sábado, 30 de setembro de 2017
Estrelada
Esta Estrelada veio
para a minha posse desde a festa da cidade (senhora da Mercè) de 1994.
Comprada numa
banca de rua na Rambla de Barcelona, pertinho da Plaça de Calalunya, tem ornado
a minha janela em mastro improvisado ou apenas na corda da roupa sempre que a
ocasião o justifica. E várias foram as ocasiões.
Se a vida não
tivesse dado as voltas que deu, estaria eu agora como cidadão catalão por lá,
festejando e batendo-me pela liberdade de expressão e autodeterminação. Ou
estaria há muito lá sepultado num canto anónimo.
Essas mesmas
voltas levaram-me ao que sou hoje, de bom e de mau, e ao ponto de viragem que
atravesso. Bendito ponto de viragem, que não o trocaria por nada.
Mas o meu coração
terá sempre um canto especial pela Catalunha e pela sua luta desde há muito
pela independência.
Demà seré Català!
By me
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
Esbulho
Leio no jornal que
o Cartão de Cidadão vai passar a ter um prazo de validade de 10 anos para os
maiores de 25 anos de idade.
E, acrescentam, o
custo da renovação neste caso muda dos actuais 15€ para 18€.
Fazem ainda as
contas e dizem-nos que isto resulta numa poupança de 90 euros ao longo da vida.
ERRO!
Isto resulta é em
sermos esbulhados em menos 90€ ao longo da vida.
Porque outro nome
não tem o sermos obrigados a possuir um documento de identidade, actualizado, e
sermos obrigados a pagar por isso.
By me
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
Outros olhares
Repare-se como nas
artes convencionais (pintura, escultura, arquitectura) as coisas feias não são
objecto de abordagem.
Procura-se o belo,
o transcendente, o divino, o sonho… mas o mau, o feio, o lixo, o incómodo…
ficam de parte no trabalho dos artistas. Mesmo noutras artes tradicionais
(escrita, dança música…) raramente as abordam.
Talvez que a
escrita (prosa ou poesia) nos relatem o menos bom, como a tristeza ou a
infelicidade. Num misto entre a arte e o desabafo.
Mas o certo é que
os artistas (e quem lhes consome o que produzem) não dão ao mal, ao feio, ao
lixo, relevo ou atenção.
Creio que é o
advento da fotografia, mais a contemporânea que a inicial, que faz daquilo de
que não gostamos um “objecto de arte”, mostrando com maior ou menor crueza os
males do mundo e do Homem. O mal que faz aos seus iguais e o mal que deixa no
mundo.
A fotografia veio,
creio, transformar aquilo de que não gostamos em algo que observamos amiúde.
Por vezes com deleite misturado com horror.
Veio a fotografia
fazer-nos gostar daquilo de que não gostamos, apreciar o que nos incomoda,
transfigurando o errado em banal.
Visto de outro
modo, mais que qualquer outra forma de arte, a fotografia está a mudar os
nossos conceitos, pessoais ou colectivos, sobre o que é certo ou errado, o que
é o bem e o que é o mal.
By me
.
Admito
que me dá um certo prazer constatar o como algumas pessoas não gostam mesmo
nada de mim.
É
que a reciprocidade é uma coisa muito bonita.
.
terça-feira, 26 de setembro de 2017
Castanhas
Agora começa bem
mais cedo, a época das castanhas.
Recordo que
surgiam os vendedores ambulantes com os primeiros frescos ou as primeiras
chuvas, mais aguaceiros que outra coisa.
Agora aparecem
quando os gelados deixam de ter saída, mesmo antes da formalidade do início do Outono.
E não apetecem.
Para mim,
castanhas assadas só com frio, nevoeiro mesmo, de modo a que o seu quente de “quentes
e boas” nos confortem das agressões outonais.
Deixaram eles de
as vender em cartuchos feitos com jornal. Ou listas telefónicas.
Dizem os entendidos
que a tinta impressa é prejudicial à saúde. E obrigam usar papel branco ou
cartuchos pré feitos com publicidade no seu exterior. Vai perdendo a graça.
Mas aquilo que as
castanhas assadas mantêm da tradição é que se vendem às dúzias (ou meias) tal e
qual os ovos. Não sei de mais nada que ainda use esta unidade no negócio.
