segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Truques



Como em tantas outras coisas da vida, também eu tenho os meus truques ou manias.
A grande maioria das pessoas sai da cama para a rua, com passagem p’lo banho e pequeno-almoço. Directo, sem mais nada, a menos que algo ou alguém obrigue a tal.
Mas em não havendo outras obrigações, meia hora é quanto basta.
Eu, por outro lado, faço questão de me levantar com, p’lo menos, duas horas de antecedência.
Não se trata de fazer as coisas devagar ou de gostar de longos banhos ou copiosos pequenos-almoços. Por vezes, tanto um como outro são rápidos e fugidios.
Prende-se esta minha mania com o que a seguir descrevo:
Imaginemos que temos dois depósitos na alma: um de bom-humor, outro de mau-humor.
Em fazendo o percurso mais rápido e curto, sai-se de casa com os dois depósitos a zero. Mas, à medida em que o dia vai passando, com o trabalho, chefias, colegas, impostos, filas, notícias, preços, cortes anunciados, engarrafamentos, maus-humores de terceiros, etc., o nosso depósito desagradável (aqui a verde) vai enchendo, quiçá transbordará.
Ao fim do dia, em havendo tempo e ocasião, tratamos de fazer coisas que nos dão prazer e satisfação para encher o outro depósito (aqui a vermelho) para que atinja o nível do verde e, se possível, o ultrapasse. São demasiados os dias em que não conseguimos sequer atingir, quanto mais ultrapassar, p’lo que nos vamos deitar, quando não mal-humorados, p’lo menos não de bem com a vida. O que se repercutirá no dia seguinte, na semana seguinte, no mês seguinte, até que as folgas ou as férias consigam nivelar de novo.
A minha opção é a inversa: faço questão de, ainda antes de enfrentar as coisas beras da vida, o quotidiano desagradável de que não podemos fugir, fazer coisas que me dão prazer, gozo. Com isto, saio de casa bem-disposto e humorado.
E, sendo que já levo embalagem de casa, poucas são as vezes que o depósito verde ultrapassa o vermelho, que o bom-humor chama o bom-humor e é bem mais fácil encontrar satisfação ao longo do dia se assim o começarmos.
As mais das vezes, vou-me deitar de bem comigo e com o mundo, com um sorriso nos lábios.
Este fazer de coisas boas bem que pode ser escrever, ler, fotografar ou tratar imagens, acabar um filme em meio, qualquer coisa de palpável que me dê gozo. Para além, obviamente, de me relacionar com quem de quem gosto e tenho por perto.

Daí que, quando tenho horários de começar ao nascer do sol, salto da cama bem antes disso, ainda o sol está a dar mais uma volta sob as cobertas.
Garanto que quando me sento no escurinho, a lidar com diafragmas, ganhos, gamas, knees, details e etc., mesmo que os meus lábios já não sorriam, cá dentro mantém-se de orelha a orelha.

Truques!

By me

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