domingo, 15 de maio de 2016

Na rua do Carmo



Eu era adolescente. Entre a revolução de ’74 e o ter começado a trabalhar e a ganhar a vida.
Aconteceu, uma tarde, ter acompanhado uma equipa de televisão na feitura de um programa.
Em filme de 16mm, como se usava fazer então os “exteriores”, decorreu na baixa e versava uma florista. Não me perguntem qual o objectivo do trabalho que não me recordo, tal como já cá não está quem me possa responder.
Mas recordo eu de, no final dos trabalhos, a florista ter oferecido a cada um dos presentes uma flor. Suponho que uma rosa, mas não garanto. E recordo não ter acompanhado a equipa, que seguiu para outras andanças, ficando eu por ali, em plena rua do Carmo.
Com uma flor nas mãos. Coisa que não queria ter assim e ali.
Tentei afincadamente oferecer a flor a quem passava, mas sem sucesso. Então, tal como hoje, a desconfiança grassava e a oferta de uma flor por parte de um rapaz desconhecido, de colete manhoso e chapéu de abas largas às três pancadas, era estranha e de recusar.

Ontem estive no local por outros motivos e o episódio veio à tona. E tratei de tentar encontrar a tal florista. Ou pelo menos o local onde estaria, que uns quarenta anos já passaram, bem como um feroz incêndio nessa rua e noutras nas proximidades.
Por mais que olhasse não encontrava o local, se bem que recordasse, e muito bem, onde não aceitavam a flor.
Acabei por recorrer a memória alheia: empregados de lojas na zona que ali trabalhassem à época.
Apenas encontrei um, um joalheiro bem idoso, que não se recordava. Os outros dois locais onde entrei em que a loja tinha idade para ali estar aquando do episódio, tinham gente a trabalhar com menos tempo que casa que o necessário para recordarem: uma livraria e uma luvaria.


Um dia, mais que investigar sobre uma memória vaga, recorrerei aos arquivos municipais: registos comerciais e arquivo fotográfico.

By me 

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