Namoravamo-los, todos, de manhãzinha a caminho da escola ou, pelo almoço, no regresso.
Na montra de uma loja que hoje é um pronto-a-vestir, ali na Av. Da Igreja, Lisboa, havia-os de todos os tipos: a cavalo e a pé, de espada, de pistola, de espingarda. Com quepi ou com chapéu de abas, de lenço vermelho ou amarelo. Os cavalos, esses, estavam a galope ou a trote, de sela vermelha ou azul, pretos ou brancos. Não me recordo de nenhum baio.
Mas eram caros. Não tanto quanto os cruzados, com espadas e maças de armas, escudos e armaduras, também a cavalo ou apeados.
Em qualquer dos casos, os soldados da guerra civil americana eram caros. Eram aqueles que se desmontavam, que se trocavam cabeças e chapéus, lenços e armas.
E, com essas trocas e baldrocas, formavam-se exércitos formidáveis de meia-dúzia, com que nos defrontávamos nas planícies do soalho ou nos canyons entre almofadas.
Entre nós, canalha miúda da vizinhança, poucos tínhamos, obtidos de um parente por via de muita pedinchice. Ou fruto das economias forçadas que fazíamos: lanches não comprados, trajectos de autocarro feitos a pé, lápis usados até ao coto…
Estas poupanças, mais as magríssimas semanadas que tínhamos faziam com que, quando um fosse comprar um de sua eleição, fosse uma festa. Íamos juntos, gabando as vantagens e os defeitos deste ou daquele, antevendo os jogos e as trocas, escolhendo pela cor e pelas armas. E pela pose, pois está claro!
Hoje continuam estupidamente caros, que tiveram o desplante de me pedir a enormidade de 15 euros por este numa feira de velharias. Mas não resisti agora, a roçar os 50, como não resistia há quarenta anos atrás.
Mas os jogos de então eram reais, palpáveis, com fortes por nós construídos e estratégias por nós engendradas. E o limite estava na nossa imaginação.
Hoje joga-se em rede, com oponentes de que desconhecemos a cara e que tratamos por alcunhas inverosímeis, atados a personagens e estratégias delineadas por programadores de software. E a imaginação dos jogadores fica atida ao rato, teclado e ecrã.
Sem se saber o que fazer aos paus dos gelados, que as canas fazem lindíssimas pontes e que com tubos de caneta, botões e paus de fósforo se fazem potentíssimos canhões.
Outros tempos, em que o digital era só a partir da 4ª classe, a impressão no BI.
Texto e imagem: by me
Na montra de uma loja que hoje é um pronto-a-vestir, ali na Av. Da Igreja, Lisboa, havia-os de todos os tipos: a cavalo e a pé, de espada, de pistola, de espingarda. Com quepi ou com chapéu de abas, de lenço vermelho ou amarelo. Os cavalos, esses, estavam a galope ou a trote, de sela vermelha ou azul, pretos ou brancos. Não me recordo de nenhum baio.
Mas eram caros. Não tanto quanto os cruzados, com espadas e maças de armas, escudos e armaduras, também a cavalo ou apeados.
Em qualquer dos casos, os soldados da guerra civil americana eram caros. Eram aqueles que se desmontavam, que se trocavam cabeças e chapéus, lenços e armas.
E, com essas trocas e baldrocas, formavam-se exércitos formidáveis de meia-dúzia, com que nos defrontávamos nas planícies do soalho ou nos canyons entre almofadas.
Entre nós, canalha miúda da vizinhança, poucos tínhamos, obtidos de um parente por via de muita pedinchice. Ou fruto das economias forçadas que fazíamos: lanches não comprados, trajectos de autocarro feitos a pé, lápis usados até ao coto…
Estas poupanças, mais as magríssimas semanadas que tínhamos faziam com que, quando um fosse comprar um de sua eleição, fosse uma festa. Íamos juntos, gabando as vantagens e os defeitos deste ou daquele, antevendo os jogos e as trocas, escolhendo pela cor e pelas armas. E pela pose, pois está claro!
Hoje continuam estupidamente caros, que tiveram o desplante de me pedir a enormidade de 15 euros por este numa feira de velharias. Mas não resisti agora, a roçar os 50, como não resistia há quarenta anos atrás.
Mas os jogos de então eram reais, palpáveis, com fortes por nós construídos e estratégias por nós engendradas. E o limite estava na nossa imaginação.
Hoje joga-se em rede, com oponentes de que desconhecemos a cara e que tratamos por alcunhas inverosímeis, atados a personagens e estratégias delineadas por programadores de software. E a imaginação dos jogadores fica atida ao rato, teclado e ecrã.
Sem se saber o que fazer aos paus dos gelados, que as canas fazem lindíssimas pontes e que com tubos de caneta, botões e paus de fósforo se fazem potentíssimos canhões.
Outros tempos, em que o digital era só a partir da 4ª classe, a impressão no BI.
Texto e imagem: by me
1 comentário:
o meu marido tem uma boa colecção desses cavaleiros e soldadinhos. Diz a mãe que lhe oferecia um tio e que alguns deles vinham em caixas de Inglaterra. Eu só em adulta lhes pus a vista e as mãos em cima.
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