonstraram grandes qualidades no campo da
fotografia ou vídeo. E o contrário é igualmente verdade. Pouco importando o
rumo profissional que seguiram, uns no ramo, outros fora dele, que a vida é
isso mesmo.
Não é necessário
praticar-se a fotografia para se ser boa pessoa. Mas é imperioso ser-se bom e
generoso para com o mundo para se ser Fotógrafo com F maiúsculo.
By me
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“Dai-me uma alavanca e um ponto de apoio e moverei o mundo!”,
disse um antigo filósofo.
Eu, que não sou nem antigo nem filósofo, digo que “Dai-me um
porrete e pontaria e melhorarei o mundo!”
.
sexta-feira, 18 de maio de 2018
Bolos e pasteis de nata
De
que adianta fabricar excelentes bolos de casamentos se as mesmas mãos produzem
pasteis de nata intragáveis? De que adianta um criativo arquitecto paisagístico
se a relva e as sebes não forem aparadas e cortadas? De que adianta boas vozes
em palco se a sala estiver suja?
Não
há tarefas menores nem indignas! Todas têm que ser igualmente desempenhadas,
com o mesmo brio e aplicação, sejam elas de grande visibilidade ou discretas e
escondidas nos bastidores.
Uma
ocasião, aquando de um trabalho complexo e de projecção nacional, tive que
dividir a equipa que tinha por dois grupos: um para esse projecto, outro para o
restante trabalho, rotineiro.
Escolhi
os elementos para um grupo e outro e conversei com ambos, descrevendo-lhes as
tarefas.
Ao
grupo do “trabalho menor” expliquei que os tinha escolhido para ele porque
precisava de gente de confiança para garantir que aquele trabalho decorreria tão
bem ou melhor que o de excepção e que ele não deixaria por mãos alheias a
qualidade do todo.
O
resultado foi o esperado: bem executado, sem escolhos ou problemas, com um
empenho e desempenho acima da média.
Por
vezes, a qualidade dos trabalhos, e para além das competências de cada um,
depende da forma como as motivações são descritas e satisfeitas, bastando para
tal uma pequena conversa.
Claro
que haverá sempre quem entenda que não deve fazer os “trabalhos menores”, que o
seu destino é fazer os de “pompa e circunstância” e que caberá à ralé cuidar da
relva, fazer os pasteis de nata e limpar a sala. E que fica ressabiado quando não
integra o “grupo de elite”.
Confesso
que prefiro não ter que trabalhar com este tipo de gente.
Quase
me fazem “saltar a tampa”!
By me
Assustador
Ontem fui obrigado (e este é o termo) a ouvir um comentador
de futebol. Daqueles que têm lugar cativo numa das estações de televisão.
Durante quase quinze minutos, aquele cavalheiro fartou-se de
falar, dizendo um montão de palavras sem dizer coisa nenhuma, insinuando um a
enormidade de acusações e suspeitas sem dar um nome, número ou data.
Intriguice no seu melhor, inflamando os ânimos de quem tem
já de si opinião formada, mas conseguindo chegar ao fim sem que lhe possa ser atribuída
uma só responsabilidade.
Fala-se da autoria moral dos acontecimentos em Alcochete. Este
será, hipoteticamente, um excelente exemplo.
E todas as estações de TV estão repletas de gente que se
farta de insinuar sem acusar, deixando à imaginação exaltada do público o
completar o que foi sugerido.
Confrontar estes senhores com as suas declarações seria, no
meu entender, uma boa forma de resolver o problema, começando por
responsabiliza-los pelo que sugerem cobardemente.
By me
Baratas
Parece que houve uma invasão de baratas numa sala do
Parlamento.
E, com isso, uma interrupção de trabalhos dos deputados,
obrigando-os a mudar de sala.
Será sintomático pensar que as baratas conseguiram aquilo
que os portugueses não foram capazes de fazer durante anos.
By me
quarta-feira, 16 de maio de 2018
Pergunta-se
Seis!
Seis jornais lidos esta manhã e todos têm como notícia de
abertura a questão do sporting, das agressões de ontem, da final da taça, das
eventuais demissões dos jogadores, das consequências económicas…
Mas não nos enganemos: não é exclusividade do sporting! O
benfica já o foi, tal como o porto.
Que país é este que faz do futebol a sua principal
preocupação?
.
segunda-feira, 14 de maio de 2018
.
