sábado, 30 de setembro de 2017

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Barcelona: uma cidade ocupada.

Estrelada



Esta Estrelada veio para a minha posse desde a festa da cidade (senhora da Mercè) de 1994.
Comprada numa banca de rua na Rambla de Barcelona, pertinho da Plaça de Calalunya, tem ornado a minha janela em mastro improvisado ou apenas na corda da roupa sempre que a ocasião o justifica. E várias foram as ocasiões.
Se a vida não tivesse dado as voltas que deu, estaria eu agora como cidadão catalão por lá, festejando e batendo-me pela liberdade de expressão e autodeterminação. Ou estaria há muito lá sepultado num canto anónimo.
Essas mesmas voltas levaram-me ao que sou hoje, de bom e de mau, e ao ponto de viragem que atravesso. Bendito ponto de viragem, que não o trocaria por nada.
Mas o meu coração terá sempre um canto especial pela Catalunha e pela sua luta desde há muito pela independência.


Demà seré Català!

By me 

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

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Deitar tarde e cedo erguer
é doloroso e faz sofrer.
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quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Esbulho



Leio no jornal que o Cartão de Cidadão vai passar a ter um prazo de validade de 10 anos para os maiores de 25 anos de idade.
E, acrescentam, o custo da renovação neste caso muda dos actuais 15€ para 18€.
Fazem ainda as contas e dizem-nos que isto resulta numa poupança de 90 euros ao longo da vida.
ERRO!
Isto resulta é em sermos esbulhados em menos 90€ ao longo da vida.

Porque outro nome não tem o sermos obrigados a possuir um documento de identidade, actualizado, e sermos obrigados a pagar por isso.

By me

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Outros olhares



Repare-se como nas artes convencionais (pintura, escultura, arquitectura) as coisas feias não são objecto de abordagem.
Procura-se o belo, o transcendente, o divino, o sonho… mas o mau, o feio, o lixo, o incómodo… ficam de parte no trabalho dos artistas. Mesmo noutras artes tradicionais (escrita, dança música…) raramente as abordam.
Talvez que a escrita (prosa ou poesia) nos relatem o menos bom, como a tristeza ou a infelicidade. Num misto entre a arte e o desabafo.
Mas o certo é que os artistas (e quem lhes consome o que produzem) não dão ao mal, ao feio, ao lixo, relevo ou atenção.
Creio que é o advento da fotografia, mais a contemporânea que a inicial, que faz daquilo de que não gostamos um “objecto de arte”, mostrando com maior ou menor crueza os males do mundo e do Homem. O mal que faz aos seus iguais e o mal que deixa no mundo.
A fotografia veio, creio, transformar aquilo de que não gostamos em algo que observamos amiúde. Por vezes com deleite misturado com horror.
Veio a fotografia fazer-nos gostar daquilo de que não gostamos, apreciar o que nos incomoda, transfigurando o errado em banal.
Visto de outro modo, mais que qualquer outra forma de arte, a fotografia está a mudar os nossos conceitos, pessoais ou colectivos, sobre o que é certo ou errado, o que é o bem e o que é o mal.



By me

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Admito que me dá um certo prazer constatar o como algumas pessoas não gostam mesmo nada de mim.

É que a reciprocidade é uma coisa muito bonita.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Castanhas



Agora começa bem mais cedo, a época das castanhas.
Recordo que surgiam os vendedores ambulantes com os primeiros frescos ou as primeiras chuvas, mais aguaceiros que outra coisa.
Agora aparecem quando os gelados deixam de ter saída, mesmo antes da formalidade do início do Outono. E não apetecem.
Para mim, castanhas assadas só com frio, nevoeiro mesmo, de modo a que o seu quente de “quentes e boas” nos confortem das agressões outonais.
Deixaram eles de as vender em cartuchos feitos com jornal. Ou listas telefónicas.
Dizem os entendidos que a tinta impressa é prejudicial à saúde. E obrigam usar papel branco ou cartuchos pré feitos com publicidade no seu exterior. Vai perdendo a graça.
Mas aquilo que as castanhas assadas mantêm da tradição é que se vendem às dúzias (ou meias) tal e qual os ovos. Não sei de mais nada que ainda use esta unidade no negócio.
E aquilo que não se mantém é a uniformidade de preços.
Hoje vi-as à venda aqui, mesmo em frente a um centro comercial cosmopolita de Lisboa. O preço afixado era de 2,50€ a dúzia. O ano passado a mesma quantidade era de 2,00€. 25% de aumento é obra, convenhamos.
Mas o que nos estranha é que na semana passada as vi à venda na Rua Augusta, bem no meio dos turistas, pela módica quantia de 3,00€ a dúzia.
Nada como aproveitar a curiosidade ingénua dos forasteiros para lhes extorquir uns trocos, mesmo que a destempo e com um sol radioso e quente.

Por mim, vou esperar pelo São Martinho e a água pé.

By me 

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Enquanto que por cá, no próximo domingo, uns milhões de portugueses vão mandar as eleições às urtigas, indo fazer qualquer outra coisa, na Catalunha uns milhões de cidadãos quererão ir votar e serão impedidos pelo governo de Madrid.
E as televisões irão mostrar, em directo ou quase, como se destrói o conceito de democracia e liberdade de expressão.

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Alvalade


Prédios cinzentos
Cor-de-rosa
E brancos.
Altos,
Baixos,
Grandes,
Pequenos,
Largos
E curtos.

Ruas pequenas,
Sinuosas
E silenciosas.

Grandes avenidas
Barulhentas,
Cheias de gente.

Tudo anda de cá para lá
E de lá para cá.
Gente que sai
E que entra
Nas lojas,
Nos autocarros,
Nas casas.

Gente que compra.
Gente que vende.
Gente que corre.
Gente que passeia.
Gente que come,
Tranquilamente,
Nos restaurantes.
Gente que bebe uma bica
E toca a andar.
Gente que fuma
Calmamente.
Gente que mastiga
Pastilhas elásticas
Desesperadamente.

Tudo isto com um nome: Alvalade.


1970

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

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Para que conste:
Só o cães têm trela.
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Alguém deveria ler e explicar isto a esta senhora.

Constituição da República Portuguesa
Artigo 13º
Princípio da igualdade
1. …
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.



De acordo com o que li num jornal, Joana Amaral Dias, candidata à Câmara Municipal de Lisboa, propõe espaços reservados a mulheres nos transportes públicos como forma de acabar com os assédios de que são alvo.
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Palmanços



Em parte a culpa foi minha: tinha o bolso lateral do colete aberto e a caixa preta das pastilhas estava bem à vista, parecendo uma carteira ou porta-moedas.
Seja como for, ao entrar no eléctrico, no meio daquela confusão desordenada em que todos querem embarcar com encontrões e ultrapassagens selvagens, senti um puxão no colete.
O instinto avisou-me do que se passava e levei a mão ao bolso: faltava a caixa.
O tipo que me tinha passado pela direita era o único suspeito: cinquetão, talvez mais, seco de carnes, brilhantina, rosto enrugado e marcado pelo sol, óculos meio escuros clássicos de massa, pequena bolsa a tiracolo com um casaco nela pendurado…
“Passa para cá isso!”
“Mas o que se passa?”, disse com ar de ingénuo.
“Passa para cá isso, então?! Passa para cá ou é pior!”
Esticou-me a mão esquerda, a que tinha usado, e desculpou-se:
“Você tinha deixado cair…”
“Deixei cair, é? E você apanhou-a com quê? Com os pés na confusão?”
Ficou em silêncio uns segundos, comigo a fitá-lo firmemente.
“Não querem lá ver que temos carteiristas a bordo?”, acrescentei em tom médio.
Manteve-se mais uns segundos, poucos, a olhar para mim, empurrou quem lhe estava no caminho e saiu, seguindo lesto para longe da lombriga de várias portas que é a carreira 15.
“Mas isso não é a caixa das pastilhas?”, perguntou-me quem estava comigo.
“É, e ele ia ter uma surpresa quando visse a falta de valor do palmanço.”

