Foi algo que
aprendi há muito tempo, nos primórdios da minha actividade profissional:
Numa orquestra os
instrumentos dividem-se em naipes: cordas, sopro e percussão. Os de sopro
dividem-se entre metais e madeiras, o de cordas entre tangidos e dedilhados. E,
claro, por instrumentos: do violino à trompa, dos tímbales ao violoncelo, das
flautas ao piano, etc, etc, etc.
Indo mais longe,
fazia parte da minha formação profissional saber identificar visualmente cada
um deles e saber em que lugar de uma orquestra cada naipe e cada instrumento se
coloca.
Indo mais longe
ainda, saber como se toca cada instrumento, mesmo não sabendo tocar, para saber
como o mostrar ou captar: como o instrumentista age, por onde sai o som, qual
ou quais os locais mais importantes na virtuosidade do músico…
Fazia tudo isto
parte da minha formação profissional, tal como fazia o saber das regras dos
diversos desportos, individuais ou colectivos, com ou sem bola, saber quem é
quem numa formação ministerial, saber o que é a “crença natural”, conhecer e
identificar diversos rituais nas celebrações religiosas, etc, etc, etc.
Dir-me-ão, por
exemplo, que é pouco importante saber que, numa missa, parte das leituras do
livro sagrado só se fazem pelo sacerdote, enquanto que a outra parte é indiferente
ser um sacerdote ou um membro da comunidade a ler para todos ouvirem.
Dir-me-ão, por
exemplo, que é pouco importante saber que nos jogos de hóquei em campo o taco só
pode tocar na bola de um lado, sendo falta se for com o lado oposto, o rombo.
Dir-me-ão, por
exemplo, que é pouco importante saber que a mão que define a nota que se ouve
num violino ou guitarra ou qualquer outro instrumento de cordas é a que se
aplica no braço e não a que dedilha ou tange as cordas.
Todos estes
conhecimentos (e tantos outros tão díspares) parecem ser inúteis à esmagadora
maioria das pessoas. Mas no meu ramo profissional é vital sabê-los, já que é
desse saber que depende a maior ou menor qualidade do produto que entregamos.
A quantidade de
coisas que hoje se não sabe nota-se na qualidade daquilo que se consome. E que
eu vejo produzir.
Mas tal como temos
o “fast food” que, e como me disse uma amiga, “dura pouco”, também hoje o meu
ramo profissional é de “consumir e deitar fora”. Rapidamente, que muito mais
para consumir vem atrás.
E o nível
qualitativo do que hoje se produz está, na esmagadora maioria das vezes, na
proporção directa da quantidade do que se produz.
Pensam muitos dos responsáveis
de produção que se o consumidor não diferencia o bom do mediano do sofrível, porque
nem tem tempo para isso, para quê investir no bom quando o sofrível se consome
da mesma forma e quantidade, sendo muito mais barato de produzir?
Os “Fast Food”,
tal como os “Fast Afectos” e os “Fast Cultura” são os cancros que irão fazer cair
esta sociedade, tal como caíram as sociedades grega, romana, chinesa e tantas
outras.
Fica a pergunta:
daqui por 500 anos, que nome darão à sociedade de hoje?
By me
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