quarta-feira, 20 de julho de 2016

Foi um destes dias!



Em mostrando uma fotografia recém-feita a um colega, numa pausa no trabalho, pergunta-me ele:
“Boa! Photoshop, não?”
Consegui ser suficientemente urbano e não dizer o que me ia na alma.
Mas creio que o meu olhar foi explícito, quando lhe disse que não, que a luz era mesmo assim e que me havia limitado a fazer o crop que havia imaginado aquando da obturação.

Perdeu-se o hábito de ver antes de fotografar, de fazer as opções certas em função do resultado desejado.
Hoje aponta-se, carrega-se no botão e depois logo se vê o que se faz com o resultado.
O pós-processamento é importante. Sempre o foi, desde os primórdios da fotografia. Faz parte de tudo aquilo a que chamamos de “fotografia” e que é o que medeia entre o vermos e o mostrarmos. Mas fotografar sem se imaginar o resultado final, sem se ter uma noção razoavelmente exacta daquilo que iremos mostrar…
A fotografia hoje é o fast-food do registo lúmico. O pensar antes de fazer ou o pensar depois de feito, analisar as opções tomadas e aprender com isso, dá trabalho, consome tempo e é pouco social.
Em parte devido ao custo zero do premir o botão, em parte devido ao conceito de “fotógrafo é artista e aquilo também eu faço”, em parte porque fotografar hoje é uma afirmação social.
É sempre um exercício útil, se bem que raro e difícil, o ver-se a quantidade de fotografias falhadas ou rejeitadas por aqueles que são invejados ou admirados antes que apresentem uma imagem final.

Se fazer arte com fotografia fosse assim tão imediato e instintivo, teríamos uns valentes milhões de artistas fotográficos p’lo mundo fora. E umas poucas centenas de pobres coitados, frustrados, que penam, estudam, treinam e tentam, antes de terem coragem de apresentar uma fotografia que se veja.
E não! Não estou a falar de mim que, com muita sorte, faço uma mediana fotografia a cada dois meses. O resto é vício.

By me

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