Que eu saiba, foi a segunda vez que fui vítima. Desta feita com final feliz, ao contrário da primeira no metro de Barcelona há mais de um quartel. E, ao contrário dessa cujo relato na esquadra deixou surpreendidos os polícias pela novidade do método, desta vez parte da culpa foi minha, que facilitei a coisa.

Se a frequência for esta, não me deve voltar a acontecer.

By me

domingo, 24 de setembro de 2017

Liberdades



Estava escrito num muro que fica a meio caminho de minha casa para o liceu.
Passado algum tempo, esse caminho passou a ser o de casa para o trabalho, que tanto fiz a pé.
Por isso o vi muitas vezes, até ficar indelevelmente gravado na minha memória:
“Liberdade para todos, menos para os fascistas”
Foi escrito naquele tempo que se seguiu à revolução de Abril, prolífero em mensagens com sentido nas paredes, umas mais simples, outras bem coloridas, algumas verdadeiras obras de arte.
Esta, a preto sobre o já não branco do muro, sempre me incomodou. Muito! Muito mesmo!
Qualquer um que me conheça, por pouco que seja, saberá que não defendo a ideologia fascista. Ou qualquer outra ideologia totalitária, seja qual for o quadrante.
A liberdade é algo de sagrado na minha cartilha e limitá-la é pecado nela também. A liberdade dos pensamentos e a liberdade de o dizer.
O simples facto de alguém pensar diferente de mim, por muito oposto que seja, não é motivo para lhe impor castigo ou impedir de o pensar. Mais ainda: o facto de alguém defender em público teorias que se opõem ás minhas, por mais opostas ou que me incomodem, não me dá o direito de o fazer calar.
Liberdade é liberdade, sem peias ou limites.
Não posso aceitar é que teorias que me prejudiquem ou que prejudiquem outros sejam postas em prática.
Assim, quem tentar por em prática teorias totalitárias terá a minha oposição, demonstrando publicamente o seu erro e perigo e impedindo, mesmo que fisicamente, que as liberdades de pensamento ou expressão sejam limitadas. Ou a segregação racial, ou religiosa, ou sexual, ou económica, ou o que quer que seja.
Agora que o possam pensar, que possam dizer o que pensam…
Se eu exijo para mim a liberdade de pensar e de dizer o que penso, bater-me-ei para que os demais o possam fazer. Mesmo que não concorde com o que dizem.


Será pantanoso este terreno. Mas não poderei aceitar uma “polícia do pensamento”. Ou o regresso dos lápis azuis. Ou a recuperação de um qualquer Tarrafal. Ou de goulags. Ou de piras de livros. Ou de índex. Ou…

By me

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Flores



Quem me conhece sabe que não colho flores. Nem as ofereço.
Não me apetece exprimir-me com um ser vivo a morrer ou já morto.
Tal como não as colho para fotografar. Que o meu prazer visual não é mais importante que um ser vivo.
Mas há ocasiões em que apetece dar uma coisa bonita, de que gostamos e a quem gostamos. É um impulso quase irresistível.
A minha solução, nestes casos, é rapar da câmara, mesmo que um telemóvel, e fazer o ícone do que quero dar. Assim, de impulso.

Foi o caso.

By me 

Hoje



Pergunta:
A barba cresce mais nos dias de verão ou nos dias de Inverno?
Claro que é nos dias de verão, que têm mais horas de sol que os dias de Inverno.
Uma das duas excepções é o dia de hoje, em que o dia tem a mesma duração que a noite.
Chamam-lhe equinócio e é conhecido e celebrado desde muito antes de termos inventado a escrita ou as redes sociais.
Caso tenham tempo, tirem um pouco dele para pensarem como este dia acontece muito para além das outras datas, arbitrárias, que o bicho-homem inventa. Muito para além da curta existência da raça humana.

A nossa fragilidade na linha do tempo é tremenda, mesmo que não o queiramos aceitar.

By me

CC



Não adianta virem com argumentações desta ou daquela natureza: a posse de um documento de identificação nacional actualizado é uma obrigação.
Não o ter é punível por lei e impedimento para alguns actos formais. Por exemplo, o levantar de correspondência registada e nominal, a abertura ou movimento de conta bancária, a celebração de um contrato…
Esse documento de identificação (Cartão de Cidadão) tem uma validade de cinco anos. E se estiver expirada essa validade é como se o não possuísse.
Acontece que a renovação desse documento, feita em instituição estatais, é paga.
Pouco importa que nada tenha mudado desde o anterior: morada, características físicas, estado civil… mesmo que tudo seja igual, há que pagar pelo documento novo.
“Ah e tal… mas se não tiver condições económicas (e o provar) não tem que pagar.”, disseram-me numa dessas instituições.
A questão não é o quanto pagar. Feitas as contas, renovar o documento de identificação custa 25 cêntimos por mês. Menos que uma bica.
A questão está em que somos obrigados a fazer algo – todos os cidadãos – e a pagar por isso. E isto é um imposto!
Eu diria mais: é um imposto de existência. Sermos obrigados a pagar para provarmos que existimos.
A própria existência do documento incomoda-me. Ser reduzido a números, mais a mais com informações no documento às quais não sei se tenho acesso integral. E não sabendo se o simples introduzir desse documento numa maquineta permite a quem o faz aceder a dados pessoais que em nada se relacionam com o acto no momento. É por isso que o meu CC não entra em nenhum leitor, privado ou público, impondo eu a sua leitura visual e nada mais.
Ter que pagar para possuir um documento que sou obrigado a ter e actualizado… isso faz-me ficar furioso.

Mas pagar obrigatoriamente para provar que existo… Internem-me, por favor.

By me

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Já não explico porquê.
Mas não se esqueçam de celebrar, à vossa maneira, o dia de amanhã.

22 de Setembro, celebrado desde os tempos mais antigos da humanidade.
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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Negócios

O Campo Pequeno está à venda.
De acordo com o que li, uma empresa Suiça está interessada em o comprar, considerando que quem a possui actualmente entrou em falência em 2014.
Fontes geralmente mal informadas confidenciaram-me que o Mosteiro da Batalha está em situação semelhante, havendo um grupo saudita interessado na aquisição e que o Forte de Sagres também, sendo o Reino do Butão o candidato.

Já a Torre dos Clérigo, no Porto, recebeu uma proposta de um empresário de Pisa, mas nada mais me adiantaram.
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E pode?



Pergunto-me como é possível que, em plena campanha eleitoral autárquica, com tudo o que isso significa e que conhecemos, este arruamento ainda exista em Lisboa.

By me

Aqui ao lado



Aqui ao lado preparam-se para o pior.
O governo de Madrid fretou três navios, entre paquetes e ferrys, com uma capacidade total de 6000 pessoas, para atracarem em portos da Catalunha. Dois em Barcelona, um em Tarragona.
O objectivo é poder alojar os reforços policiais da Guardia Civil e Polícia Nacional, enviados de todo o país, para abafar e neutralizar o referendo que os Catalães querem fazer no próximo dia um de Outubro sobre uma eventual independência de Espanha. Por aquilo que é possível saber pelos jornais do país vizinho, a maioria deste reforço policial é composto por polícia anti-distúrbios, aquilo que por cá chamamos de “polícia de choque” ou “corpo de intervenção”.
Será interessante recordar que a lei espanhola impede o uso de paquetes ou ferrys como hotéis ou alojamento temporário. O que nos pode levar a concluir que a lei que vigora aqui ao lado é a do funil: só funciona para um lado, o que convier aos governantes centrais.
No mesmo dia em que por cá poderemos exercer a democracia, com eleições autárquicas, em Espanha a democracia e a liberdade de expressão ficarão na gaveta, impedindo que um povo possa exprimir o que quer para o seu próprio destino.


