terça-feira, 10 de maio de 2016

Tempo



Todos temos tempo. As vinte e quatro horas de cada dia são iguais para todos. É a forma como as usamos que as fazem parecer curtas ou compridas, abundantes ou escassas, úteis ou absurdas.
Ontem tive o tempo por minha conta.
Fui buscar um livro encomendado numa livraria (sim, livraria e não grande superfície), sentei-me numa pastelaria a deliciar o palato, abriguei-me sob um toldo a ver passar quem tem medo de um aguaceiro de fim de tarde, fiquei a observar as alterações de trânsito por causa de obras na cidade…
A Câmara Municipal de Lisboa, que empreendeu a obra que abrange um dos principais eixos viários da cidade colocou em campo uma quantidade notória de polícias municipais para ajudar à fluidez do tráfego rodoviário. E houve um deles que me prendeu a atenção.
Fazia uso do apito quase que a cada 10/15 segundos, por vezes menos. Umas vezes para acelerar os automóveis, outras para lhes alterar a trajectória para que não bloqueassem o cruzamento, outras ainda ajustando o ponto exacto onde ficavam parados… Não parava quieto no seu esbracejar, apitar, mudar de posição. Confesso que até fiquei cansado só de o ver actuar.
Mas tive vontade de lhe bater palmas. Bem alto e bem no meio do cruzamento.
Que ele garantia sempre que a zona de atravessamento de peões estava sempre desobstruída. Os carros que paravam em cima dela eram “convidados” a chegarem uns metros à frente (dois ou três, não mais) para que a passagem de peões fosse notória e larga quanto baste.
Fiquei por ali a ver a eficácia daquele cívico até que aproveitei um momento de pausa dele e aproximei-me. E perguntei-lhe, por cima do ruído dos motores, quanto tempo estava ele seguido naquele posto e função.
“Quatro horas”, respondeu-me.
“Não lhe gabo a sorte. Obrigado pelo trabalho!”, respondi-lhe afastando-me.
O sorriso que vi na cara encheu-me a alma.

Deixei-me ficar por ali mais um nico, fotografando com o telemóvel, que a de película demoraria a mostrar o que guarda, e percebi que ele tinha sido chamado para o cruzamento seguinte, deixando aquele a funcionar só com os semáforos.
Curioso, fui ver o que se passava.
De facto, o cruzamento seguinte era mais complicado, porque com mais tráfego da perpendicular à avenida. E o agente que tentava regulá-lo… benza-o deus!
Tudo se acumulava, o cruzamento obstruído, as passagens de peões bloqueadas… Não era mesmo uma questão de quantidade de tráfego mas de quem o regulava. Que o pedaço que ficou ao cuidado do recém-chegado agente ficou um brinquinho, ao invés do eixo principal.
Quando me afastei, sorri e acenei para o agente com quem falara. Que me devolveu o aceno com a cabeça, entre duas apitadelas.


Em todos os ofícios há bons e maus profissionais. Mesmo entre os agentes da Polícia Municipal.

By me

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