sábado, 16 de agosto de 2014

Uma estória



Talvez que me esteja a repetir, mas a propósito do que vem acontecendo a alguns conhecidos, aqui fica uma estórinha na primeira pessoa e já com umas dezenas de anos.


Colaborava eu, junto com alguns companheiros de ofício, com uma empresa que não aquela onde trabalhávamos o ano inteiro. O mercado de trabalho, tanto a procura como a oferta, eram escassos e a formação profissional na nossa área era mais que diminuta.
Esta colaboração acontecia uma ou duas vezes por mês, de acordo com as suas necessidades e as disponibilidades de cada um de nós, que nos revezávamos.
Pois um dos sócios dessa empresa era aldrabão como poucos. Dava o dito por não dito, pagava tarde e más horas, quando pagava, e já havia fornecedores de consumíveis e equipamento que recusavam negociar com ele. Nós, os que lá íamos esporadicamente, não éramos excepção.
A certa altura eu e um compincha achámos que já bastava e decidimos ir até lá para receber o que tínhamos a receber e dar por finda a nossa colaboração.
Claro está que a resposta desse sócio, que era quem tratava das contas e pagamentos, foi a costume: “Agora não dá jeito, talvez daqui por três semanas, nós telefonamos.” Cantigas antigas, que sabíamos de cor, mas que não queríamos ouvir.
Nessa altura do seu discurso eu, que estava de pé em frente à sua secretária e com o compincha à minha direita também de pé, pus as mãos nos quadris, qual varina à moda antiga, e perguntei como iria ser.
Claro que para o fazer tive que puxar o colete para trás, deixando bem à vista a pequena coronha do que então usava entalado no cinto, do lado direito.
Eu não disse mais nada, mas não foi necessário. Os seus olhos pareceram transformarem-se em pires de café, passearam de mim para o meu cinto, dali para o meu compincha e de volta para mim, várias vezes. E assim estivemos uns longos quinze segundos, mais coisa, menos coisa.
Pegou então no telefone e fez uma chamada interna, creio que para a secção de finanças.
Passados menos de meia hora eu e o meu compincha estávamos a sair das instalações, cada um com um cheque devidamente preenchido e assinado, que fomos de imediato levantar, só por vias de dúvidas.
Nunca mais lá voltámos. E, ao que sei, as contas passaram a ser pagas com mais pontualidade, dentro dos prazos combinados. A quem que lá ia trabalhar e a fornecedores.


Por vezes basta um aconchego, uma apertãozinho, um subentendido, para resolver muitos e complicados problemas.

By me 

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