E aquilo que não
se mantém é a uniformidade de preços.
Hoje vi-as à venda
aqui, mesmo em frente a um centro comercial cosmopolita de Lisboa. O preço
afixado era de 2,50€ a dúzia. O ano passado a mesma quantidade era de 2,00€.
25% de aumento é obra, convenhamos.
Mas o que nos
estranha é que na semana passada as vi à venda na Rua Augusta, bem no meio dos
turistas, pela módica quantia de 3,00€ a dúzia.
Nada como
aproveitar a curiosidade ingénua dos forasteiros para lhes extorquir uns
trocos, mesmo que a destempo e com um sol radioso e quente.
Por mim, vou
esperar pelo São Martinho e a água pé.
By me
.
Enquanto
que por cá, no próximo domingo, uns milhões de portugueses vão mandar as eleições
às urtigas, indo fazer qualquer outra coisa, na Catalunha uns milhões de cidadãos
quererão ir votar e serão impedidos pelo governo de Madrid.
E
as televisões irão mostrar, em directo ou quase, como se destrói o conceito de democracia
e liberdade de expressão.
.
Alvalade
Prédios
cinzentos
Cor-de-rosa
E
brancos.
Altos,
Baixos,
Grandes,
Pequenos,
Largos
E
curtos.
Ruas
pequenas,
Sinuosas
E
silenciosas.
Grandes
avenidas
Barulhentas,
Cheias
de gente.
Tudo
anda de cá para lá
E
de lá para cá.
Gente
que sai
E
que entra
Nas
lojas,
Nos
autocarros,
Nas
casas.
Gente
que compra.
Gente
que vende.
Gente
que corre.
Gente
que passeia.
Gente
que come,
Tranquilamente,
Nos
restaurantes.
Gente
que bebe uma bica
E
toca a andar.
Gente
que fuma
Calmamente.
Gente
que mastiga
Pastilhas
elásticas
Desesperadamente.
Tudo
isto com um nome: Alvalade.
1970
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
Alguém deveria ler e explicar isto a esta senhora.
Constituição
da República Portuguesa
Artigo
13º
Princípio
da igualdade
1.
…
2.
Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer
direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça,
língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas,
instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
De
acordo com o que li num jornal, Joana Amaral Dias, candidata à Câmara Municipal
de Lisboa, propõe espaços reservados a mulheres nos transportes públicos como
forma de acabar com os assédios de que são alvo.
.
Palmanços
Em
parte a culpa foi minha: tinha o bolso lateral do colete aberto e a caixa preta
das pastilhas estava bem à vista, parecendo uma carteira ou porta-moedas.
Seja
como for, ao entrar no eléctrico, no meio daquela confusão desordenada em que
todos querem embarcar com encontrões e ultrapassagens selvagens, senti um puxão
no colete.
O
instinto avisou-me do que se passava e levei a mão ao bolso: faltava a caixa.
O
tipo que me tinha passado pela direita era o único suspeito: cinquetão, talvez
mais, seco de carnes, brilhantina, rosto enrugado e marcado pelo sol, óculos meio
escuros clássicos de massa, pequena bolsa a tiracolo com um casaco nela pendurado…
“Passa
para cá isso!”
“Mas
o que se passa?”, disse com ar de ingénuo.
“Passa
para cá isso, então?! Passa para cá ou é pior!”
Esticou-me
a mão esquerda, a que tinha usado, e desculpou-se:
“Você
tinha deixado cair…”
“Deixei
cair, é? E você apanhou-a com quê? Com os pés na confusão?”
Ficou
em silêncio uns segundos, comigo a fitá-lo firmemente.
“Não
querem lá ver que temos carteiristas a bordo?”, acrescentei em tom médio.
Manteve-se
mais uns segundos, poucos, a olhar para mim, empurrou quem lhe estava no
caminho e saiu, seguindo lesto para longe da lombriga de várias portas que é a
carreira 15.
“Mas
isso não é a caixa das pastilhas?”, perguntou-me quem estava comigo.
“É,
e ele ia ter uma surpresa quando visse a falta de valor do palmanço.”
