domingo, 8 de março de 2015

O dia e a fotografia





Durante os três anos que durou o meu projecto “À-Lá-Minuta”, passou em frente da minha objectiva e ficou impresso o retrato de muitas pessoas. De todos os géneros, origens, condições económicas e académicas, ilustres desconhecidos ou não.
A todos eles perguntava eu se autorizavam que a fotografia fosse divulgada na net. Porque o respeito pela privacidade de cada cidadão faz parte da minha forma de estar e porque as respostas e justificações faziam parte do meu estudo.
Recebi bastantes respostas negativas com os mais variados motivos.
Hoje, por ser o dia que é (Dia Mundial da Mulher), recordo um episódio em particular:

Vieram as duas, sorridentes e mais ou menos bem dispostas, curiosas com o que seria o meu artefacto. Explicado o que era e o que por ali acontecia, quiseram fazer uma das duas juntas.
Fez-se.
E enquanto a magia da impressão acontecia, foi acontecendo o questionário habitual, inócuo e sem nada escondido. Incluindo sobre autorizavam publicar a fotografia.
“NÃO! Nem pense!” foi a resposta.
“Sabe, somos residentes numa casa-abrigo para vítimas de violência doméstica e não podemos ter publicidade sobre nós.”
E uma delas acrescentou:
“O meu ex-marido está preso. Quer ver as cicatrizes das facadas que levei?” e começou a levantar a fralda da camisa na barriga.
Claro que não vi!
Tal como é claro que, mesmo passados estes anos, não mostro aqui a imagem que delas tenho. Uma vez prometido, é sagrado o manter a privacidade.

Hoje é o Dia Mundial da Mulher.
Espero que, passado todo este tempo, tenham conseguido concretizar os sonhos de vida que me contaram, já com a fotografia nas mãos. 

By me

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