segunda-feira, 24 de março de 2025

Não há fome que não dê em fartura!


 


Há já uns anos encontrei na Feira da Ladra este alicate de um Pica. Perdão, de um cobrador ou revisor de autocarro ou comboio.

Achei graça ao achado, não apenas pela raridade mas também pelo simbolismo: o “Trinca Bilhetes” era o terror dos borlistas e apanhar com ele na cabeça ou nos nós dos dedos era particularmente doloroso. 

O alicate era o símbolo da tirania!

Há uns dias, numa feira de colecionismo (onde fui pela graça do tema e sem intenções de gastar dinheiro) encontro uma banca cheia de bilhetes de autocarro. De vários valores, de 0$80 a 7$50, alguns com publicidade no verso. Interessante e apelativo a memórias distantes.

Mais à frente, noutra banca, um guia da carreiras da Carris, com percursos e horários. Data? Está na capa: 1967. Um ano depois começava eu a ser passageiro a solo a caminho da escola ou liceu.

Lá acabei por gastar algum (muito pouco), pensado em crónicas e fotografias.

Em casa, dei voltas e mais voltas para descobrir onde parava o bendito alicate. Sem sucesso até ter desistido e optado por uma estratégia diferente: quando o encontrar, e vai ser quando menos esperar, logo trato de abordar o assunto. Acabei por o encontrar hoje de manhã, numa caixa cheia de muitas outras tralhas.

Há pouco completei o ciclo: ao ir consultar um livro, que descobri ter sido adquirido em 2002 e numa livraria entretanto fechada, encontrei um marcador de página especial: um bilhete pré comprado (um BUC) de duas viagens. Um símbolo de transição entre o cobrador e a bilhética electrónica. E o início do fim do uso do alicate.

Falta-me, para completar a “coleção”, a mala do cobrador, em cabedal e com as divisórias para notas e moedas e transportada a tiracolo, e o estojo do alicate, com correia de travamento e mola, usado no cinto. 

O ter DNA (Data de Nascimento Antiga) faz-nos ter estas memórias e, no caso de alguns, os objectos de então.

Nota adicional para os mais novos ou não naturais das grandes cidades: à época destes bilhetes coloridos, as viagens urbanas eram pagas em função da distância percorrida, tal como hoje nos comboios ou carreiras de longo curso.

Aquando da cobrança era furado com o alicate o número correspondente ao local de embarque. Em função do preço pago assim ficava definido o limite da viagem.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


By me

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