Estes horários
malucos que tenho forçam a que, por vezes, tenha que tomar uma refeição sólida
quando a maioria pensa em lanchar. Isto para não ir para a cama a fazer a
digestão, que é sabido não dar bons sonos.
Pois estava eu a
preparar a janta e sinto um movimento estranho lá em baixo, na praceta onde
estacionam os carros. Senti-o pelo “rabo do olho” e voltei-me para prestar
atenção, por entre a balaustrada da varanda e a roupa a secar.
Talvez que uma
festa de fim de ano lectivo, ou aniversário ou quejando. Mas bem no meio do
parqueamento, uma garotinha talvez ainda não tendo chegado aos dez anitos,
rodopiava vestida de “princesa”: vestido comprido até aos pés, branco, mangas
de balão, um colete amarelo-torrado brilhante, uma tiara na cabeça.
Não se ouvia música.
Pelo menos eu não a ouvia, que ela parecia dançar ao som de uma qualquer valsa.
De súbito, entrou
no meu campo de visão o eventual par. Talvez uns dois anos mais velho, e uma mão
travessa bem medida mais alto, vestia calças justas elásticas verdes, um colete
igualmente verde por sobre uma camisa branca com mangas de balão e, encimando a
cabeça, um chapéu de um bico com uma pena de lado e tombando para trás. Pendurado
do cinto, à esquerda, uma espada fina, tipo florete, pouco condizente em termos
de época com o traje, mas nestas coisas isso do racord não conta.
Chegou-se à
mocinha, falou com ela de perto não sei o quê, ela afastou-se uns bons cinco
metros aos saltos qual cabra montês e regressou a ele. Deram as mãos e
afastaram-se pela esquerda, saindo do meu campo de visão.
Até acabar de
fazer e engolir o jantar não os voltei a ver.
Mas para a festa
para onde terão ido cumpriram os estereótipos feminino e masculino, impostos
pelos desenhos animados.
E iam felizes, ao
que me pareceu.
By me
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