segunda-feira, 23 de março de 2015

Sou agnóstico mas....



Eu não sou crente, pelo menos no conceito religioso do termo, classificando-me como agnóstico.
A partir daqui tudo aquilo que faço, em termos profissionais e relacionado com religião, é feito sem paixão religiosa, nem a favor nem contra esta ou aquela confissão. Tentando sempre que a qualidade do trabalho – e a eficácia da comunicação – se alinhe pelos padrões mais elevados que consiga.
Assim sendo, haverá sempre que analisar e saber o que é a religião e de que forma é praticada.
E uma das coisas que é comum a todas (pelo menos as que conheço) é que a sua prática se reveste de tradições e rituais.
A concentração no culto, a oração, os gestos, as palavras, os comportamentos, são ritos, conservados desde há muito tempo. Repetidos geração após geração, ensinados por mais velhos ou sacerdotes. Na religião não há palavras nem comportamentos novos. O que acontece é de um conservadorismo absoluto, querido e requerido.
Não é isto nem bom nem mau: é e ponto final.
Não me revejo nesse comportamento, mas não serei eu que irei impedi-lo ou condená-lo.
E, enquanto profissional da comunicação pela imagem, se me for pedido para mostrar a terceiros um culto, terei que respeitar o que acontece, tentando reproduzir com os meus suportes técnicos o que sucede no templo. Seja lá ele de que confissão for.
Como me dizia um profissional do meu ramo, há uns anos valentes, em havendo uma liturgia da palavra, temos nós que ter uma liturgia da imagem.
Indo mais longe, aqueles que querem usar o que faço para aceder ao culto fazem-no porque estão impedidos de o fazer. Porque estão acamados, porque têm dificuldades de locomoção, porque estão presos, porque não há sacerdote ou templo nas imediações.
Assim, aquilo que faço (fazemos) é a pobre substituição daquilo que eles gostariam de presenciar.
E é aqui que a liturgia da imagem toma relevo: haverá que adequar o que fazemos ao que sucede no templo e tentar que o público se sinta como que nele estivesse e naquele acto. Concordemos nós ou não com ele.
O mostrar à distância ou no tempo um culto religioso é, de entre as diferentes formas de comunicar, uma das mais valiosas e rigorosas formas de comunicar com a imagem. Para quem a recebe. E para quem a emite.

Ver a liturgia da imagem desadaptada da da palavra ou do gesto, mostrando-a como quem mostra um jogo de bola ou a tomada de posse de um qualquer governante, sem interiorizar os signos e os significados do que acontece é, na minha opinião, uma desonestidade para com quem vê o que se mostra.
Ou, se se quiser ir ainda mais longe, um insulto aos crentes.

Enquanto profissional da imagem não tenho que concordar com o que mostro. Mas tenho que saber interpretar, entender e mostrar, sem preconceitos ou paixões. Apenas respeitar as crenças daqueles que procuram o meu trabalho.

O meu mais profundo desprezo para quem não respeitar estes pontos éticos da profissão de comunicador!

By me

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