quinta-feira, 26 de maio de 2016

Postais ilustrados



Os postais ilustrados da modernidade já não se mandam pelo correio para os amigos ou parentes que não vieram de férias connosco: mandam-se por e-mail ou rede social.
Mas as que se compram-se encontram-se em bancas para turistas, já emoldurados, fotografia-tipo, com assuntos-tipo e tratamento-tipo, tão iguais entre si que podemos escolher uma de olhos fechados: as cores bem saturadas, as janelas, os batentes, os eléctricos (estes amarelos em fundo em preto e branco), as escadinhas, as ruínas…
É isso mesmo: as ruínas!
Quem quer que olhe para estas imagens que se vendem nos muros ou bancas de zonas turísticas constata que o Portugal assim ilustrado é a decrepitude dos locais, é o passado mal conservado, é a estagnação no tempo, é a tipicidade mantida para o turista antes que caia de velho e podre.
Como se o país que queremos mostrar fosse exactamente esse: velho, agarrado ao passado, podre.
Não vemos nesses “postais-ilustrados” a novidade nas cidades, a modernidade, a evolução, os espaços arranjados, as novas linhas arquitectónicas e paisagísticas… apenas o velho, quase a cair de podre, o típico a cheirar a mofo.
O que é grave é que, para além de impormos esta “imagem” aos turistas, também é isso que muito se fotografa pelos nativos.
Quem for dar uma olhada pelos sites e páginas de fotografia, verá que o comum amador (nenhuma carga negativa neste termo, por favor) também fotografa o “velho”, o “típico”, o “decrépito”… como se fosse uma obrigação só fotografar isso mesmo.
E, ainda mais grave, com a mesma abordagem estética: Detalhes descontextualizados, cores bem saturadas, a lembrar os maus catálogos de tintas, os centros de interesse a cor e o resto em preto e branco, como se o fotógrafo, mais que saber fazer um enquadramento, quisesse mostrar que domina os processadores de imagem. Por vezes até sem saber enquadrar e recorrendo a essa técnica para o disfarçar.

Da música à roupa, dos vocábulos à fotografia, as modas vêm e vão.
Espero que esta moda das fotografias de turismo e paisagem urbana evidenciando a decrepitude passe rapidamente.
Que o país é bem mais que apenas isso!

E a fotografia também.

By me

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