Que
eu saiba, foi a segunda vez que fui vítima. Desta feita com final feliz, ao
contrário da primeira no metro de Barcelona há mais de um quartel. E, ao contrário
dessa cujo relato na esquadra deixou surpreendidos os polícias pela novidade do
método, desta vez parte da culpa foi minha, que facilitei a coisa.
Se
a frequência for esta, não me deve voltar a acontecer.
By me
domingo, 24 de setembro de 2017
Liberdades
Estava
escrito num muro que fica a meio caminho de minha casa para o liceu.
Passado
algum tempo, esse caminho passou a ser o de casa para o trabalho, que tanto fiz
a pé.
Por
isso o vi muitas vezes, até ficar indelevelmente gravado na minha memória:
“Liberdade
para todos, menos para os fascistas”
Foi
escrito naquele tempo que se seguiu à revolução de Abril, prolífero em
mensagens com sentido nas paredes, umas mais simples, outras bem coloridas,
algumas verdadeiras obras de arte.
Esta,
a preto sobre o já não branco do muro, sempre me incomodou. Muito! Muito mesmo!
Qualquer
um que me conheça, por pouco que seja, saberá que não defendo a ideologia
fascista. Ou qualquer outra ideologia totalitária, seja qual for o quadrante.
A
liberdade é algo de sagrado na minha cartilha e limitá-la é pecado nela também.
A liberdade dos pensamentos e a liberdade de o dizer.
O
simples facto de alguém pensar diferente de mim, por muito oposto que seja, não
é motivo para lhe impor castigo ou impedir de o pensar. Mais ainda: o facto de
alguém defender em público teorias que se opõem ás minhas, por mais opostas ou
que me incomodem, não me dá o direito de o fazer calar.
Liberdade
é liberdade, sem peias ou limites.
Não
posso aceitar é que teorias que me prejudiquem ou que prejudiquem outros sejam
postas em prática.
Assim,
quem tentar por em prática teorias totalitárias terá a minha oposição,
demonstrando publicamente o seu erro e perigo e impedindo, mesmo que
fisicamente, que as liberdades de pensamento ou expressão sejam limitadas. Ou a
segregação racial, ou religiosa, ou sexual, ou económica, ou o que quer que
seja.
Agora
que o possam pensar, que possam dizer o que pensam…
Se
eu exijo para mim a liberdade de pensar e de dizer o que penso, bater-me-ei
para que os demais o possam fazer. Mesmo que não concorde com o que dizem.
Será
pantanoso este terreno. Mas não poderei aceitar uma “polícia do pensamento”. Ou
o regresso dos lápis azuis. Ou a recuperação de um qualquer Tarrafal. Ou de
goulags. Ou de piras de livros. Ou de índex. Ou…
By me
sábado, 23 de setembro de 2017
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
Flores
Quem
me conhece sabe que não colho flores. Nem as ofereço.
Não
me apetece exprimir-me com um ser vivo a morrer ou já morto.
Tal
como não as colho para fotografar. Que o meu prazer visual não é mais
importante que um ser vivo.
Mas
há ocasiões em que apetece dar uma coisa bonita, de que gostamos e a quem
gostamos. É um impulso quase irresistível.
A
minha solução, nestes casos, é rapar da câmara, mesmo que um telemóvel, e fazer
o ícone do que quero dar. Assim, de impulso.
Foi
o caso.
By me
Hoje
Pergunta:
A
barba cresce mais nos dias de verão ou nos dias de Inverno?
Claro
que é nos dias de verão, que têm mais horas de sol que os dias de Inverno.
Uma
das duas excepções é o dia de hoje, em que o dia tem a mesma duração que a
noite.
Chamam-lhe
equinócio e é conhecido e celebrado desde muito antes de termos inventado a
escrita ou as redes sociais.
Caso
tenham tempo, tirem um pouco dele para pensarem como este dia acontece muito
para além das outras datas, arbitrárias, que o bicho-homem inventa. Muito para
além da curta existência da raça humana.
A
nossa fragilidade na linha do tempo é tremenda, mesmo que não o queiramos
aceitar.
By me
CC
Não
adianta virem com argumentações desta ou daquela natureza: a posse de um
documento de identificação nacional actualizado é uma obrigação.