Na imagem, um dos navios fretados

By me

O livro



“L‘image dês objets extérieurs qu’on aperçoit dans une chambre obscure percée d’une petite ouverture a dù certainement étre observée dans l’antiquité. Cedependant Aristote, qui a résumé toutes les connaissances acquises à son époque, s’étonne que les rayons du soleil passant à travers des trous carrés forment dês cercles et non pas des figures rectiligne. Le philosophe de Stagire essaye, sans y reussir,d’expliquer cette apparente anomalie, et ce n’est quid ix-huit siècles plus tard, dans les manuscripts d’un artiste célèbre, que l’on trouve pour la première fois l’analyse exacte du phénomène et son explication racionelle fondée sur la propagation en ligne de la lumière.”

É com estas palavras que começa o livro da imagem e que se intitula “Traité gèneral de photographie”, escrito por Ernest Coistet e publicado em Paris em 1912.
São 522 páginas, quase papel bíblia, onde nos são descritos desde os processos de sensibilização de superfícies, aos métodos e fórmulas de revelação, passando por cinema, fotografia técnica, fotografia em cor, equipamentos raros, etc.
Quem o conhecesse, então, de fio a pavio, saberia certamente muito mais e com mais rigor que os fazedores de fotografia dos tempos correntes.
Já não sei como me veio para ás mãos tal preciosidade. Sei, apenas porque tem a anotação a lápis, que o preço que me cobraram foi de 20€, pese embora a encadernação já não ser a original.
Não ocupa lugar de destaque aqui por casa, que todos os livros, independentemente da sua idade, têm igual valor.

Mas possui-lo dá-me algum prazer e já nele encontrei algumas preciosidades insuspeitas.

By me

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Liberdade



Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Tratamentos



O tempo é dividido em diversas unidades: anos, luas, horas, segundos, milénios…
Profissionalmente, o meu divide-se em 1/25 do segundo. É quanto dura cada imagem que transmito.
25 imagens por segundo! 1500 imagens por minuto! 90.000 imagens por hora!
Este é o meu ritmo de trabalho.
Com esta quantidade de opções por unidade de tempo, não tenho grande oportunidade de me preocupar com formalidades e graus de tratamentos inter-pessoais.
Divido os meus relacionamentos em dois grupos: os companheiros de trabalho, seja qual for a sua função ou idades e os convidados, externos à empresa, que temos em frente das câmaras.
Para com os primeiros, tenho um tratamento por “tu”. Igualitário! Fraternal! Indiferenciado! Seja qual for a sua posição na pirâmide hierárquica.
Para com os convidados tenho um tratamento na terceira pessoa, por “você”. Entram como convidados, saem como conhecidos, mas fomos nós que os convidámos para a “nossa casa”, e que há que tratar com a deferência que alguma cerimónia ou deferência impõem.
Há ainda uma terceira abordagem: o tratamento por “você” para com as pessoas com quero assumidamente ter uma tratamento à distância, com quem não quero ter intimidades. Se levar as coisas ao limite e quiser ser mesmo insultuoso, tratarei por “Vossa Excelência”.

Goste-se ou não, nascemos da mesma forma e acabaremos do mesmo jeito. E não tenho nem tempo nem paciência para discriminações de idade, posto laboral, categoria social ou classificação honorífica.

By me

Prohibit



Às onze da manhã, hora espanhola, eram já dez os membros do governo Catalão presos pela polícia do governo central Espanhol, acusados de estarem envolvidos na organização do referendo a realizar em 1 de Outubro sobre a independência da Catalunha.

By me

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Prendas



“Toys R Us pede insolvência para conseguir entregar as prendas de Natal”
Este é um título de um jornal de hoje.
E, sobre ele, duas cogitações:
E se fosse o Pai Natal a pedir insolvência?
E onde está a notícia sobre todos aqueles que, sem terem pedido insolvência, não têm como dar uma prenda de Natal?


