sábado, 28 de março de 2015

RFM





Estive numa loja de fotografia recentemente. Uma loja boa, com equipamento para todas as bolsas e profissionais a saberem do ofício.
Enquanto esperava a minha vez, e depois de espreitar o que por lá havia, entretive-me a ver o que se passava no balcão.
Um dos clientes, uma senhora na casa dos cinquentas, tinha trazido uma câmara com uma avaria, ainda dentro da garantia. Uma câmara pequena, compacta, aquilo a que costumo chamar de “câmara de bolso”.
A loja, não podendo reparar o defeito, tratou de substituir a câmara em causa por outra, como o estipulado. Acontece que o modelo em causa está descontinuado, pelo que o que lhe foi entregue foi o que está no mercado actualmente. Por sinal, bem mais avançado que o devolvido.
Pois a senhora, estando às voltas com ela, não encontrava a acessibilidade de alguns comandos a que estava habituada. E reclamava que aquela não fazia o que a outra fazia.
A paciência do empregado foi extrema, explicando-lhe como acedia aos menus, como a usava em modo manual, como mudava os “setings”… Ainda assim, a senhora não estava satisfeita e saiu a protestar em voz baixa.
Com equipamento melhor que o anterior, mas a protestar.
De notar que, e para além do resto, a marca em causa é particularmente boa e dispendiosa. Só a ela acede quem realmente tem dinheiro disponível.
Quando chegou a minha vez, comentei o episódio, tendo obtido por resposta um suspiro de conformismo e um “São tantos assim…”
E quando sugeri que recomendassem o clássico RFM (Read the Fucking Manual) o que ouvi de volta foi o que esperava:
“A maioria nem os tira da embalagem de origem. Nem sei se não chegam mesmo a deitá-los fora junto com a caixa.”

Saí da loja com o que queria, incluindo um artigo já tão em desuso (um anel redutor de filtros) que demorou um bom pedaço a encontrar.
E com a certeza daquilo que sei há muito: para muitos, o manual de instruções é aquele livrinho, cheio de bonecos e letras, que só atrapalha o fazer fotografias da treta.

Na imagem: o local onde guardo os últimos aqui entrados. Os restantes estão em caixas, daquelas grandes, na despensa. 

By me

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