Não
o ter é punível por lei e impedimento para alguns actos formais. Por exemplo, o
levantar de correspondência registada e nominal, a abertura ou movimento de
conta bancária, a celebração de um contrato…
Esse
documento de identificação (Cartão de Cidadão) tem uma validade de cinco anos.
E se estiver expirada essa validade é como se o não possuísse.
Acontece
que a renovação desse documento, feita em instituição estatais, é paga.
Pouco
importa que nada tenha mudado desde o anterior: morada, características físicas,
estado civil… mesmo que tudo seja igual, há que pagar pelo documento novo.
“Ah
e tal… mas se não tiver condições económicas (e o provar) não tem que pagar.”,
disseram-me numa dessas instituições.
A
questão não é o quanto pagar. Feitas as contas, renovar o documento de
identificação custa 25 cêntimos por mês. Menos que uma bica.
A
questão está em que somos obrigados a fazer algo – todos os cidadãos – e a
pagar por isso. E isto é um imposto!
Eu
diria mais: é um imposto de existência. Sermos obrigados a pagar para provarmos
que existimos.
A
própria existência do documento incomoda-me. Ser reduzido a números, mais a
mais com informações no documento às quais não sei se tenho acesso integral. E
não sabendo se o simples introduzir desse documento numa maquineta permite a
quem o faz aceder a dados pessoais que em nada se relacionam com o acto no
momento. É por isso que o meu CC não entra em nenhum leitor, privado ou público,
impondo eu a sua leitura visual e nada mais.
Ter
que pagar para possuir um documento que sou obrigado a ter e actualizado… isso
faz-me ficar furioso.
Mas
pagar obrigatoriamente para provar que existo… Internem-me, por favor.
By me
.
Já
não explico porquê.
Mas
não se esqueçam de celebrar, à vossa maneira, o dia de amanhã.
22
de Setembro, celebrado desde os tempos mais antigos da humanidade.
.
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Negócios
O
Campo Pequeno está à venda.
De
acordo com o que li, uma empresa Suiça está interessada em o comprar,
considerando que quem a possui actualmente entrou em falência em 2014.
Fontes
geralmente mal informadas confidenciaram-me que o Mosteiro da Batalha está em
situação semelhante, havendo um grupo saudita interessado na aquisição e que o
Forte de Sagres também, sendo o Reino do Butão o candidato.
Já
a Torre dos Clérigo, no Porto, recebeu uma proposta de um empresário de Pisa,
mas nada mais me adiantaram.
.
E pode?
Pergunto-me
como é possível que, em plena campanha eleitoral autárquica, com tudo o que
isso significa e que conhecemos, este arruamento ainda exista em Lisboa.
By me
Aqui ao lado
Aqui
ao lado preparam-se para o pior.
O
governo de Madrid fretou três navios, entre paquetes e ferrys, com uma
capacidade total de 6000 pessoas, para atracarem em portos da Catalunha. Dois
em Barcelona, um em Tarragona.
O
objectivo é poder alojar os reforços policiais da Guardia Civil e Polícia
Nacional, enviados de todo o país, para abafar e neutralizar o referendo que os
Catalães querem fazer no próximo dia um de Outubro sobre uma eventual independência
de Espanha. Por aquilo que é possível saber pelos jornais do país vizinho, a
maioria deste reforço policial é composto por polícia anti-distúrbios, aquilo
que por cá chamamos de “polícia de choque” ou “corpo de intervenção”.
Será
interessante recordar que a lei espanhola impede o uso de paquetes ou ferrys como
hotéis ou alojamento temporário. O que nos pode levar a concluir que a lei que vigora
aqui ao lado é a do funil: só funciona para um lado, o que convier aos
governantes centrais.
No
mesmo dia em que por cá poderemos exercer a democracia, com eleições autárquicas,
em Espanha a democracia e a liberdade de expressão ficarão na gaveta, impedindo
que um povo possa exprimir o que quer para o seu próprio destino.
Na
imagem, um dos navios fretados
By me
O livro
“L‘image
dês objets extérieurs qu’on aperçoit dans une chambre obscure percée d’une
petite ouverture a dù certainement étre observée dans l’antiquité. Cedependant Aristote,
qui a résumé toutes les connaissances acquises à son époque, s’étonne que les
rayons du soleil passant à travers des trous carrés forment dês cercles et non pas
des figures rectiligne. Le philosophe de Stagire essaye, sans y reussir,d’expliquer
cette apparente anomalie, et ce n’est quid ix-huit siècles plus tard, dans les manuscripts
d’un artiste célèbre, que l’on trouve pour la première fois l’analyse exacte du
phénomène et son explication racionelle fondée sur la propagation en ligne de
la lumière.”
É
com estas palavras que começa o livro da imagem e que se intitula “Traité gèneral
de photographie”, escrito por Ernest Coistet e publicado em Paris em 1912.
São
522 páginas, quase papel bíblia, onde nos são descritos desde os processos de
sensibilização de superfícies, aos métodos e fórmulas de revelação, passando
por cinema, fotografia técnica, fotografia em cor, equipamentos raros, etc.
Quem
o conhecesse, então, de fio a pavio, saberia certamente muito mais e com mais
rigor que os fazedores de fotografia dos tempos correntes.
Já
não sei como me veio para ás mãos tal preciosidade. Sei, apenas porque tem a
anotação a lápis, que o preço que me cobraram foi de 20€, pese embora a
encadernação já não ser a original.
Não
ocupa lugar de destaque aqui por casa, que todos os livros, independentemente
da sua idade, têm igual valor.
Mas
possui-lo dá-me algum prazer e já nele encontrei algumas preciosidades
insuspeitas.
By me
quarta-feira, 20 de setembro de 2017
Liberdade
Liberdade
Ai que prazer
Não cumprir um
dever,
Ter um livro para
ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem
ou mal,
Sem edição
original.
E a brisa, essa,
De tão
naturalmente matinal,
Como o tempo não
tem pressa...
Livros são papéis
pintados com tinta.
Estudar é uma
coisa em que está indistinta
A distinção entre
nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor,
quanto há bruma,
Esperar por
D.Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia,
a bondade e as danças...
Mas o melhor do
mundo são as crianças,
Flores, música, o
luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez
de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada
de finanças
Nem consta que
tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa,
in "Cancioneiro"
Tratamentos
O
tempo é dividido em diversas unidades: anos, luas, horas, segundos, milénios…
Profissionalmente,
o meu divide-se em 1/25 do segundo. É quanto dura cada imagem que transmito.
25
imagens por segundo! 1500 imagens por minuto! 90.000 imagens por hora!
Este
é o meu ritmo de trabalho.
Com
esta quantidade de opções por unidade de tempo, não tenho grande oportunidade
de me preocupar com formalidades e graus de tratamentos inter-pessoais.
Divido
os meus relacionamentos em dois grupos: os companheiros de trabalho, seja qual
for a sua função ou idades e os convidados, externos à empresa, que temos em
frente das câmaras.
Para
com os primeiros, tenho um tratamento por “tu”. Igualitário! Fraternal!
Indiferenciado! Seja qual for a sua posição na pirâmide hierárquica.
Para
com os convidados tenho um tratamento na terceira pessoa, por “você”. Entram
como convidados, saem como conhecidos, mas fomos nós que os convidámos para a “nossa
casa”, e que há que tratar com a deferência que alguma cerimónia ou deferência impõem.
Há
ainda uma terceira abordagem: o tratamento por “você” para com as pessoas com
quero assumidamente ter uma tratamento à distância, com quem não quero ter
intimidades. Se levar as coisas ao limite e quiser ser mesmo insultuoso,
tratarei por “Vossa Excelência”.
Goste-se
ou não, nascemos da mesma forma e acabaremos do mesmo jeito. E não tenho nem tempo
nem paciência para discriminações de idade, posto laboral, categoria social ou
classificação honorífica.
By me
Prohibit
Às
onze da manhã, hora espanhola, eram já dez os membros do governo Catalão presos
pela polícia do governo central Espanhol, acusados de estarem envolvidos na
organização do referendo a realizar em 1 de Outubro sobre a independência da
Catalunha.
By me
terça-feira, 19 de setembro de 2017
Prendas
“Toys
R Us pede insolvência para conseguir entregar as prendas de Natal”
Este
é um título de um jornal de hoje.
E,
sobre ele, duas cogitações:
E
se fosse o Pai Natal a pedir insolvência?
E
onde está a notícia sobre todos aqueles que, sem terem pedido insolvência, não
têm como dar uma prenda de Natal?
Be me
In the dark
Em
tempos recuados (caramba, como são recuados!) tive um t-shirt preta que mandei imprimir.
Em
letras brancas podia ler-se “Photographers do it in the dark”.
Pese
embora ser quase obsoleta tal afirmação, ando com vontade de mandar imprimir
outra.
É
que, e nunca nos esqueçamos, se a fotografia é a escrita da luz, ela só é perceptível
havendo sombra, havendo ausência ou diminuição de luz.
É
também por isso, mas não só, que tanto gosto de fotografar de frente para a
luz.
Já
o trabalho de laboratório, com a sua obscuridade quase total, os seus jogos tácteis
e os seus cheiros intensos, é algo que só os mais antigos ou os praticantes das
modas retro conhecem. E é pena, que a disciplina individual que tais práticas
exigem bem falta fazem nos tempos que correm.
By me
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
.
Numa entrevista publicada no jornal I, leio que:
“Temendo que o partido se venha a
“ruralizar”, deixando de ter influência nos grandes centros urbanos, ganhando
mais câmaras pequenas do interior, Relvas acha que o PSD ainda não provou o
sabor mais amargo”
Fico elucidado sobre o que este senhor pensa ser o
país e o que nele é importante.
.
domingo, 17 de setembro de 2017
.
E se te abstiveres
nas próximas eleições autárquicas, por favor não venhas depois aqui
queixares-te da ineficácia dos sistemas públicos.
Que dizer que o
sistema não presta mas nada fazer de concreto para o mudar é a forma mais cómoda
de não assumir as responsabilidades que se tem pelo simples facto de se estar
vivo.
.
Temp
Haverá quem diga que as temperaturas caíram brusca e acentuadamente.
Por sorte, cá em
casa foi em cima de uma almofada.
Mas que está mais
frio, lá isso está.
By me
Cores
Para muitos, a
palavra “Kelvin” pouco dirá.
Para os curiosos
ou profissionais da luz, tanto quem a cria como quem a capta, o termo define a
unidade com a qual se mede a temperatura de cor da luz.
De uma forma mais
simples, é a unidade que define se a luz é mais azul ou mais amarelada, mais “fria”
ou mais “quente”.
Lidamos com isso
no quotidiano ao escolhermos uma lâmpada de tom quente ou frio para as nossas
casas. Ou quando ajustamos a nossa câmara fotográfica com aquele símbolo “sol”,
“sombra”, “lâmpada” ou “auto” para ajustar a cor das nossas fotografias.
As mais das vezes
não nos apercebemos muito destas mudanças ou nuances a olho nu: o nosso cérebro
ajusta-se e “calibra-se” em função da luz existente e quase só por comparação
directa nos apercebemos.
Um exercício
divertido para vermos essas diferenças subtis, ou não tanto, na iluminação
artificial é observarmos os prédios de habitação à noite, de preferência pela
hora de jantar, e vermos como as janelas têm cores diferentes em função das
luzes usadas. Salas, cozinhas, quartos, sanitários…
Do ponto de vista
fotográfico, temos que ajustar os nossos modos de registo pelo tipo de luz
existente. Os menus ajudam. Ou, para dar menos trabalho, colocar em automático
e esperar que o japonês inteligente que vive no interior das câmaras faça o seu
trabalho.
Ficamos com cores “naturais”,
vivas muitas vezes, e os assuntos captados correspondem à imagem mental que
temos deles. E gostamos do que vemos.
No entanto…
No entanto se
essas imagens correctamente calibradas correspondem ao que o nosso sistema olho/cérebro
viu, isso pode não corresponder ao que se sentiu no momento.
Um bom exemplo será
ter a calibração ajustada em automático aquando do registar um bonito por do
sol, com todos aqueles tons quentes que conhecemos e com a emoção de lá ter
estado. Dificilmente obteremos isso na imagem resultante.
De igual modo as
imagens nocturnas. Ter a câmara calibrada com rigor para a iluminação existente
dá-nos a reprodução fiel e tecnicamente correcta. Mas as emoções, o calor da
festa ou o frio da tempestade ficarão excluídos quase de certeza. Por muito
simbólicos que sejam os conteúdos e as composições dentro do enquadramento.