Be me

In the dark



Em tempos recuados (caramba, como são recuados!) tive um t-shirt preta que mandei imprimir.
Em letras brancas podia ler-se “Photographers do it in the dark”.
Pese embora ser quase obsoleta tal afirmação, ando com vontade de mandar imprimir outra.
É que, e nunca nos esqueçamos, se a fotografia é a escrita da luz, ela só é perceptível havendo sombra, havendo ausência ou diminuição de luz.
É também por isso, mas não só, que tanto gosto de fotografar de frente para a luz.
Já o trabalho de laboratório, com a sua obscuridade quase total, os seus jogos tácteis e os seus cheiros intensos, é algo que só os mais antigos ou os praticantes das modas retro conhecem. E é pena, que a disciplina individual que tais práticas exigem bem falta fazem nos tempos que correm.



By me

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Informação minimalista sobre o estado do tempo



By me

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Numa entrevista publicada no jornal I, leio que:
Temendo que o partido se venha a “ruralizar”, deixando de ter influência nos grandes centros urbanos, ganhando mais câmaras pequenas do interior, Relvas acha que o PSD ainda não provou o sabor mais amargo

Fico elucidado sobre o que este senhor pensa ser o país e o que nele é importante.
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domingo, 17 de setembro de 2017

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E se te abstiveres nas próximas eleições autárquicas, por favor não venhas depois aqui queixares-te da ineficácia dos sistemas públicos.

Que dizer que o sistema não presta mas nada fazer de concreto para o mudar é a forma mais cómoda de não assumir as responsabilidades que se tem pelo simples facto de se estar vivo.
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Temp



Haverá quem diga que as temperaturas caíram brusca e acentuadamente.
Por sorte, cá em casa foi em cima de uma almofada.

Mas que está mais frio, lá isso está.

By me

Cores



Para muitos, a palavra “Kelvin” pouco dirá.
Para os curiosos ou profissionais da luz, tanto quem a cria como quem a capta, o termo define a unidade com a qual se mede a temperatura de cor da luz.
De uma forma mais simples, é a unidade que define se a luz é mais azul ou mais amarelada, mais “fria” ou mais “quente”.
Lidamos com isso no quotidiano ao escolhermos uma lâmpada de tom quente ou frio para as nossas casas. Ou quando ajustamos a nossa câmara fotográfica com aquele símbolo “sol”, “sombra”, “lâmpada” ou “auto” para ajustar a cor das nossas fotografias.
As mais das vezes não nos apercebemos muito destas mudanças ou nuances a olho nu: o nosso cérebro ajusta-se e “calibra-se” em função da luz existente e quase só por comparação directa nos apercebemos.
Um exercício divertido para vermos essas diferenças subtis, ou não tanto, na iluminação artificial é observarmos os prédios de habitação à noite, de preferência pela hora de jantar, e vermos como as janelas têm cores diferentes em função das luzes usadas. Salas, cozinhas, quartos, sanitários…
Do ponto de vista fotográfico, temos que ajustar os nossos modos de registo pelo tipo de luz existente. Os menus ajudam. Ou, para dar menos trabalho, colocar em automático e esperar que o japonês inteligente que vive no interior das câmaras faça o seu trabalho.
Ficamos com cores “naturais”, vivas muitas vezes, e os assuntos captados correspondem à imagem mental que temos deles. E gostamos do que vemos.
No entanto…
No entanto se essas imagens correctamente calibradas correspondem ao que o nosso sistema olho/cérebro viu, isso pode não corresponder ao que se sentiu no momento.
Um bom exemplo será ter a calibração ajustada em automático aquando do registar um bonito por do sol, com todos aqueles tons quentes que conhecemos e com a emoção de lá ter estado. Dificilmente obteremos isso na imagem resultante.
De igual modo as imagens nocturnas. Ter a câmara calibrada com rigor para a iluminação existente dá-nos a reprodução fiel e tecnicamente correcta. Mas as emoções, o calor da festa ou o frio da tempestade ficarão excluídos quase de certeza. Por muito simbólicos que sejam os conteúdos e as composições dentro do enquadramento.
Nos tempos em que se apenas se usava película por falta de alternativas, transportava eu um montão de filtros coloridos das séries 80, 81, 82 e 85 exactamente para, na tomada de vista, aquecer ou arrefecer a imagem, na busca da emoção pela cor. Quer em busca dos standards de interpretação, que procurando os seus opostos.
Hoje ando mais leve, bastando escolher no respectivo menu a calibração que quero para a emoção que tenho. Ou, posteriormente, ajustar no todo ou em parte essa mesma dominante cromática.
Dirão os puristas que isso será subverter o registo, transformando uma realidade numa outra adulterada, photoshopando o original.
Digo eu que, quer seja por um método (tomada de vista) ou por outro (edição), o que me interessa é transmitir emoções.
Que a minha câmara não é uma fotocopiadora nem os meus neurónios funcionam em modo automático.

