sábado, 20 de novembro de 2010

A lente que me falta



Então e… valeu a pena baldares-te mais cedo? Gostaste da exposição? – Perguntaram-me.

Olha, sabes, nem sei bem! Para já, demasiada “vernissage” para o meu gosto: gente aos montes num belo de um estúdio, que mais parecia ali estar para conviver que para ver e desfrutar das fotografias ali expostas. Mas é o que acontece com todas as exposições no dia em que são patentes ao público. Problema meu.
Quanto às fotografias, começou por ser uma surpresa a forma como estavam, aparentemente, espalhadas pela parede. Apenas coladas na parede branca, sem que alguma tivesse moldura. Provavelmente, pensei então, toda a parede é a moldura, rasgada aqui a e ali para nos deixar ver o que está por sob o passe partout. E, sendo que estas coisas não acontecem por acaso (e mesmo o acaso não acontece por sua causa), alguma ordem teria que ali haver. Uma linha de leitura, uma coesão entre elas, senão entre todas, pelo menos entre cada uma e a antecedente e a que se lhe sucedia.
Foi aqui que gastei boa parte do meu tempo: tentando encontrar essa coerência, uma linha me guiasse a algo. E, tenho que admitir, não a encontrei no seu todo. Fragmentado ainda soube ver alguns sub-grupos, mas não no todo.
Quanto às imagens de per si, algumas (não muitas, mas algumas) conseguiram prender-me a atenção. Recordo uma mocinha a fotografar em cima de um banco de pedra, um fragmento de mão com um grande anel e unhas pintadas, um pássaro morto e esparramado sobre um fundo colorido, uma figura andrógina repetida…
Mas o que me custou foi não ter conseguido gostar de nenhuma em particular nem pela luz, nem pela composição, nem pela impressão. Sob estes pontos de vista, diria eu, que o conjunto me pareceu ser tão amorfo que não me mereceria uma segunda olhada, não fora estarem inseridas naquele trabalho em particular.
Agora se gostei do que vi? Não sei! Nos tempos que correm, novas linhas de fazer e ver fotografia se vão criando. A experiência é a mãe do sucesso e, ao experimentar-se, novas coisas vão surgindo. Talvez que o defeito seja meu, gostando como gosto de alguns dos clássicos, formatado que estou na obrigatoriedade profissional de comunicar com imagens. Gosto de ver as paletes de luz e cor, mesmo que em monocromático, razoavelmente definidas, com contraste, mesmo que usando só três faixas do Zone Sistem, gosto de sentir o equilíbrio, mesmo quando desequilibrado, gosto de olhar para uma imagem e sentir qualquer coisa. Não foi o que ali aconteceu.
Mas talvez que o defeito seja meu e tenha perdido, algures na minha viagem p’lo tempo, uma lente e não saiba ou não consiga ver o que de novo se vai criando.

E voltarias a outra semelhante?

Claro que sim! Quanto mais não seja, para aprender a ver e gostar do que se vai produzindo de novo, por cá e não só!



Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)

Sem comentários: