quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Privacidades



É uma conversa que, volta e meia, vem à baila. E eu uso os mesmos argumentos de sempre.
Fala-se do vício do telemóvel e de como tanta gente é incapaz de passar sem ele. Mais: como as conversas são interrompidas de súbito, só porque o aparelhómetro de um dos interlocutores tocou. A premência de querer saber quem está a ligar e a eventualidade, tantas vezes remota, de ser assunto urgente, tudo justifica. Mesmo a má educação.
O meu argumento, baseado na minha própria atitude, é sempre o mesmo: atendo o aparelho se puder e quiser. E se puder e quiser interromper o que estou a fazer. E há coisas que não interrompo, nem que a vaca tussa.
Para reforçar este argumento, costumo perguntar se quando estão na casinha atendem o telemóvel. A maioria diz-me que sim, mas sempre achei que era uma forma de me calarem, o que não é fácil.
Hoje cheguei a outra conclusão.
Estava eu aqui entretido a fazer o que imaginam quando oiço um telemóvel tocar. Sabia não ser o meu e pensava-me sozinho, pelo que imaginei que alguém o havia deixado ali. Toca uma segunda vez, e eu tranquilo com a minha ocupação. Não chegou a tocar terceira vez.
De dentro de uma das privadas, nas minhas costas, oiço alguém atender e encetar uma conversa que, e devido ao revestimento do local e consequente acústica, nada tinha de privacidade.
Tive tempo de lavar as mãos e secá-las, tudo com calma, e a tal conversa, bem fútil por sinal, continuou com a maior das naturalidades, por aquilo que deduzi do tom que ouvia.
Vou, decididamente, mudar de argumento, que o que tenho ouvido parece ser verdade. E passar a usar um de maior peso:
Se quando estão deitados, em plenos deleites com quem deitado também está, também interrompem a função.

Sempre quero saber quem terá a coragem de dizer que sim!

By me

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