Foi uma lição que
aprendi em profundidade e para o resto dos dias da vida: a credibilidade é algo
que não pode ser posta em jogo.
Foi logo no meu
primeiro ano em que trabalhei com uma turma numa escola profissional. Falávamos
de fotografia, óptica, distâncias focais. E, na época, a imagem digital era
algo para um futuro que supúnhamos mais distante do que foi na realidade.
Virando-me para a
turma, perguntei-lhes em tom de gozo: “Sabem porque a 50mm se chama de
objectiva normal?”
Não sabiam, como
eu desconfiava. E continuei no mesmo tom de gozo:
“É porque é a
objectiva que vem normalmente com a câmaras. Por isso normal.”
Ri-me da minha
piada, a rapaziada riu-se porque me viram rir, e de seguida desmontei a
graçola, explicando os quês e os porquês da objectiva normal, do ângulo de visão,
da distância focal, da diagonal do negativo… essa tralha toda.
Dias depois,
regressando ao tema em geral, usei a técnica clássica: recuar a assuntos
sabidos pelos alunos para ganhar balanço para temas desconhecidos. E perguntei
para a geral: “E porque é que a 50mm é a objectiva normal?”
Uma das alunas
(parece que estou a ver a coisa, passados que são quase 25 anos!) consultou o
seu caderno de apontamentos e disse sorridente:
“Porque é a que
vem normalmente com as câmaras.”
Fiquei sem pinga
de sangue!
Eu tinha dito
aquilo. Aquilo era citar-me, a mim, ao professor. Eu não poderia dizer que ela
estava enganada ou que tinha acabado de dizer uma besteira. Quem se havia
espalhado ao comprido fora eu, dias antes, que não diferenciara de um modo bem
claro a brincadeira da coisa séria. E ela estava a sério!
Tratei de corrigir
a aluna, passando o ónus da responsabilidade para os meus ombros e nunca a
deixando pensar que fora gozada.
E nunca mais eu
disse uma graçola deste calibre sem me assegurar que todos percebiam, e muito
bem, que era paródia!
Hoje passei por
algo de semelhante, se bem que ao contrário.
Estive num museu
recém inaugurado, que cobre a minha actividade profissional.
E o que vi de
citações erradas, de classificações incorrectas, de identificações absurdas, de
equipamentos mal montados… deixou-me com muito pouca vontade de lá voltar. Aliás,
não creio que lá volte.
Porque, do mesmo
modo que um professor não pode dizer asneiras, proferir erros, induzir os
estudantes em más práticas ou conhecimentos, também um museu não o pode fazer.
A frase “Estava escrito no museu” tem tanto ou mais peso quanto aqueloutra “Foi
o professor que disse!”
O museu? Não digo
qual é, pelo menos até perceber se as reclamações e protestos foram atendidos.
Mas mostro uma
50mm, a tal “Objectiva normal”. Exactamente aquela que mostrei aos alunos
naquele dia!
By me
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