quarta-feira, 19 de outubro de 2016

.

A história é antiga. Um bocado antiga.
Quando comecei a trabalhar abri conta num banco para receber o salário. Era mais expedito e eu, chavalito que era, senti-me importante por ter conta num banco.
Acontece que essa conta rapidamente chegava a zero, que o salário era curto, o mundo era grande e eu era puto. (Hoje acontece-me o mesmo, pese embora ser bastante mais velho).
A certa altura aborreceu-me para além dos limites o ser menos bem tratado nesse banco. Eu e outros, que se não tínhamos conta choruda ficávamos um bom pedaço à espera para sermos atendidos. À época não havia net e a rapidez com que os cheques eram confirmados telefonicamente era directamente proporcional ao montante em depósito.
E mudei de banco.
A escolha de qual banco recaiu sobre um então recém aberto, cheio de novidades e modernidades. E eu fui na conversa durante uns tempos.
Até que os rumores passaram a declarações públicas e demonstração de factos: esse banco não contratava mulheres para os seus balcões porque tinham um índice de absentismo elevado.
Incomodou-me. Chateou-me. Deixou-me possesso.
E um dia entrei no balcão onde tinha conta e pedi para acabar com ela. Qual o procedimento para cancelar todo o nosso relacionamento.
Foi-me dito que bastaria retirar o dinheiro que lá tivesse e preencher um impresso com essa vontade. E, se possível, escrever o motivo de tal decisão.
Claro que não tive vergonha em o fazer. Custou-me foi ver a cara do funcionário quando leu o que escrevi. Educado, quase formal, mas contundente quanto bastasse, explicava eu que não dava dinheiro a ganhar a quem fazia segregação laboral baseado no género.

Tenho mantido essa atitude ao longo da vida: recusar manter contactos para além dos impossíveis de evitar com aqueles que de algum modo me ofendem nos meus princípios mais básicos. Instituições ou pessoas.
E a cada dia que passa estou menos tolerante e mais selectivo. Mas não menos incisivo!

 .

Sem comentários: