terça-feira, 12 de julho de 2016

Um episódio



O episódio ocorreu há uns anitos, aqui no bairro: uma disputa sobre a legitimidade da ocupação do passeio.
O fulano achava que eu tinha que sair de onde eu estava para ele parquear a viatura, eu achava que não e fiquei irredutível na minha posição.
O homem berrava, e apitava e ia avançando o carro e eu a fazer de conta que nada era comigo, na tranquilidade do saber que os passeios são para os peões e não para os automóveis.
Vendo que sonoramente não me demovia, decidiu ele abalroar-me com a viatura, batendo-me com o pára-choques nas pernas. Teve azar. Escrito com letra grande.
Que em risco de cair desamparado em cima do carro, recorri ao pouco que sei de artes marciais e amortizei a queda com a canalização da energia da queda no braço, antebraço e mão, batendo com eles na superfície onde cairia. No caso, o capot do carro.
Saltou o seu dono do seu lugar, furioso com o sucedido, e berrando a plenos pulmões: “Você não toca no carro de um homem, ouviu! Você não toca no carro de um homem!”
Ainda tivemos uns encostos, uns “tira-teimas”, interrompida a escalada óbvia por dois agentes da PSP que tinham assistido a tudo e decidiram intervir.
Quando me afastei, depois de saber que os cívicos nada queriam de mim, ainda ouvi o fulano dizer que não possuía documentos, nem do carro nem dele mesmo.

Efectivamente, não se pode colocar em causa o carro de um homem. Nem os afectos ou as preferências futebolísticas. Tudo o mais é pouco importante, desde que não se ponha em causa a integridade da viatura ou a importância do futebol.


Azar o meu, que não tenho carta nem gosto de bola!

By me

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