sexta-feira, 20 de março de 2015

Efémeros





Hoje é dia de eclipse. Solar, entenda-se, e não lunar ou de algumas pessoas que bem gostaríamos que se eclipsassem de vez.
Sabendo-o desde há uns tempos, tenho vindo a tentar interessar alguns conhecidos sobre o fenómeno. Quase inconsequente.
Mais ainda, tenho vindo a explicar aos que têm filhos pequenos ou nem tanto o como fabricar um filtro seguro, barato e fácil de fazer para poderem observar a natureza. Também inconsequente.

Lamento que na voracidade dos tempos que vivemos as coisas importantes do universo tenham tão pouco importância.
O efémero – bolhas de sabão, fogo de artifício, fenómenos astrais – são muito menos importantes que os gadjets da moda, os jogos das consolas ou as séries em jeito de novela.
E menos importante ainda por parte dos pais é darem oportunidade aos filhos de aprenderem fazendo, testando, descobrindo. Suponho que entendem que a aprendizagem é algo reservado à escola e que esse é um papel exclusivo dos professores.  

Talvez por gostar tanto de fotografia gosto do efémero. À escala humana ou à escala universal. Aquela fracçãozinha de tempo que perpetua o que foi…
Não posso possuir o fogo de artifício. Ou as bolhas de sabão. Ou os eclipses. Mas posso, com a magia fotográfica, ficar com o seu registo, guardando para sempre o que muito pouco dura.
Não guardo o fogo de artifício. Gosto demasiado dele e de o ver para estar preocupado com magias.
As bolhas de sabão, faço-as. E delicio-me com o gerir e dominar o tempo, o espaço e a luz, coisas que não possuímos mas cuja prosápia humana acha que sim.
Já o eclipse, esse, não o fotografarei. As condições atmosféricas não serão as melhores onde me encontro para conseguir “aquela” fotografia. E um dos truques mais difíceis de um fotógrafo é saber o que “não” fotografar. Mas espero, por entre as nuvens, ver o dia virar crepúsculo e o seu oposto em pouco tempo.

Somos ciclos breves, quase inúteis, quase fúteis. O truque, se existe, está em dominar o quase. 

By me

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