Um trabalho bem feito não merece ser alvo de elogios.
Elogiar um trabalho bem feito, como estava previsto, é o mesmo que elogiar o gasolineiro que enche o tanque quando lho pedimos. Ou quando o médico faz o diagnóstico certo e a prescrição adequada.
O elogio deve ser usado quando a tarefa é executada acima das expectativas. Quando o extraordinário acontece em contraponto ao ordinário.
Fazer um elogio perante algo que aconteceu como deveria acontecer é demonstrar que as expectativas eram baixas. É dizer, por outras palavras, que não se esperava que o objectivo fosse alcançado. É afirmar que não se acreditava na possibilidade de quem o executa fosse capaz de o fazer.
Sucede o mesmo perante a recriminação.
Um resultado abaixo do normal deve ser objecto de observação, crítica. Porque a expectativa de ser bem feito foi gorada. Porque aquilo que deveria acontecer não aconteceu.
O ordinário, o normal, não deve ser alvo de observações. Só o extraordinário, (positivo ou negativo) pode e deve ser comentado.
O mal deste país é que temos sempre uma opinião negativa a nosso respeito. Estamos sempre é espera que as coisas corram mal, que os objectivos não sejam alcançados, que nos fiquemos pela mediocridade como se isso fosse o ordinário.
E quando conseguimos algo de bem feito, de acordo com os padrões generalizados, embandeiramos em arco, fazemos festa, inchamos de orgulho.
E isso é estúpido. Que somos capazes de fazer tão bem como qualquer outro. Que o nosso ordinário pode ser sempre acima do medíocre sem para tal tenhamos que nos empenhar ao nível do extraordinário.
By me
Elogiar um trabalho bem feito, como estava previsto, é o mesmo que elogiar o gasolineiro que enche o tanque quando lho pedimos. Ou quando o médico faz o diagnóstico certo e a prescrição adequada.
O elogio deve ser usado quando a tarefa é executada acima das expectativas. Quando o extraordinário acontece em contraponto ao ordinário.
Fazer um elogio perante algo que aconteceu como deveria acontecer é demonstrar que as expectativas eram baixas. É dizer, por outras palavras, que não se esperava que o objectivo fosse alcançado. É afirmar que não se acreditava na possibilidade de quem o executa fosse capaz de o fazer.
Sucede o mesmo perante a recriminação.
Um resultado abaixo do normal deve ser objecto de observação, crítica. Porque a expectativa de ser bem feito foi gorada. Porque aquilo que deveria acontecer não aconteceu.
O ordinário, o normal, não deve ser alvo de observações. Só o extraordinário, (positivo ou negativo) pode e deve ser comentado.
O mal deste país é que temos sempre uma opinião negativa a nosso respeito. Estamos sempre é espera que as coisas corram mal, que os objectivos não sejam alcançados, que nos fiquemos pela mediocridade como se isso fosse o ordinário.
E quando conseguimos algo de bem feito, de acordo com os padrões generalizados, embandeiramos em arco, fazemos festa, inchamos de orgulho.
E isso é estúpido. Que somos capazes de fazer tão bem como qualquer outro. Que o nosso ordinário pode ser sempre acima do medíocre sem para tal tenhamos que nos empenhar ao nível do extraordinário.
By me
sexta-feira, 11 de maio de 2018
All abord
Ontem fui engolido por uma pequena multidão.
Não foi a primeira vez, ainda que procure evitar tais
situações que, em regra, acontecem depois de grandes eventos: espectáculos musicais
ou desportivos.
Essas pequenas multidões, por vezes grandes, têm uma característica
comum: em saindo ou terminando o evento, vêem-se sorrisos estampados das
pessoas. Após um “Rock em Rio”, ou um mega concerto no Coliseu ou na grande sala
do Parque das Nações, ou um jogo de bola num estádio ou uma corrida na cidade,
a esmagadora maioria das pessoas estão a sorrir. De satisfação pelo momento que
viveram, de satisfação pela vitória do seu clube, de satisfação pelo que
assistiram…
Claro está que em situações de desporto haverá sempre os que
estão tristes ou que protestam pela derrota dos seus favoritos. Mas os sorrisos
de satisfação estão espalhados pelos restantes. Muitos.
Ontem, a multidão – pequena – que me engoliu vinha da semi
final do eurofestival.