Deixo o rigor da reprodução cromática para publicitários e profissionais de informação, pese embora vezes demais não o sejam e não por descuido.

By me 

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

15 - Setembro



Celebram-se hoje cinco anos que o povo saiu à rua.
A 15 de Setembro de 2012 cerca de um milhão de cidadãos, dos quais 500 mil em Lisboa, manifestaram-se por todo o país sob o lema “Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!”
Por objectivo, o protesto contra a forma como o resgate financeiro a Portugal estava a decorrer, com medidas de austeridade inauditas e draconianas.
Nos anais da história ficarão dois factos:
- Foi a segunda maior manifestação popular da nossa história, apenas ultrapassada pela que aconteceu no 1º de Maio de 1974, logo a seguir à revolução;
- Foi organizada por um grupo pequeno de cidadãos, bem à margem de partidos e organizações sindicais.
Do que recordo de ter vivido em Lisboa, e para além a enormidade de gente em protesto que esmagava qualquer imaginação possível, foi a velocidade inimaginável com que os cidadãos se deslocaram nas ruas e avenidas, numa ânsia de que qualquer coisa acontecesse.
O habitual por cá é as manifestações acontecerem ordeira e organizadamente, com gente a gerir velocidades e ocupação de espaço, promovendo palavras de ordem previamente pensadas ou de improviso. Naquele dia nem isso aconteceu nem seria possível acontecer, que os cidadãos responderam em massa e para além de qualquer controlo.
Indo mais longe, não recordo de ter visto em manifestações (e já estive em muitas) tamanha quantidade de crianças e idosos, numa demonstração mais que evidente de ser o país ali representado, pacífico mas para além das previsões e organizações habituais.
Das suas consequências também rezará a história, com as opiniões óbvias em função do quadrante que opine.
Mas certo é que naquele dia 10% dos portugueses saíram às ruas para protestar contra um governo que foi eleito apenas por estar em contra-ciclo com o anterior e que geria o país como os cidadãos não queriam.
E num país pacato como o nosso, ter dez por cento dos seus habitantes na rua em protesto é obra, diga-se o que se disser.

Estou certo que nenhum dos que lá estiveram esquecerão as emoções vividas.

By me

Pinturas



Acredito que existam bons e sólidos motivos para se pintar de verde aquilo que era cor de tijolo: as ciclovias.
Talvez que se suje menos e a cor permaneça em evidencia mesmo com lixo.
Talvez que a psicologia da cor transforme o verde em ecológico, condicionando os transeuntes a respeitar o espaço.
Talvez que seja dar um toque de verdura num espaço onde o vegetal escasseia.
Talvez que seja um aproveitamento de tintas existentes em armazém, evitando comprar novas ao restaurar a cor perdida.
Mas não quero crer que se trate de uma intervenção de campanha eleitoral, o repintar a ciclovia recente numa zona objecto de intervenção urbana há tão pouco tempo e tão polémica que foi.
Em qualquer dos casos, pergunto:
Com tantos e tão bons urbanistas e engenheiros não poderiam ter logo começado por esta cor aquando da sua construção inicial?


