sábado, 23 de agosto de 2014

Estrangulados



É nestas questões que a porca torce o rabo.
Leio um artigo num jornal que nos conta como têm aumentado a ofertas privadas no campo da saúde. Em simultâneo com o que sabemos de cortes na saúde pública, de locais de atendimento a postos de trabalho. E vemos como os profissionais da área vão manifestando o seu desagrado e preocupações quanto ao futuro. Pessoal e do sistema.
Sabemos o mesmo no que se refere a justiça e educação. A transferência para o campo do privado das actividades ligadas à justiça, o encerramento de tribunais e esquadras de polícia, a redução de efectivos em ambas as áreas, o encerramento de escolas públicas e as parcerias com escolas privadas, a redução de quadros.
E, no que toca a transportes também as notícias são férteis: privatizações de empresas, desmantelamento dos equipamentos públicos, gestão privada do investimento público, os portos, estradas, aeroportos…
O mesmo no que toca a cultura, comunicação social, água, orla costeira…

Quando, no início do seu mandato, este governo argumentava que havia que considerar ou reconsiderar o “estado social”, as suas funções, custos e recursos para tal, os protestos faziam-se ouvir em tudo quanto é lado: nas ruas, nos sindicatos, nos partidos.
Mas este governo, depois de remodelado, mudou de atitude.
Deixou de falar na remodelação do estado social. Como se a questão deixasse de lhes ser querida e fazer parte importante da sua agenda política.
Mas não deixou! De forma alguma!
Apenas passou a executar o seu plano ideológico sem dele falar. No lugar de fazer grandes mudanças, mediáticas e contestadas, passou a fazer pequeninas mudanças. Uma aqui, outra ali, uma hoje, outra amanhã, devagar como que por acaso.
O rumo e o plano é o mesmo hoje que era há três anos: destruir o que foi construído na sociedade portuguesa ao longo de anos. Transformar o conjunto dos cidadãos em meros sobreviventes, em gente que se preocupa em conseguir chegar ao fim do dia vivos e com alguma coisa na barriga, enquanto passa o dia a garantir que alguns, muito poucos, tiram partido pessoal desse esforço. Em dar vantagens aos tais 1%, em desfavor dos restantes 99%.
É um transformar a sociedade muito para além do que foi mandatado, bem à revelia da chamada “democracia”.
Que este governo foi mandatado para gerir a coisa pública, não para a destruir. Que este governo foi mandatado para gerir a sociedade em função dos seus recursos, não para impor formas de vida a cada cidadão, disfarçadamente.

Aos pouquinhos vão reduzindo os cidadãos à condição de meros servos de interesses que não os seus. E de uma forma tão encapotada que, receio bem, quando todos se aperceberem do que se está a passar será tarde demais.

By me

Sem comentários: