domingo, 22 de junho de 2025

A primeira




Quem não recorda o primeiro amor? Ou o primeiro carro? Ou, no caso de fotógrafos, a primeira câmara?

De um modo ou de outro, para além de a recordar conservei-a. Esta.

Uma pobre coitada, com mais de meio século, que não mereceria um segundo olhar pela sua simplicidade, mesmo na sua época. E imaginamos (sei-o) pela sua modesta qualidade óptica. E pelo seu estado de conservação, que levará qualquer um a perguntar porque ainda existe.

Mas, seja como for, foi a minha primeira e dessa nem esquecemos nem desvalorizamos.

Veio parar às minhas mãos de uma forma insólita: a empresa onde meus pais trabalhavam tinha o hábito de dar uma prendinha pelo natal aos filhos dos funcionários. Ajustada a prenda à idade de cada um dos ofertados. E todos os anos mudavam de prendas.

No ano em que fiz 12 anos, idade limite para se receber a lembrança ou brinquedo, foi uma câmara destas. Esta mesmo foi a que recebi.

Nunca lhe dei a devida atenção. Se, por um lado a fotografia era coisa particularmente cara de praticar, eu ainda não tinha descoberto o que ela poderia ser e fazer. Creio que fiz dois rolos de 120, (doze exposições cada) e nada mais.

Tem vindo a ser guardada em caixas ao longo dos anos, nem sempre com os melhores cuidados de conservação. E está neste estado agora. Mas apenas visual, que simplicidade do seu mecanismo é de durabilidade garantida. Claro que a óptica e o visor sofrem de “cataratas”, mas também nada tenho feito para o evitar.

Nas voltinhas que tenho dado por feiras de velharias, de quando em vez lá vejo uma. Com tão bom aspecto que apetece traze-la para substituir esta pobre coitada, há muito a pedir a reforma eterna.

Mas, caramba, esta foi a primeira. E por muitas e bem mais valiosas que tenha ou venha a ter, nada nem ninguém lhe retira esse título nem os afectos.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100 1:4


By me

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