Quem não recorda o primeiro amor? Ou o primeiro carro? Ou,
no caso de fotógrafos, a primeira câmara?
De um modo ou de outro, para além de a recordar conservei-a.
Esta.
Uma pobre coitada, com mais de meio século, que não
mereceria um segundo olhar pela sua simplicidade, mesmo na sua época. E
imaginamos (sei-o) pela sua modesta qualidade óptica. E pelo seu estado de
conservação, que levará qualquer um a perguntar porque ainda existe.
Mas, seja como for, foi a minha primeira e dessa nem
esquecemos nem desvalorizamos.
Veio parar às minhas mãos de uma forma insólita: a empresa
onde meus pais trabalhavam tinha o hábito de dar uma prendinha pelo natal aos
filhos dos funcionários. Ajustada a prenda à idade de cada um dos ofertados. E
todos os anos mudavam de prendas.
No ano em que fiz 12 anos, idade limite para se receber a
lembrança ou brinquedo, foi uma câmara destas. Esta mesmo foi a que recebi.
Nunca lhe dei a devida atenção. Se, por um lado a fotografia
era coisa particularmente cara de praticar, eu ainda não tinha descoberto o que
ela poderia ser e fazer. Creio que fiz dois rolos de 120, (doze exposições
cada) e nada mais.
Tem vindo a ser guardada em caixas ao longo dos anos, nem
sempre com os melhores cuidados de conservação. E está neste estado agora. Mas apenas
visual, que simplicidade do seu mecanismo é de durabilidade garantida. Claro
que a óptica e o visor sofrem de “cataratas”, mas também nada tenho feito para
o evitar.
Nas voltinhas que tenho dado por feiras de velharias, de
quando em vez lá vejo uma. Com tão bom aspecto que apetece traze-la para
substituir esta pobre coitada, há muito a pedir a reforma eterna.
Mas, caramba, esta foi a primeira. E por muitas e bem mais
valiosas que tenha ou venha a ter, nada nem ninguém lhe retira esse título nem
os afectos.
Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100 1:4
By me
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