domingo, 16 de março de 2025

Frascos


 


Encontrei estes dois numa loja de objectos de vidro, em Lisboa.

Fui a ela de propósito, por via de um galheteiro que me convencesse, mas nada me prendeu a atenção.

Excepto estes frascos. Caiu-me em cima um manto de nostalgia que me fez retroceder muitos anos, aos meus tempos de catraio. Na casa de família havia-os iguais, no formato e cores de tampa mas francamente maiores, talvez com o triplo da capacidade. O que não estranho, já que éramos seis sentados à mesa todos os dias.

Tinham, ou têm, uma característica que hoje é francamente rara de encontrar: a robustêz. Vidro grosso, capaz de não se importar se escorregar das mãos e embater na pedra do balcão ou pia. Os de hoje, por bonitos que sejam, ficam logo lascados ou mesmo em cacos com pequenos acidentes.

Na época em que os recordo, esses acidentes não poderiam acontecer, que a substituição custava dinheiro. E esse não abundava. Além do mais, aquilo que se guardava nestes frascos eram comprado a granel e pesado no balcão da mercearia ou venda, não havendo sacos de plástico onde pudessem ser guardados em casa. Na melhor das hipoteses, ficaria nos cartuchos de papel pardo riscado onde era transportado para casa, com o topo fechado e dobrado e um cordel a garantir que não se abriam.

Esperaram eles, os frascos, que tivesse inspiração para a fotografia e as palavras já aqui andassem a bailar. Foi hoje, nesta viagem aos meus tempos de catraio, que os estreei com recheios apropriados à forma, função e memória.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5


By me

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