Estavam em pequenos grupos, como acontece em eventos
musicais, neste casos unidos pelas nacionalidades. E até unidos pela
diversidade de nacionalidades, que vi gente com bandeiras distintas em amenas
cavaqueiras, unidos apenas pela língua inglesa que usavam.
Mas tinham algo em comum, a esmagadora maioria: não vinham a
sorrir. Não vi, naquelas muitas centenas de rostos de quase todas as idade, a
satisfação habitual de quem viveu algo que quer guardar na memória. Os seus semblantes,
na maioria, estavam quase tão neutros como os de quem acabou de cumprir uma
jornada de trabalho ou uma viagem rotineira.
Tal como não os ouvi a trautear as músicas que tenham
ouvido. Nem as dos países com os quais se identificam nem quaisquer outras que
por lá tenham ouvido.
Não fora as bandeiras e a multiplicidade de origens e seria
difícil saber porque estariam todos ali.
A relevância desta minha constatação prende-se com o que
venho dizendo, contra ventos e marés: Estes festivais-competição são pouco mais
que inúteis! Fúteis, arriscaria a dizer.
A sua mediatização, o negócio que lhes está subjacente, a
necessidade que muitos têm de comparecer onde todos os outros estão para se
sentirem alguém, cria como que uma “histeria colectiva” breve e inconsequente.
O público comparece porque sim, mas o que vivem em tal evento é “sol de pouca
dura”. Que a maioria nem recorda, passado pouco tempo, o que ouviu.
Claro que há muitos milhões, por cá e pelo resto do mundo,
que contestam o que digo. Que organizam as suas vidas para a tal acompanharem. Que
marcam viagens e vã. Que alteram as suas horas e rotinas de jantar para assistirem
à sua transmissão.
Mas a verdade é que, se abrirmos os ouvidos nas ruas e
cafés, não ouvimos comentários sobre o espectáculo da véspera. Ao invés do que
acontecia há uns anos. E se perguntarmos aleatoriamente sobre os vencedores dos
anos anteriores, e para além de Salvador Sobral, recordam um intérprete de
aparência “sui géneris” e polémica e pouco mais.
Façam-se festivais, que o público gosta. Mas não se “embandeire
em arco” na sua importância. Duram tanto na memória quanto a novela que se
segue diariamente.
By me
quarta-feira, 9 de maio de 2018
Fast knowledge
Chamem-me tudo o que
quiserem e mais um par de botas! Até me podem chamar de bota-de-elástico! Mas
eu juro que há coisas que me fazem sair do sério!
É que não entendo,
melhor, desagrada-me profundamente, constatar que há quem saia de cursos
relacionados com a captação de imagem, cursos profissionais ou cursos
superiores, sem saberem em detalhe como funciona um diafragma ou qual a relação
matemática entre os números que o compõem.
Caramba! Não estamos a
falar de “amadores”, de pessoas que vão tratando o fazer de imagem como um
passatempo de que gostam muito e que levam muito a sério. Estamos a falar de
gente que irá fazer disso a sua profissão, que lidarão com o fenómeno da luz e
seu tratamento diariamente.
E tenho para mim que
saber que I=1/D² (variação da intensidade da luz com a distância) e que A=∏R²
donde 2A=∏(√2*R)² (área do circulo e sua variação) é entender parte do
comportamento da luz e como os mecanismos que usamos para a controlar
funcionam.
Obviamente que não conheço
ninguém ligado a esta actividade que tenha estas fórmulas sempre presentes ou
que se ponha a fazer este tipo de contas cada vez que reposiciona uma fonte de
luz ou altera a abertura de diafragma com que está a trabalhar.
Mas saber que elas
existem, ser capaz de, em parando para pensar, chegar a elas para resolver uma
situação mais elaborada, será vital ao conhecimento de um sério profissional da
captação de imagem.
E não entendo como pode
uma escola, de nível profissional ou superior, considerar apto alguém que não o
saiba.
Melhor dizendo, entendo!
São locais de aprendizagem “de carregar pela boca”, em que importa bem mais ter
as turmas completas para que a facturação com as propinas resulte nos valores
de lucro desejados pelos seus proprietários. E que as taxas de aprovação sejam
suficientemente altas para agradar aos candidatos, sem passar pela maldita
matemática. Será o hamburguer do conhecimento ou, se preferirem, o
fast-knowledge.
Mas ainda ninguém me
convenceu que esta frase está errada: “Se eu souber porquê, saberei como!”
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