quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Celebrando



Volta e meia acontece: encherem-se os jornais (e as redes sociais) da celebração da morte.
Não no dia para tal definido por religiões e hábitos seculares, mas porque morreu este ou aquele, ilustres nas artes, nas letras, nas ciências…
E todos têm uma palavra de apreço, um elogio para com o defunto, um episódio comum para relatar e, de algum modo, transferir para quem conta o mérito de quem parte.
Confesso que não tenho jeito para elogios fúnebres. Para mais quando se trata de gente célebre, com quem tantos e tão ilustres privaram, leram, ouviram ou conversaram.
Confesso que prefiro celebrar os vivos, aqueles que tenho o prazer e privilégio de conhecer. E alguns que me fazem o especial favor de me conhecer pelo nome, mesmo que passados anos.
Hoje foi um desses momentos: de celebrar a vida.
O tropeçar num ser humano especial, para com quem o país tem uma dívida de todo o tamanho e que ele faz questão de não a cobrar ou explicitar.
Um homem que possuiu uma livraria e a quem eu chamava de “o meu livreiro”. Onde eu entrava e dizia: “Oh sr. A.: ponha-me a ler!” E ele olhava para mim, perguntava-me pelos dois últimos que tinha lido, e escolhia um das prateleiras. Nunca se enganou, caramba.
Encontramo-nos agora, quando calha. Que a livraria (e tertúlia) cá da freguesia fechou há uns anos, deixando-nos a todos bem mais pobres. E é uma festa, celebrando o que foi e fomos, o que é e somos, o que seremos e nos propomos ser e fazer. Que a idade e as maleitas ainda não nos apagaram o sonho de ser e fazer. Nem hoje nem os dos últimos 42 anos.
É sempre simpático celebrarmos os mortos. Uma espécie de exorcismo do que nos espera inexoravelmente.
Mas é muito mais agradável celebrarmos o presente, os vivos e o futuro que faremos!

A imagem? Uma celebração de vida, naturalmente.


(2007, Pentax K100D, 400mm, ISO 800, f/13, 1/750, jpeg)

By me

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