Confesso que aqui
em casa tenho diversos tipos de pincéis e escovas.
Para além das de
higiene pessoal, bem como as dos sapatos e roupa, para não falar nas óbvias da
limpeza doméstica, tenha bastantes outras.
Mas de todas essas
outras, estas duas são as que uso com mais frequência.
Limpar as ópticas,
limpar tampas de objectivas, limpar as objectivas por fora, limpar os corpos
das câmaras, limpar o interior das câmaras (neste caso uso outras bem mais
especiais), são mesmo os pincéis e escovas de fotografia que mais uso.
Claro que tenho
trinchas, pincéis finos e médios, escovas de dentes de várias durezas, na caixa
da ferramenta tenho escovas de arame, manuais e rotativas… o que por aqui não
vai faltando são escovas e pincéis.
Mas aquelas pelas
quais tenho maior estima e cuidado são estes dois.
No entanto, nunca
pensei que pudesse ser identificado como uma pessoa que passa a vida ligado a
pincéis e trinchas. Nunca isso me passaria pela cabeça! Apesar disso, houve
quem tal pensasse.
Um destes dias fui
abordado no café por uma casal vizinho no prédio. Para além da saudação trivial
e das conversas parvas de elevador, nunca tínhamos falado a sério sobre o que
quer que fosse. Mas desta vez…
Desta vez, já com
o saquito de pão na mão, perguntam-me se seria pintor ou estaria relacionado
com pintura. “Não é pintura de paredes”, esclareceram eles, “É mesmo pintura de
quadros!”
E lá lhes
expliquei que, de pintura, gosto de ver as paredes limpas e os quadros nelas
pendurados, mas mais nada disso percebia.
Contaram-me então
que um seu parente havia comprado um quadro, num leilão, e que tinha a firme
convicção de que seria de um Mestre espanhol. Já o haviam posto em análise
junto de entendidos e todos eles o haviam negado. No entanto, não havia quem
lhes tirasse isso da cabeça.
E ficámos um
pedaço a falar do assunto, como se eu mesmo fosse um entendido. Acrescentaram
que as análises às tintas tinham confirmado a época, mas na ausência de
assinatura…
Sugeri-lhes que
comparassem a forma como as tintas estavam aplicadas, de que forma a luz estará
trabalhada, se os jogos de perspectiva seriam idênticos aos do Mestre… E que,
eventualmente e visto ser em muito semelhante a um outro, esse sim, desse
Mestre e que estará no Prado, tratar-se-ia de um trabalho de um dos discípulos
do Mestre, que frequentemente praticavam baseando-se nos trabalhos dele.
Lá nos separámos
no elevador, que o piso deles é mais acima. Com uns sorrisos de circunstância e
eles ainda convencidos que teriam uma obra fabulosa e desconhecida em casa.
Pergunto-me eu se,
no lugar de costumar andar com uma câmara fotográfica pendurada no ombro,
andasse com uma palete multicolorida na mão e uns pincéis a sair-me do bolso da
camisa, pensariam eles que eu fosse fotógrafo.
By me
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