By me

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

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Sabemos que algo de muito errado acontece neste país quando as organizações da indústria desportiva se entendem acima das orientações das entidades oficiais.
Exemplo?
O insistirem em marcar jogos de futebol em dia de eleições, mesmo quando os estádios estão demasiado perto das assembleias de voto.
Outro exemplo?
Pode um jogador, treinador ou equivalente recusar participar num jogo alegando que a deslocação o impedirá de exercer o seu direito de voto?
Provavelmente pode, mas põe em risco o seu posto de trabalho aquando de uma eventual renovação de contrato.

O direito e dever de participar nas actividades cívicas do país não podem nem devem ser postas em causa por questões de tão somenos importância quanto jogos de futebol.

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quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Sombras



Sabemos que as sombras são fugazes, à medida que as relatividades astrais se modificam.
Que se há algo que não podemos possuir mas tão só usufruir são mesmo elas, as sombras.
Mas podem ficar na nossa memória, real ou virtual, muito depois de as vermos ou gerarmos. As nossas sombras do que somos ou fomos.
E saber que elas deixarão de ser reproduzíveis, que aquelas condições não se repetirão, faz com que as memorizemos com mais segurança.

Para mais tarde recordar, bem mais na alma que nos registos fotónicos.

By me

terça-feira, 12 de setembro de 2017

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Cão que ladra não morde, diz-se.
É natural!
Não é fácil ladrar enquanto se dá uma dentada numa canela.
Ora tentem lá!

Mas escolham uma canela limpa.
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Academizo-me



É daquelas coisas estranhas mas divertidas e assustadoras ao mesmo tempo:
Um tipo perceber que aquilo que faz tem cunho pessoal, identidade própria. E que, mesmo quando o não quer, acaba por deixar uma assinatura na sua criatividade.
Não sei se será coisa de que goste.
Ainda que possa ser o resultado de se ir afinando gostos e abordagens ao longo dos anos, também pode ser o recorrer a fórmulas feitas, ao facilitismo da execução, à falta de originalidade.
Apesar de andar com o espírito e a alma bem ocupados com outras coisas bem mais importantes, tentarei a partir de agora encontrar uma outra linguagem, uma outra estética, uma outra forma de me exprimir fotograficamente.
Entre outros motivos para tal, o facto de pensar que se não faço algo de novo, de diferente do que tenho feito, acabarei por “morrer”, “enquistar”, “academizar-me” do ponto de vista criativo.
Li algures faz tempo que um fotógrafo, se quer ter sucesso no mundo comercial da fotografia tem que definir um estilo próprio que o diferencie dos demais e que seja uma mais valia para os clientes.
Não estou no mercado, não tenho que agradar a clientes. E não quero estagnar, fazendo sempre “igual”.

Agora não me perguntem como e se conseguirei mudar, que não faço a mais pequena ideia.

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Alcunhas



Aqui e ali, nos meios políticos e jornalísticos, fala-se no programa “Portugal 2020”.
Por aquilo que soube, trata-se de um programa de apoios comunitários – muito dinheiro – para serem investidos no desenvolvimento do país tendo por meta o ano 2020.
Nada de novo, portanto, já que se trata de um programa que remonta ao ano de 2014.
Aquilo que estranho é ouvir uns e outros falar em “Portugal vinte vinte”.
Caramba! Aquilo que leio é dois mil e vinte.
Ou será que a forma de pronunciar os números mudou desde os meus bancos da escola e não dei por isso? Talvez se trate antes de medidas de pneus, ainda que eu tenha dificuldade em perceber o que isso tem a ver com política. Ou ainda uma alcunha, com um significado meio obscuro.
Neste último caso, o que estará escondido na alcunha do ano 2069?

São estas algumas das inquietudes que tenho, no ano da graça vinte dezassete, no mês zero nove. Já o dia um dois pode ser o início de uma contagem crescente de qualquer coisa. Disparates por dia, por exemplo.

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