Todos temos tempo.
As vinte e quatro horas de cada dia são iguais para todos. É a forma como as
usamos que as fazem parecer curtas ou compridas, abundantes ou escassas, úteis ou
absurdas.
Ontem tive o tempo
por minha conta.
Fui buscar um
livro encomendado numa livraria (sim, livraria e não grande superfície), sentei-me
numa pastelaria a deliciar o palato, abriguei-me sob um toldo a ver passar quem
tem medo de um aguaceiro de fim de tarde, fiquei a observar as alterações de trânsito
por causa de obras na cidade…
A Câmara Municipal
de Lisboa, que empreendeu a obra que abrange um dos principais eixos viários da
cidade colocou em campo uma quantidade notória de polícias municipais para
ajudar à fluidez do tráfego rodoviário. E houve um deles que me prendeu a atenção.
Fazia uso do apito
quase que a cada 10/15 segundos, por vezes menos. Umas vezes para acelerar os automóveis,
outras para lhes alterar a trajectória para que não bloqueassem o cruzamento,
outras ainda ajustando o ponto exacto onde ficavam parados… Não parava quieto
no seu esbracejar, apitar, mudar de posição. Confesso que até fiquei cansado só
de o ver actuar.
Mas tive vontade
de lhe bater palmas. Bem alto e bem no meio do cruzamento.
Que ele garantia
sempre que a zona de atravessamento de peões estava sempre desobstruída. Os
carros que paravam em cima dela eram “convidados” a chegarem uns metros à
frente (dois ou três, não mais) para que a passagem de peões fosse notória e
larga quanto baste.
Fiquei por ali a
ver a eficácia daquele cívico até que aproveitei um momento de pausa dele e
aproximei-me. E perguntei-lhe, por cima do ruído dos motores, quanto tempo
estava ele seguido naquele posto e função.
“Quatro horas”,
respondeu-me.
“Não lhe gabo a
sorte. Obrigado pelo trabalho!”, respondi-lhe afastando-me.
O sorriso que vi
na cara encheu-me a alma.
Deixei-me ficar
por ali mais um nico, fotografando com o telemóvel, que a de película demoraria
a mostrar o que guarda, e percebi que ele tinha sido chamado para o cruzamento
seguinte, deixando aquele a funcionar só com os semáforos.
Curioso, fui ver o
que se passava.
De facto, o
cruzamento seguinte era mais complicado, porque com mais tráfego da perpendicular
à avenida. E o agente que tentava regulá-lo… benza-o deus!
Tudo se acumulava,
o cruzamento obstruído, as passagens de peões bloqueadas… Não era mesmo uma
questão de quantidade de tráfego mas de quem o regulava. Que o pedaço que ficou
ao cuidado do recém-chegado agente ficou um brinquinho, ao invés do eixo
principal.
Quando me afastei,
sorri e acenei para o agente com quem falara. Que me devolveu o aceno com a
cabeça, entre duas apitadelas.
Em todos os
ofícios há bons e maus profissionais. Mesmo entre os agentes da Polícia
Municipal.
By me
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