terça-feira, 16 de novembro de 2010
Não se espantem
Sentei-me no restaurante e logo veio a ementa. Fiz o pedido e mergulhei naquilo que ali me havia levado, para além do jantar: umas ideias que haveria de escrevinhar.
Passado um pouco, constato que na mesa contígua à minha se havia sentado uma senhora, dos seus trintas e muitos, que mirava e remirava a embalagem de uns micro-auscultadores recém comprados: estava selada, junto à mala o saco da loja onde teria sido feito o negócio e em cima da mesa aquilo que parecia ser a respectiva factura.
Não estranhei: afinal aquele era um restaurante franshisado, num centro comercial, e a pouco metros pelo corredor havia aquela loja onde de tudo se vende desde que relacionado com electrónica de consumo. E voltei aos meus próprios pensamentos e ao escrevinhar, na minha péssima caligrafia que me obrigava, por vezes ao copiar para o teclado, e reinventar as ideias.
Por qualquer motivo voltei a levantar a cabeça passado um pouco e olhar para a minha vizinha de ocasião.
Com uma pequena tesoira abria delicada e certeiramente a embalagem. E fiquei a ver, tentando adivinhar se o faria certinho ou, como eu, sem paciência e acabando por destruir o plástico quase blindado de que são feitas estas coisas. Fez o trabalho bem feito!
Mas, para espanto meu, em acabada a tarefa, fechou com a habilidade denunciadora de longa prática, a tesoira. E esta pertencia a um canivete suíço igualzinho ao meu, dos de maior tamanho. E este foi guardado num estojo quase igual ao meu, com a única diferença de não estar preso no cinto mas sim de ser remetido ao interior da bolsa da sua dona.
Surpreendido por ver um instrumento daquele nas mãos de uma senhora, fiquei eu a cogitar na quantidade de objectos que se atribui aos conteúdos das malas das senhoras, por muito delicadas que possam ser. E, confesso, não é muito saber de um canivete suíço, principalmente dos mais compridos, na bolsa delicada de uma senhora.
Mas, depois, caí em mim. Quem sou eu para comentar o que uma senhora pode ter na sua bolsa? Quando eu, no saco que regularmente transporto, e para além da parafernália habitual de um saco fotográfico, tenho um caderno, um PC portátil, molas de roupa, clips, elásticos vários, fita adesiva e isoladora preta, cotonetes, borrifador, escova de dentes e mais uma série de objectos pouco prováveis?
Úteis como? Bem, há sempre uma situação desconhecida que espera por si e, para a fotografar, haverá sempre que fixar qualquer coisa a qualquer coisa. Além do mais, os clips são também óptimos e maleáveis arames, úteis em quase tudo o que um arame o pode ser. Molas da roupa? De madeira? Além de não serem electricamente condutores, de fixarem um montão de objectos e, se desmontados, serem óptimas cunhas para, por exemplo, equilibrar uma mesa ou segurar uma porta. Além do mais, usados para segurar uma plantinha delicada, não a ferem!
Espantados com as bolsas das senhoras? Haviam de ver o meu saco!
Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)
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