Nos tempos em que
se apenas se usava película por falta de alternativas, transportava eu um montão
de filtros coloridos das séries 80, 81, 82 e 85 exactamente para, na tomada de
vista, aquecer ou arrefecer a imagem, na busca da emoção pela cor. Quer em
busca dos standards de interpretação, que procurando os seus opostos.
Hoje ando mais
leve, bastando escolher no respectivo menu a calibração que quero para a emoção
que tenho. Ou, posteriormente, ajustar no todo ou em parte essa mesma dominante
cromática.
Dirão os puristas
que isso será subverter o registo, transformando uma realidade numa outra
adulterada, photoshopando o original.
Digo eu que, quer
seja por um método (tomada de vista) ou por outro (edição), o que me interessa é
transmitir emoções.
Que a minha câmara
não é uma fotocopiadora nem os meus neurónios funcionam em modo automático.
Deixo o rigor da
reprodução cromática para publicitários e profissionais de informação, pese
embora vezes demais não o sejam e não por descuido.
By me
sexta-feira, 15 de setembro de 2017
15 - Setembro
Celebram-se
hoje cinco anos que o povo saiu à rua.
A
15 de Setembro de 2012 cerca de um milhão de cidadãos, dos quais 500 mil em
Lisboa, manifestaram-se por todo o país sob o lema “Que se lixe a troika!
Queremos as nossas vidas!”
Por
objectivo, o protesto contra a forma como o resgate financeiro a Portugal
estava a decorrer, com medidas de austeridade inauditas e draconianas.
Nos
anais da história ficarão dois factos:
-
Foi a segunda maior manifestação popular da nossa história, apenas ultrapassada
pela que aconteceu no 1º de Maio de 1974, logo a seguir à revolução;
-
Foi organizada por um grupo pequeno de cidadãos, bem à margem de partidos e
organizações sindicais.
Do
que recordo de ter vivido em Lisboa, e para além a enormidade de gente em
protesto que esmagava qualquer imaginação possível, foi a velocidade inimaginável
com que os cidadãos se deslocaram nas ruas e avenidas, numa ânsia de que
qualquer coisa acontecesse.
O
habitual por cá é as manifestações acontecerem ordeira e organizadamente, com
gente a gerir velocidades e ocupação de espaço, promovendo palavras de ordem
previamente pensadas ou de improviso. Naquele dia nem isso aconteceu nem seria
possível acontecer, que os cidadãos responderam em massa e para além de
qualquer controlo.
Indo
mais longe, não recordo de ter visto em manifestações (e já estive em muitas)
tamanha quantidade de crianças e idosos, numa demonstração mais que evidente de
ser o país ali representado, pacífico mas para além das previsões e organizações
habituais.
Das
suas consequências também rezará a história, com as opiniões óbvias em função
do quadrante que opine.
Mas
certo é que naquele dia 10% dos portugueses saíram às ruas para protestar
contra um governo que foi eleito apenas por estar em contra-ciclo com o
anterior e que geria o país como os cidadãos não queriam.
E
num país pacato como o nosso, ter dez por cento dos seus habitantes na rua em
protesto é obra, diga-se o que se disser.
Estou
certo que nenhum dos que lá estiveram esquecerão as emoções vividas.
By me
Pinturas
Acredito
que existam bons e sólidos motivos para se pintar de verde aquilo que era cor
de tijolo: as ciclovias.
Talvez
que se suje menos e a cor permaneça em evidencia mesmo com lixo.
Talvez
que a psicologia da cor transforme o verde em ecológico, condicionando os
transeuntes a respeitar o espaço.
Talvez
que seja dar um toque de verdura num espaço onde o vegetal escasseia.
Talvez
que seja um aproveitamento de tintas existentes em armazém, evitando comprar
novas ao restaurar a cor perdida.
Mas
não quero crer que se trate de uma intervenção de campanha eleitoral, o
repintar a ciclovia recente numa zona objecto de intervenção urbana há tão
pouco tempo e tão polémica que foi.
Em
qualquer dos casos, pergunto:
Com
tantos e tão bons urbanistas e engenheiros não poderiam ter logo começado por
esta cor aquando da sua construção inicial?
