Eu era
adolescente. Entre a revolução de ’74 e o ter começado a trabalhar e a ganhar a
vida.
Aconteceu, uma
tarde, ter acompanhado uma equipa de televisão na feitura de um programa.
Em filme de 16mm,
como se usava fazer então os “exteriores”, decorreu na baixa e versava uma
florista. Não me perguntem qual o objectivo do trabalho que não me recordo, tal
como já cá não está quem me possa responder.
Mas recordo eu de,
no final dos trabalhos, a florista ter oferecido a cada um dos presentes uma
flor. Suponho que uma rosa, mas não garanto. E recordo não ter acompanhado a
equipa, que seguiu para outras andanças, ficando eu por ali, em plena rua do
Carmo.
Com uma flor nas mãos.
Coisa que não queria ter assim e ali.
Tentei
afincadamente oferecer a flor a quem passava, mas sem sucesso. Então, tal como
hoje, a desconfiança grassava e a oferta de uma flor por parte de um rapaz
desconhecido, de colete manhoso e chapéu de abas largas às três pancadas, era
estranha e de recusar.
Ontem estive no
local por outros motivos e o episódio veio à tona. E tratei de tentar encontrar
a tal florista. Ou pelo menos o local onde estaria, que uns quarenta anos já
passaram, bem como um feroz incêndio nessa rua e noutras nas proximidades.
Por mais que
olhasse não encontrava o local, se bem que recordasse, e muito bem, onde não
aceitavam a flor.
Acabei por
recorrer a memória alheia: empregados de lojas na zona que ali trabalhassem à época.
Apenas encontrei
um, um joalheiro bem idoso, que não se recordava. Os outros dois locais onde
entrei em que a loja tinha idade para ali estar aquando do episódio, tinham
gente a trabalhar com menos tempo que casa que o necessário para recordarem:
uma livraria e uma luvaria.
Um dia, mais que
investigar sobre uma memória vaga, recorrerei aos arquivos municipais: registos
comerciais e arquivo fotográfico.
By me
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