By me
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
.
Sabemos
que algo de muito errado acontece neste país quando as organizações da indústria
desportiva se entendem acima das orientações das entidades oficiais.
Exemplo?
O
insistirem em marcar jogos de futebol em dia de eleições, mesmo quando os estádios
estão demasiado perto das assembleias de voto.
Outro
exemplo?
Pode
um jogador, treinador ou equivalente recusar participar num jogo alegando que a
deslocação o impedirá de exercer o seu direito de voto?
Provavelmente
pode, mas põe em risco o seu posto de trabalho aquando de uma eventual renovação
de contrato.
O
direito e dever de participar nas actividades cívicas do país não podem nem
devem ser postas em causa por questões de tão somenos importância quanto jogos
de futebol.
.
quarta-feira, 13 de setembro de 2017
Sombras
Sabemos
que as sombras são fugazes, à medida que as relatividades astrais se modificam.
Que
se há algo que não podemos possuir mas tão só usufruir são mesmo elas, as
sombras.
Mas
podem ficar na nossa memória, real ou virtual, muito depois de as vermos ou gerarmos.
As nossas sombras do que somos ou fomos.
E
saber que elas deixarão de ser reproduzíveis, que aquelas condições não se
repetirão, faz com que as memorizemos com mais segurança.
Para
mais tarde recordar, bem mais na alma que nos registos fotónicos.
By me
terça-feira, 12 de setembro de 2017
.
Cão
que ladra não morde, diz-se.
É
natural!
Não
é fácil ladrar enquanto se dá uma dentada numa canela.
Ora
tentem lá!
Mas
escolham uma canela limpa.
.
Academizo-me
É
daquelas coisas estranhas mas divertidas e assustadoras ao mesmo tempo:
Um
tipo perceber que aquilo que faz tem cunho pessoal, identidade própria. E que,
mesmo quando o não quer, acaba por deixar uma assinatura na sua criatividade.
Não
sei se será coisa de que goste.
Ainda
que possa ser o resultado de se ir afinando gostos e abordagens ao longo dos
anos, também pode ser o recorrer a fórmulas feitas, ao facilitismo da execução,
à falta de originalidade.
Apesar
de andar com o espírito e a alma bem ocupados com outras coisas bem mais
importantes, tentarei a partir de agora encontrar uma outra linguagem, uma
outra estética, uma outra forma de me exprimir fotograficamente.
Entre
outros motivos para tal, o facto de pensar que se não faço algo de novo, de
diferente do que tenho feito, acabarei por “morrer”, “enquistar”, “academizar-me”
do ponto de vista criativo.
Li
algures faz tempo que um fotógrafo, se quer ter sucesso no mundo comercial da
fotografia tem que definir um estilo próprio que o diferencie dos demais e que
seja uma mais valia para os clientes.
Não
estou no mercado, não tenho que agradar a clientes. E não quero estagnar,
fazendo sempre “igual”.
Agora
não me perguntem como e se conseguirei mudar, que não faço a mais pequena
ideia.
By me
Alcunhas
Aqui
e ali, nos meios políticos e jornalísticos, fala-se no programa “Portugal 2020”.
Por
aquilo que soube, trata-se de um programa de apoios comunitários – muito dinheiro
– para serem investidos no desenvolvimento do país tendo por meta o ano 2020.
Nada
de novo, portanto, já que se trata de um programa que remonta ao ano de 2014.
Aquilo
que estranho é ouvir uns e outros falar em “Portugal vinte vinte”.
Caramba!
Aquilo que leio é dois mil e vinte.
Ou
será que a forma de pronunciar os números mudou desde os meus bancos da escola
e não dei por isso? Talvez se trate antes de medidas de pneus, ainda que eu
tenha dificuldade em perceber o que isso tem a ver com política. Ou ainda uma
alcunha, com um significado meio obscuro.
Neste
último caso, o que estará escondido na alcunha do ano 2069?
São
estas algumas das inquietudes que tenho, no ano da graça vinte dezassete, no
mês zero nove. Já o dia um dois pode ser o início de uma contagem crescente de
qualquer coisa. Disparates por dia, por exemplo.
By me
Subscrever:
Mensagens (Atom)